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Para o jornalista Mike Watkinson, grande mérito do livro é mostrar que “Syd Barrett era muito mais do que apenas um cara que fritou o cérebro com ácido” | Divulgação
Para o jornalista Mike Watkinson, grande mérito do livro é mostrar que “Syd Barrett era muito mais do que apenas um cara que fritou o cérebro com ácido”| Foto: Divulgação

Biografia

Crazy Diamond – Syd Barrett e o Surgimento do Pink Floyd

Mike Watkinson e Pete Anderson. Tradução de Maira Contrucci Jamel. Sonora Editora, 228 págs., R$ 27,90

O lado escuro da lua não era tão escuro quanto a própria história do Pink Floyd antes de se tornar uma das maiores bandas de rock da História. A persegui-los todo o tempo, está lá a sombra de Syd Barrett (1946-2006), vocalista, guitarrista e compositor principal em seu primeiro álbum, The Piper at the Gates of Dawn (1967), talvez o grande clássico da psicodelia inglesa. Por seu comportamento imprevisível, creditado ao abusivo consumo de LSD, Syd foi afastado do grupo em 1968, gravou dois obscuros discos solo (The Madcap Laughs e Barrett, ambos de 1970) e, cada vez mais assolado por problemas mentais, trocou a música por uma vida reclusa.

Foi essa história que os jornalistas ingleses Mike Watkinson e Pete Anderson começaram a investigar em 1985 e que, seis anos depois, se tornaria a primeira biografia publicada sobre Syd. Após 22 anos, Crazy Diamond enfim sai no Brasil, pela Sonora Editora, traduzido de uma edição atualizada quando da morte do músico.

Saga

Hoje editor do South Wales Guardian ("jornal onde comecei minha carreira, em 1978"), Watkinson conta por e-mail a saga do livro, que tirou seu título de "Shine on You Crazy Diamond", música que o Floyd lançou em 1975, em homenagem a Syd.

"Pete e eu nos conhecemos em 1983, e logo esbarramos num pequeno artigo de jornal sobre um ex-astro do rock que vivia no sótão da casa de sua mãe, em Cambridge, e que certa vez pintou de verde a geladeira. Aquilo nos deixou muito intrigados", diz o jornalista que pouco sabia sobre Pink Floyd. "Lembro-me de ter pegado os discos deles com Pete e de ter ficado encantado com as músicas de Syd. Logo depois de ter aprendido a tocar guitarra, ele se tornou um músico radicalmente original. Syd Barrett não copiou ninguém, ele fez a sua própria trilha."

Mas Watkinson não tinha ideia de que estava diante do "pior personagem do rock para se biografar". "Até aquele momento, havia muito pouco material publicado sobre ele. Exceto por um ou dois artigos, ninguém tinha tentado revelar o homem por trás da lenda, descobrir o que aconteceu com ele. Syd ainda era reverenciado por uma geração de fãs atraída por sua lenda, e algumas bandas punks o admiravam. Mas, para a maioria das pessoas, ele era essa figura bizarra, esse louco que tinha ficado para trás."

O primeiro passo, conta o autor, foi conquistar a confiança de Rosemary, irmã e grande protetora de um Syd cada vez mais avesso ao convívio social. "Barrett não estava recebendo muitos royalties, e ela achou que contar a sua história de vida poderia ajudar a mudar isso. Seu instinto se revelou certo, porque depois, quando conhecemos Dave Gilmour [guitarrista do Pink Floyd] e explicamos a situação de Syd, ele prometeu analisar a questão. A partir daí, o fluxo de cheques com direitos autorais voltou a ser estável."

A notoriedade que o livro daria a Syd, porém, oferecia um risco: o de aumentar o assédio de fãs a um homem com problemas mentais que havia apagado o passado de estrela do rock de sua mente. "Decidimos mostrar no livro o porquê de ele querer ser deixado em paz, na esperança de que as pessoas não fossem mais atrás dele. Se conseguimos, não sei", admite Watkinson.

Syd Barrett morreu de câncer pancreático poucos meses após completar 60 anos. Apenas a família participou da cerimônia fúnebre. Nenhuma música sua ou do Pink Floyd foi tocada. Um fim discreto, como foi toda a segunda metade de sua vida. A influência de Syd, no entanto, perdurou ruidosa, pairando sobre qualquer artista que professasse fazer algo parecido com "rock espacial" ou "folk psicodélico".

"O MGMT é um bom exemplo de uma banda contemporânea que claramente se inspirou nele. Mas sempre que ouço um artista britânico cantando com um sotaque claramente inglês, seja ele Eliza Doolittle, Damon Albarn, David Bowie ou os Kaiser Chiefs, eu acho que você pode ligá-lo diretamente a Syd", acredita Watkinson, para quem o grande feito do livro é ter mostrado que "Syd Barrett era muito mais do que apenas um cara que fritou o cérebro com ácido". "Tanto o Pink Floyd quanto o rock inglês devem muito a ele."

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