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Se alguém me disser de novo que gente não tem jeito, direi o seguinte.

Sempre haverá alguém dizendo "fique com o troco", e alguém dizendo "Deus lhe pague".

Sempre haverá alguém cedendo lugar, e alguém agradecendo com o coração no olhar.

Sempre haverá alguém segurando a porta para alguém no caixa automático, como se isso fosse um gesto automático, mas não, é um gesto humano.

Sempre haverá alguém interrompendo o trânsito num atropelamento, e alguém chamando rapidinho a ambulância, e alguém segurando a mão do atropelado, por saber que é a melhor coisa a fazer até chegar a ambulância.

Sempre haverá alguém agachando para falar com criança.

Sempre haverá alguém ouvindo idosos com paciência.

Sempre haverá alguém reclamando do buraco na rua, do roubo no orçamento, da fila no hospital, sabendo que é humanamente impossível consertar tudo, mas que é humanamente indispensável que pelo menos alguém reclame.

Sempre haverá alguém chorando nos cinemas.

Sempre haverá alguém a trabalhar cantando.

Sempre haverá alguém deixando o jornal, depois de ler, arrumadinho no banco da praça para mais alguém ler.

Sempre haverá alguém contando histórias para crianças.

Sempre haverá alguém se apaixonando por alguém.

Sempre haverá alguém fazendo seu trabalho da melhor maneira, não porque alguém está vigiando ou porque ganhará mais; mas só porque o destino humano é melhorar.

Sempre haverá alguém sorrindo ao ver mãe amamentar.

Sempre haverá alguém deixando o último pedaço do pastel para o cachorro de rua.

Sempre haverá alguém que lembra em que vereador votou, e que lhe manda e-mails e telefonemas a cobrar decência.

Sempre haverá alguém que toma a iniciativa de lavar a louça da refeição coletiva.

Sempre haverá alguém recolhendo o lixo do piquenique.

Sempre haverá alguém que pergunta o seu nome antes de te pedir informação, e depois agradece dizendo "obrigado, Fulano".

Sempre haverá alguém que, mesmo com pressa, arranja tempo para te ensinar o endereço procurado.

Sempre haverá alguém deixando a multidão entrar para entrar por último.

Sempre haverá alguém levando agasalhos a asilos e orfanatos, doando sangue nos hospitais públicos, ensinando crianças a conversar em vez de disputar.

Sempre haverá alguém oferecendo o último bombom, ou até mesmo o único.

Sempre haverá alguém sonhando e trabalhando para o sonho acontecer.

Sempre haverá alguém cantando canções de ninar, rezando pelos outros, elogiando alguém ou torcendo por alguém.

Sempre haverá alguém lavando janelas nos prédios mais sujos.

Sempre haverá alguém acendendo velas nas escuridões.

Sempre haverá alguém tentando o impossível, não porque acredite ser possível, mas por sentir que, quanto mais difícil, mais é gostoso lutar.

Sempre haverá alguém com exemplos em vez de discursos.

Sempre haverá alguém que, com seu simples gesto, vai tecendo a maior das bandeiras, tão invisível e tão imensa, a esperança, gostosura maior da gente.

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