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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

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Informações sobre o projeto Terrinha Cultural no www.facebook.com/terrinhacult.

  • O idealizador do Terrinha Cultural Renato Perré, na chácara em que acontece o projeto, em Bocaiúva do Sul
  • Alunos e professores da escola rural Jacob Porkote, atendida pelo projeto
  • Meninos com o figurino do espetáculo
  • Ensaio das
  • Terrinha Cultural, que existe como ONG desde 2010 mas informalmente há nove anos, atende cerca de 200 crianças anualmente
  • Crianças se divertem durante ensaio do espetáculo
  • Cavalos foram construídos pelas crianças. Cabeças dos
  • Perré dirige ensaio, que acontece em chácara da família do artista, próxima da escola
  • Trilha sonora também é executada pelas crianças. Na foto, o músico Candiê Marques, que integra o Terrinha Cultural, repassa o repertório
  • Renato Perré deu continuidade ao trabalho da mãe na região de Bocaiúva do Sul.

Partindo do centro de Bocaiúva do Sul, são mais ou menos 10 quilômetros por uma estrada de chão, cheia de curvas fechadas, até se enxergar a primeira placa que indica o caminho para o Terrinha Cultural. O projeto leva arte e cultura para crianças da Escola Rural Jacob Porkote, na cidade da Grande Curitiba, e acontece na chácara da família do artista, músico, bonequeiro e educador Renato Perré.

O trabalho, que existe informalmente há nove anos e formalmente, como ONG, desde 2010, é voluntário: Perré tira do bolso o que precisa para confeccionar os cenários, e conta com a ajuda da comunidade. Até agora, o Terrinha não conseguiu ser contemplado por nenhum edital. A prefeitura de Bocaiúva dá apoio logístico com um ônibus – sem isso, as crianças de faixa etária de 7 a 14 anos (cerca de 200 atendidas por ano), não conseguiriam chegar.

No Terrinha, a ideia é unir cultura com sustentabilidade e valorização da vida rural. Para isso, Perré leva as crianças por trilhas, apontando a rica biodiversidade local, e as integra na confecção dos cenários dos espetáculos, encenado uma vez por ano para a comunidade, sempre na primavera. A festa no barracão é simples (batizada de Festa da Biodiversão), e cada um traz seu prato de salgado ou doce para saborear após o espetáculo. Neste ano, as crianças apresentaram as Cavalhadas, com cavalos com cabeça feitas de caixa de leite.

Ensaio

Não é fácil controlar a ansiedade das crianças. Com um apito para marcar o ritmo dos tambores com a encenação, Perré precisa se dividir constantemente entre diretor de teatro e educador. É "ajeita o cavalo" para cá, "olha para ela" para cá e "silêncio", a palavra mais frequente. No meio das árvores e do canto dos passarinhos, as crianças se sentem em um imenso palco no pequeno quadrado de concreto, no centro de uma imensidão verde. Durante o ensaio, as meninas, principalmente as que interpretariam as princesas, estavam ansiosas para o grande dia – vestiriam um vestido "rodado até o pé."

Mesmo assim, ainda foi preciso lutar com a impaciência de alguns, doidos para voltar para a escola. No dia do ensaio, havia uma atração para competir com o projeto: uma cama elástica. A professora Regina Berton, que labuta para dar conta das classes multisseriadas, diz que as atividades do Terrinha ajudaram a "favorecer as ideias" das crianças, além de promover a perda da timidez. Em uma observação breve, entretanto, é difícil acreditar que o "elenco" sofra do problema.

Perré busca com o projeto algo ainda maior: promover um crescimento pessoal e de autoestima nas crianças, cuja cultura camponesa continua bastante atrelada ao trabalho. O Terrinha Cultural é, portanto, um espaço de abstração e de contato com a sensibilidade, o que é promovido pela arte. "O projeto faz com que a criança faça um contato consigo mesma, com uma sensibilidade individual", acredita.

Por meio de atitudes sutis, a intenção também é fazer com que o morador da zona rural valorize a riqueza que o permeia. "Senão, a gente vai virar uma população que sairá daqui para o consumo. Enquanto isso, o morador da cidade já está percebendo que está consumindo demais. Nessa consciência, a zona rural está atrasada."

Militância

Carioca radicado em Curitiba há 30 anos, e ex-morador de comunidade hippie, Renato Perré disseminar em Bocaiúva do Sul a semente plantada por sua mãe, a bonequeira Maria Tereza Carvalho Silva, pioneira em trabalhos com a comunidade. Ela ensinava teatro para jovens e confecção de máscaras de papel machê. Depois que Maria Tereza morreu, em 2003, Perré começou a sistematizar a ONG, e criou o projeto dois anos depois.

Além de atender a Jacob Porkote e outras escolas que volta e meia o procuram, Perré é um militante: quer instituir um conselho de cultura na cidade, o que facilitaria a vinda de recursos. Também age junto com a comunidade em problemas na escola. Recentemente, evitaram que uma professora fosse transferida de uma escola rural, situação que pioraria ainda mais o atendimento às crianças, que estudam em turmas multisseriadas, sem projeto pedagógico para tal. Perré sempre foi crítico e vê a arte como uma ferramenta de transformação. "A gente tem uma função como artista, que está disposto a melhorar esse mundo."

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