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Sala da Cinemateca, localizada no Museu Municipal da Cidade: projetor de 1953 foi restaurado | Antônio Costa/Gazeta do Povo
Sala da Cinemateca, localizada no Museu Municipal da Cidade: projetor de 1953 foi restaurado| Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo

Ligação direta entre passado e presente

Na Rua XV de Novembro número 1.660, centro de São José dos Pinhais, funciona o Museu Municipal Atílio Rocco. Ao fundo de uma sala ampla, decorada por cartazes de filmes antigos, vemos um objeto pequeno, em uma redoma de vidro. É um projetor suíço de 1930, em exposição. Ao lado, um objeto robusto e imponente que aponta para uma tela branca. Trata-se de um projetor de cinema fabricado em 1953, o mesmo utilizado pelo Supercine Ideal há quatro décadas. Graças a ele, desde outubro de 2007 a Cinemateca de São José dos Pinhais, projetada pela Secretaria Municipal de Cultura, proporciona a mesma sensação que Ernani Zétola, Leopoldo Scherner e milhares de habitantes da cidade tiveram ao assistirem a um filme pela primeira vez.

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Cronologia

Do cinema mudo de 1910 às modernas salas da rede Cinemark.

1910 – Tem-se a notícia da primeira exibição cinematográfica realizada em São José dos Pinhais. Nhonhô de Paula e os irmãos Espínola construíram uma pequena sala de projeções.

Década de 1920 – O empresário Alcídio Viana constrói outra sala. A propriedade passa para as mãos de José Zaniolo, que a amplia e moderniza: é o primeiro Cine Ideal.

1941 – É construído o Cine Império, primeiro cinema "falado" da cidade.

1953 – O então marceneiro Daniel Précoma compra a propriedade.

1968 – A família Précoma inicia a construção do novo cinema.

1979 – É inaugurado o Supercine Ideal, mais nova atração de São José dos Pinhais.

1993 – Já em posse de outro empresário, o cinema fecha suas portas em definitivo.

2007 – É inaugurada a Cinemateca de São José dos Pinhais, anexa ao Museu Municipal Atílio Rocco.

2008 – São inauguradas cinco salas de cinema da rede Cinemark, com capacidade total para 987 lugares.

  • Fachada do antigo Cine Ideal, possivelmente na década de 1940. Abaixo, convite para a inauguração do Supercine Ideal
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Dirceu Précoma diz que nasceu dentro do cinema. Em seus 57 anos de vida, um dos três filhos de Daniel Précoma – que arrendou o Cine Ideal em 1949 –, já foi montador de fita, lanterninha e viveu as boas e más fases dos cinemas de São José dos Pinhais. Estar atento aos projetores era uma de suas atividades quando criança.

"Antes eram dois projetores. Em determinada parte do filme, aparecia um riscão na tela. Aquilo não era erro, era sinal pra passar para o outro projetor. Mas às vezes a gente errava e o pessoal batia o pé. Isso quando não arrebentava tudo e branqueava de vez a tela", contou Précoma, hoje advogado.

Além do operador, o Ideal tinha mais três funcionários: o bilheteiro, o porteiro e o famoso lanterninha, muitas vezes interpretado por Dirceu ou seus irmãos. E, quando tinham uma folga, era para a tela que dispensavam atenção. "Lembro de O Último Pôr-do-Sol (1961), Ben-Hur (1959) e Os Dez Mandamentos (1956). Como eles fizeram para abrir o Mar Vermelho?", perguntou Précoma, ainda surpreendido com os "efeitos especiais" da obra.

Anos depois, o pai de Dirceu travou uma luta contra a pequena burguesia da cidade. O velho Précoma dizia que o cinema foi feito para o povo e não admitia lugares vazios enquanto outros faziam fila para entrar. "Meu pai arrumou uma briga política com as famílias tradicionais. Eles não iam ao cinema, mas queriam ter o seu lugar ali. Ele não teve dúvida. Meteu a marreta e destruiu os camarotes", disse.

Depois de garantir mais lugares na sala, estratégias para aumentar as vendas. Havia a "sessão gentileza": mulher que fosse ao cinema no domingo, ganhava um convite para as quintas-feiras. E também a "sessão operário", às sextas: ingressos pela metade do preço.

A receita funcionou e a construção do Supercine Ideal foi iniciada no final da década de 1960. Em 1979, na Praça 8 de Janeiro, um cinema novinho era inaugurado. "Mudamos para uma coisa mais moderna. Compramos poltronas novas, com encostos altos. O lugar era todo acarpetado e a capacidade ficou em 420 lugares. Tinha 480m2 de área, era menor do que o cinema antigo, mas muito confortável", explicou Précoma, lembrando também do acidente que ambos tiveram durante a construção da obra. Pai e filho caíram de um andaime de alguns metros de altura.

Crise

Nas décadas seguintes à inauguração do novo cinema, um salto de tecnologia e novas demandas mexeram com o negócio dos Précoma. O videocassete surgia como novidade, dividindo atenções com as grandes telas. As ligações com Curitiba eram facilitadas, e os cinemas dos shoppings recém-inaugurados atraiam boa parte da juventude de São José dos Pinhais.

"Quase não tínhamos rendimento. O cinema aberto estava morrendo, não compensava mais", lembrou Précoma. O espaço foi arrendado em 1986 por Alfredo Prim e Zito Alves Cavalcanti. Em 1993, o fim definitivo. "Hoje não há mais espaço para aquele tipo de cinema. As pessoas querem estacionamentos, lojas, comida. As coisas mudaram e o cinema teve que mudar junto", completou. No antigo terreno da Praça 8 de Janeiro, hoje uma igreja evangélica faz uso das "modernas" poltronas reclináveis.

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