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Aiden Gillen (à direita), o Petyr Baelish de Game  of Thrones, no papel de Paul Serene no game “Quantum Break” | Divulgação/
Aiden Gillen (à direita), o Petyr Baelish de Game of Thrones, no papel de Paul Serene no game “Quantum Break”| Foto: Divulgação/

As tramas de videogames nem sempre têm as melhores reputações. Pode ser difícil manter uma história coerente quando você também está tentando liberar o jogador para explorar um mundo aberto ou escolher entre diferentes enredos que se ramificam.

Mas há um bom número de pessoas na indústria que está trabalhando para tornar as tramas de videogame mais parecidas com aquelas da televisão ou do cinema.

“Quantum Break”, lançado no início deste mês pela Remedy Entertainment, borra a linha entre mídias “tradicionais” e videogames ainda mais do que o usual. O jogo traz sequências em “live action” inseridas no seu transcorrer nas quais estrelam atores que interpretam os (bem realistas) personagens digitais do gameplay mais tradicional.

Por vezes pode ser difícil distinguir o que é o quê. Shawn Ashmore, um ator conhecido por interpretar Bobby Drake/Homem de Gelo nos filmes da série “X-Men”, é a âncora do elenco de “Quantum Break”, o qual também inclui Dominic Monaghan, que fez sucesso em “O Senhor dos Anéis”, e o ator Aiden Gillen, o Petyr Baelish de “Game of Thrones”.

Tecnologia exige bons atores

O diretor de criação do estúdio, Sam Lake, disse que quis procurar em Hollywood atores profissionais para o jogo porque queria usar uma tecnologia de captura de movimento com bastantes aspectos da vida real. “Quando você consegue capturar um movimento sutil do rosto do ator, você começa a precisar de atores cada vez melhores para entregarem uma boa interpretação”, explica.

Ashmore é um fã de jogos antigos da Remedy, tais como “Max Payne” e “Alan Wake”, e estava animado para trabalhar com a equipe. Ele gravou sua participação no jogo ao longo de dois anos. Inicialmente foi difícil se adaptar à parte gameplay do seu papel, porque teve de usar um capacete com câmera. Isso significa que havia duas câmeras, quatro luzes e dois microfones voltados para o seu rosto para capturar sua interpretação.

Mas Ashmore se ajustou com o tempo, em parte talvez graças à sua experiência nos filmes da série “X-Men”.

“Acredito que em alguma medida ter interpretado Bobby Drake nos filmes da série ‘X-Men’ e ter me envolvido com filmes centrados em efeitos especiais me ajudou a imaginar como tudo ia parecer depois de pronto”, disse Ashmore. “Ao fazer captura de movimento, você realmente tem de confiar nos cineastas e roteiristas porque estão faltando vários elementos.”

Imagem do jogo “Quantum Break”: Dominic MonaghanDivulgação

Forte e calado

Mesmo atuando para um filme pesado em efeitos especiais, Ashmore disse que ele ao menos estaria vestindo o figurino e em um set físico, com efeitos práticos. Gravando para um filme, ele tinha de imaginar como deveria parecer o mundo ao seu redor com base em desenhos da equipe da Remedy. Quanto à atuação em si, contudo, Ashmore disse que não houve muita diferença.

“Não abordei Jack Joyce de uma posição diferente daquela a partir da qual abordaria um personagem de televisão ou cinema”, ele disse. “Queria criar uma história de fundo para Jack. Queria que ele fosse um personagem autêntico e que a atuação tivesse uma base sólida, então eu não abordei a preparação ou a interpretação em si a partir de um ângulo diferente.”

Contudo, ele levou em consideração o fato de que seria o avatar para muitos jogadores que o controlarão enquanto protagonista. Protagonistas de jogos são frequentemente tipos fortes e calados, para que os jogados possam projetar suas próprias personalidades sobre eles; o elenco de estrelas de “Quantum Break” obviamente exige algo diferente.

“Isso não afetou a minha atuação necessariamente”, disse Ashmore. “Mas eu realmente pensei sobre como fazer de Jack um personagem acessível e com quem seja possível se identificar até certa medida, para que o jogador quisesse passar tempo com esse personagem.”

Lake disse que não ficou preocupado sobre a possibilidade de um personagem com uma personalidade forte e um rosto reconhecível impedir jogadores de se identificarem com Jack Joyce.

“Nossa abordagem sempre foi preferir construir um personagem principal forte, como você espera que toda história faça para entreter”, ele disse. “O que é importante é garantir que o jogador queira entrar nessa jornada com esse personagem e queira ajudá-lo a alcançar seus objetivos.”

Experiência única

E, Lake argumenta, a forma de contar a história que você consegue ter em um jogo pode ser mais profunda do que o que você consegue realizar em um filme ou programa de televisão tradicionais. Por exemplo, você pode selecionar o ângulo da câmera, de forma que pode literalmente mudar o ponto de vista de uma cena para ver a reação do protagonista a uma revelação chocante. Jogos também têm o luxo de ter tempo para aprofundar uma cena. Enquanto um email ou um livro podem ser um ponto crucial da trama, por exemplo, receberia apenas poucos momentos na tela. Em um jogo, jogadores podem investigar o livro, seguir a cadeia de emails, talvez até mesmo bisbilhotar a caixa de entrada.

“Isso te dá uma experiência bem diferente”, disse Lake. “É interativo porque há uma iniciativa do jogador que pode escolher entre ignorar uma parte do conteúdo ou investigar mais a fundo.”

Lake está convencido de que projetos como o seu mostram que filmes e jogos estão se aproximando cada vez mais.

“Estamos cada vez mais atraindo pessoas da indústria do cinema para trabalhar com jogos e elas ficam entusiasmadas com as oportunidades de contar a história de diferentes maneiras que os jogos oferecem, de um ponto de vista dos efeitos especiais”, ele disse. “Há pessoas que trabalharam em filmes como ‘Gravidade’ – eles participaram das cenas que levaram o Oscar – e agora elas estão trabalhando no nosso estúdio com ‘Quantum Break’.”

Tendência

Será que estrear nos jogos mais recentes dá um brilho ao currículo de um ator? Não há dúvida de que atores de Hollywood parecem estar invadindo o mundo dos videogames, incluindo Kevin Spacey, Angela Bassett e Kiefer Sutherland.

Ashmore disse que ele não está seguro de que jogos venham atingir em breve o nível de um programa de TV ou um filme em termos de prestígio. Mas, falando por si mesmo, ele faria um novo jogo sem hesitar se o projeto fosse bom.

“Sinto que se atores estiverem buscando contar histórias, e não forem criteriosos a respeito da plataforma em que o fazem, jogos podem se tornar incrivelmente populares para atores”, ele disse. “E, agora que o fiz, vejo que a atuação é tão recompensadora quanto aquela na televisão ou no cinema, então acho que pode se tornar uma tendência.”

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