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 | Hugo Harada / Gazeta do Povo
| Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo

A Pedreira é apenas um enorme buraco no chão

Desde que surgiram, a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame serviram para ajudar a autoestima do curitibano. Transformaram-se em símbolo de criatividade da cidade que sabia se antecipar aos eventos e transformar o adverso em oportuno.

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Discussão pública sobre a gestão privada de bens públicos

A outorga de gestão da Ópera de Arame, Pedreira Paulo Leminski e Parque Náutico teve edital publicado, coincidentemente, um dia antes da entrada em vigência da Lei de Acesso à Informação.

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Na próxima segunda-feira, às 9 horas, serão abertos na Secretaria Municipal de Administração os envelopes da concorrência pública que deve selecionar a empresa que vai administrar a Pedreira Paulo Leminski, a Ópera de Arame e o Parque Náutico do Iguaçu pelos próximos 25 anos. O assunto tem gerado choro e ranger de dentes: de um lado, estão os que acusam a prefeitura de entregar bens públicos para a iniciativa privada, por um período excessivamente longo e sem discutir com a sociedade – o que evidenciaria a incompetência do município para gerenciar seus equipamentos, além do fracasso da sua política cultural. Do outro, estão aqueles que defendem que a concessão – prática consagrada no mundo inteiro – é a única maneira de a cidade recuperar esses espaços no curto prazo, revitalizados, com uma administração eficiente e a garantia de uma programação permanente, e ainda ganhar dinheiro com isso. Nesta edição, o G Ideias pretende ajudá-lo(a) a tirar suas próprias conclusões.

Pelo menos num aspecto todos concordam: é lamentável ver dois símbolos de Curitiba, que tanto orgulham a cidade, abandonados. Porque o tal "Parque Náutico", incluído no Edital, ainda nem existe na prática. As divergências começam na forma de encarar o problema, e ganham contornos dramáticos em ano eleitoral.

Que o diga Rafael Greca, que, além de ter sido o prefeito que herdou os dois espaços da administração Jaime Lerner, em 1993. "Temos dois palcos públicos transformados em ícones da identidade cultural de Curitiba. Por que terceirizá-los? A prefeitura alega não ter os R$ 600 mil mensais necessários para manter o Parque das Pedreiras; para uma administração que arrecada R$ 5 bilhões por ano, isso não é nada. E o edital foi quase secreto, só veio a público graças ao trabalho de ativistas nas redes sociais. Eu entrei com uma ação judicial para tentar impedir essa concorrência, para que haja uma reflexão", informou, para completar: "Na minha administração, a Pedreira e a Ópera renderam corporativamente. Elas podem gerar uma receita de até R$ 60 milhões por ano. O Curitiba Country Festival, por exemplo, que foi no Expotrade, rendeu R$ 5 milhões de lucro líquido, num único evento".

Já para Helinho Pimentel, diretor artístico e de operações do festival Lupaluna e coordenador artístico e de projetos especiais da rádio Mundo Livre FM – que no início dos anos 90 foi convidado pelo próprio Jaime Lerner para coordenar a implantação da Pedreira –, todo curitibano que deseja que a cidade volte a fazer parte do circuito dos grandes espetáculos deveria apoiar a concessão dos espaços. "Temos que torcer para que alguém se interesse pela concessão, porque a operação envolve um risco enorme, pelo aporte de capital necessário", considera. "Qual é a possibilidade de giro financeiro para o concessionário? O Parque Náutico nem entra na conta, porque não tem como explorá-lo ainda. A Pedreira só tem 24 datas por ano liberadas pela Justiça; excluindo-se janeiro e fevereiro, quando não há nenhum evento em Curitiba, e um mês no auge do inverno, sobram 18, sendo que duas são do município. Restam 16 datas por ano, cada uma rendendo em torno de R$ 50 mil de aluguel. Ou seja: ela vai render, no pau da goiaba, R$ 800 mil por ano, o que não paga o custo de manutenção e operação."

A Ópera de Arame, além de exigir um investimento de aproximadamente R$ 10 milhões, também não deve dar retorno financeiro, na opinião de Helinho: "Pode esquecer da Ópera como espaço para shows. Ela tem capacidade para 1,4 mil pessoas; no Teatro Guaíra, cabem 2.153, e no Teatro Positivo, cerca de 2,4 mil, com todo o conforto. Por qual espaço vai optar o produtor de um show da Marisa Monte, por exemplo? Resta à Ópera um ou outro espetáculo, e o aluguel para formaturas, cuja renda é muito baixa".

Para ele, a única saída é que a empresa vencedora da concorrência tenha "bala na agulha" e consiga um bom patrocínio para tocar o negócio, por intermédio de um contrato de "naming rights". "Se a licitação for cancelada, ou se ninguém se interessar, será uma perda enorme para a cultura da cidade, e vai representar no mínimo mais três anos de estagnação para a Pedreira e a Ópera. E elas vão continuar servindo apenas como cenário para fotos, manifestações e discursos políticos", resume.

Outro que defende a concessão é o arquiteto que criou o projeto da Ópera de Arame, Domingos Bongestabs, professor aposentado da UFPR, que trabalha atualmente no Instituto Jaime Lerner. "Eu acho uma pena esses espaços não estarem sendo utilizados. Sob concessão privada, eles terão de dar lucro, o que vai levar os responsáveis a ampliar ao máximo a utilização", analisa. "Nas mãos da iniciativa privada, tenho certeza de que tanto a Ópera quanto a Pedreira serão melhor aproveitadas e conservadas. Porque o gestor público, por mais bem-intencionado que seja, tem uma série de limitações, tanto de ordem econômica quanto burocrática."

Mas ele faz uma ressalva, no caso da Ópera: "Como autor do projeto, eu preciso ser ouvido e dar a autorização para qualquer alteração que venha a ser feita. É um direito que me cabe por lei", conclui.

Manifestação

Esposa do ex-prefeito Rafael Greca, a jornalista Margarita Sansone estará à frente de uma manifestação contra a concessão, um "abraço simbólico" à Pedreira Paulo Leminski e à Ópera de Arame, neste sábado, às 11 horas, no próprio Parque das Pedreiras. Na segunda-feira (4), às 9 horas, haverá um ato de repúdio à concessão em frente a Secretaria Municipal de Administração (Rua Solimões, 160).

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