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Para Verissimo, dá para comer pipoca, “mas discretamente”. | Renee Comet (National Cancer Institute)/Creative Commons
Para Verissimo, dá para comer pipoca, “mas discretamente”.| Foto: Renee Comet (National Cancer Institute)/Creative Commons

Quanto maior o
apelo de público do filme, mais problemas com comportamento
e mais sujeira.

Carlos Schmidt, dono de cinema.

Um manual de bom comportamento no cinema só precisa ter um mandamento: deixe para conversar em casa!

Luis Fernando Verissimo, escritor.

Lanterninha

Nas salas dos shoppings, um problema recorrente é o de quem se senta no lugar marcado que não é seu. Às vezes, o impasse é resolvido com conversa, mas em outras a esperteza termina em confusão.

Cidadão atende o celular e repassa, aos gritos, números de agência e conta do banco para seu interlocutor efetuar um depósito. Conversa encerrada, afunda-se na poltrona, e a exibição do filme segue adiante. Exemplos de falta de educação como esse – exemplo verídico – testam a paciência daqueles que ainda acreditam que a prazerosa experiência de imersão coletiva diante da tela grande deva transcorrer dentro das regras elementares de civilidade.

Em uma crônica recente, o escritor e cinéfilo Luis Fernando Verissimo narrou, como o desabafo de um espectador a seu analista, o martírio provocado por conversas em tom elevado, barulho de pipocas e balas e luz do smartphone refletida na cara: “É paranoia? É alucinação? É um complô para me convencer de que eu sou um desajustado na vida moderna? Que os bárbaros venceram?”, diz Verissimo.

Ele diz que sua coluna “foi baseada em repetidas experiências próprias”: “Acontece tanto que a gente acaba se sentindo perseguido. As pessoas estão, decididamente, falando mais, em geral e nos cinemas. E agora tem a praga dos celulares. Não há mensagem num celular que não possa esperar para ser lida no fim do filme, salvo notícia de morte ou nascimento na família”.

O manual de convivência na sala escura acompanha a própria evolução do cinema. Já nos primeiros anos do século 20, recomendava-se que damas e cavalheiros retirassem chapelões e cartolas e não fizessem uso de piteiras e charutos para não atrapalhar a visão alheia. Hoje, as grandes redes exibidoras têm como padrão exibir curtas-metragens orientando o desligamento de celulares e pedindo silêncio, normas que, como mostra a enquete promovida pelo jornal Zero Hora em sua página no Facebook, nem todos acatam.

“Não tem coisa mais desagradável do que gente levantando a toda hora, comendo pipoca, abrindo sacos de salgadinho, comentando o filme durante a exibição. Dá vontade de xingar, mas vai aumentar a confusão”, relatou a leitora Marli Silvino.

Há mais de 30 anos exibindo filmes em Porto Alegre, Carlos Schmidt, proprietário do Guion Cinemas, em Porto Alegre, diz que a falta de educação de certos espectadores é cada vez mais perceptível.

“Quanto maior o apelo de público do filme, mais problemas com comportamento e mais sujeira”, diz Schmidt. “O celular está fora de controle. Parece que todo mundo é correspondente internacional lidando com notícias urgentes. Em uma sessão, um casal discutia sobre alguma informação referente ao filme, e a mulher foi para o telefone checar a dúvida”.

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