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Veja os fatores e motivações que mais influenciam na escolha de um livro |
Veja os fatores e motivações que mais influenciam na escolha de um livro| Foto:

A leitura como prioridade na vida

A média de leitura do professor e escritor Paulo Venturelli também é de 1,8 livro. Por dia. Possível leitor ideal – também aos olhos do mercado, já que comprou e leu nada menos do que 675 títulos em 2009 –, Venturelli é a exceção que possivelmente comprova a regra de que o brasileiro não lê.

Contumaz seria pouco para definir seus hábitos de leitura, que também demandaram investimentos e certo planejamento para abrigar seus 15 mil títulos – "Minha biblioteca é o único bem material que tenho", diz.

Há 13 anos, o professor do mestrado em Letras da Universidade Federal do Paraná comprou um apartamento no andar embaixo ao seu, no bairro Bacacheri, em Curitiba, e dele fez biblioteca. "Não conseguia mais andar em casa de tanto livro que tinha", diz Venturelli, também autor de 17 livros de gêneros variados.

Pelo menos 50 de seus 58 anos foram dedicados à leitura. O primeiro capítulo foi em um colégio interno em Santa Catarina. "Tive a sorte ou o azar de estudar lá. Era horrível a repressão, a rigidez, mas havia o lado da cultura. Tínhamos uma hora diária para leitura", lembra o professor, que logo também começou a escrever seus próprios textos, a princípio tentando imitar aqueles que lhe chamavam atenção.

E para um leitor que não tem vergonha em dizer que se priva da vida social para se dedicar à sua paixão maior – "até minha mu­­lher reclama", diz –, qual a causa do pouco contato com os livros no Brasil?

"O grande problema é a escola. Há uma forma arcaica de apresentar a literatura. Aí ela é vista como algo morto, como uma peça de museu", comenta o escritor, citando, por exemplo, a leitura de Machado de Assis entre adolescentes. "Alguém só pode ser iniciado em algo que tenha a ver com o seu mundo. Machado é o melhor escritor brasileiro, mas é uma leitura exigente e adulta", comenta.

Quando está em férias, Venturelli lê um livro por dia. Durante a época de trabalho, são três ou quatro por semana. As livrarias, frequenta sempre, mas também utiliza a internet para comprar seus títulos.

"Acho que não sou o leitor ideal, mas sou um bom leitor. Encarei os livros como porta de entrada para o mundo e, se pelo menos 10% da população também pensasse assim, este país seria diferente", conclui Venturelli, se preparando para descer do 203 para o 103 e engatar outra leitura. (CC)

  • Roberto Gomes: escritor pretende retomar atividades de sua editora em 2011
  • Paulo Venturelli em sua biblioteca particular de 15 mil livros. Média de leitura em 2009 foi de 1,8 livro por dia
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Se os índices de leitura demonstram que o livro no Brasil não é um grande negócio, apesar de paradoxalmente ser um produto lucrativo, no Paraná as editoras tentam cativar o leitor e aumentar a média de consumo de literatura segmentando seus títulos.

A editora Esplendor Brasil, por exemplo, "visualiza as potencialidades do mercado regional", focando seus lançamentos em obras que tratem de causas conhecidas do paranaense. "Publicamos livros sobre o Mercado Municipal de Curitiba, sobre comidas típicas e artesanato local", diz o publisher Eduardo Sganzerla. A Esplendor existe desde 2003.

Para o empresário, o mercado editorial no estado é algo a ser descoberto e decifrado. Principalmente no que tange à distribuição das obras, algo visto como uma guerra desigual. "Isso está na Idade da Pedra aqui. Há alguns tubarões que ficam com tudo e os pequenos autores com nada. Além do que, as grandes editoras só se preocupam com os best sellers e não dão oportunidades a novos escritores", critica Sganzerla, que ainda assim se considera otimista frente à atual conjuntura.

Uma alavanca necessária. É assim que Sganzerla vê a relação do governo com a venda de livros. "Uma parte do mercado depende disso, é necessário. O problema está na relação transparente do governo com a contratação do serviço" afirma. A Editora Esplendor Brasil tem atualmente 20 livros no mercado.

Já Thiago Tizzot optou por outro nicho. A editora Arte & Letra publica desde 2004 e também é conhecida por focar seus lançamentos em livros de literatura fantástica, arte e cinema. A história começou com a edição de um livro sobre a obra do inglês J.R.R. Tolkien – autor de O Senhor dos Anéis. "Um amigo tinha o material e editamos. O livro foi muito bem recebido", conta Tizzot.

Hoje são 30 títulos. "Tentamos focar, mas vão surgindo oportunidades", diz o publisher, que vê nuvens negras no céu do mercado editorial paranaense. "É difícil. O número de editoras é muito grande, o de publicações também. Aí a quantidade atrapalha porque nem tudo é de qualidade. Eu escolhi só trabalhar com livros que gosto", afirma o curitibano.

A risível média de leitura no Brasil (1,8 livro por ano) é creditada por Tizzot à falta de interesse devido às grandes ofertas de lazer. "Quem lê de verdade, lê por lazer e por prazer. Mas há muita coisa que luta contra isso, como a internet, o cinema, a televisão", explica.

O "grande" mercado brasileiro

O escritor e colunista da Gazeta do Povo Roberto Gomes é categórico ao afirmar que o maior mercado editorial brasileiro é o próprio estado, que compra uma infinidade de livros didáticos e paradidáticos anualmente. "As editoras têm de ser significativas para o estado, senão não adquirem visibilidade alguma", diz Gomes, autor de Júlia.

E o escritor fala com conhecimento de causa. Na década de 1980, tocou, em companhia do escritor Cristovão Tezza, a Criar Edições, que existiu por nove anos e publicou cerca de 90 títulos.

"Se antes os livros realmente bons ocupavam faixa importante no mercado, hoje não significam nada. Os livros de literatura atuais em sua grande maioria são de péssima qualidade, ou são traduções de segunda ou terceira ordem, de autores aqui divulgados como se fossem grandes descobertas", critica o escritor.

A solução viável, para Gomes, seria "achar um outro caminho", já que não há como concorrer tendo em vista o grande número de livros publicados atualmente, muitos deles "com o olho em Hollywood".

Pensando nisso, o autor revela que pretende retomar a Criar Edições em 2011. "No momento, estamos estudando o mercado porque não queremos livros insignificantes de autoajuda ou sobre o mundo corporativo", afirma o catarinense.

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