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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A moda de caçar pokemons na rua tem sido ruim para os negócios do Homem-Aranha. “Acho que as pessoas estão meio loucas. Caiu em 50% o número de fotos comigo, mas sei que é coisa passageira”, diz o ator e diretor de cinema e teatro João Mário Alves Santana, o Jota Eme.

Na tarde da última terça-feira (09), ele usou sua roupa do personagem da Marvel - que interpreta na rua XV de Novembro, no centro, desde 2009 - para animar um aniversário numa creche da cidade.

“As crianças ficam loucas, não querem que eu vá embora. Eu, que sempre fui fã do Batman, não sabia a força deste personagem.”

Em novembro, Jota Eme completa três décadas da carreira iniciada no curso profissionalizante de formação de atores do Colégio Estadual do Paraná, em 1986. Desde então foram mais de 50 peças e 30 filmes, como ator e diretor.

A próxima será um monólogo, “O Paraguaio do Universo”, com textos do poeta Edson de Vulcanis. Depois a ideia é dar um tempo. “Produzir teatro é possível. O difícil é levar o povo pra ver. Você precisa pegar o cara em casa e depois levar de volta e ainda pagar o táxi”.

Aranha Marrom

Por hora, Jota Eme se dedica ao personagem que criou para o cinema com a parceira de produções Regina Celi. O “Aranha Marrom” é um super-herói curitibano que enfrenta vilões como o “Pinhão Verde” e o “Grimpa”.

Mas, admite, o teatro é seu fraco , “uma força que vem de dentro”. “Se eu não faço eu fico meio louco, agoniado. Me sinto mal, meio abandonado”.

Foi esta força que o fez sair de casa e cair no mundo. Nascido em Apucarana, norte do Paraná, veio para Curitiba com a mãe, morar na casa de uma tia.

Ambas vislumbravam para ele um futuro como torneiro mecânico na Rede Ferroviária. O adolescente, fã de Elvis Presley e Roberto Carlos, estava menos interessado em ferramentas e mais em artes. Decidiu ser ator.

Vampiro

“Um domingo de ensaio, passaram um cadeado na janela para eu não sair. Eu arrebentei a janela e vazei. De certa forma, nunca mais voltei. E estou aqui. Vivo. E fazendo um monte de coisas”.

No teatro, já fez de tudo. “Fui maquinista, sonoplasta, diretor de arte, ator e diretor”. Em uma das montagens de “O Vampiro e A Polaquinha”, peça baseada nos textos de Dalton Trevisan, começou como contrarregra e terminou como Nelsinho, o vampiro protagonista.

Ele destaca dois momentos de sua carreira nos palcos. Um foi a temporada de “Oh... Que Horror de Família””, a comédia criada pelo hoje secretário estadual de Cultura, João Luiz Fiani, que ficou dois anos em cartaz, na sessão da meia noite no meio dos anos 1990.

Cemitério

O outro foi quando se juntou grupo teatral Cemitério de Automóveis, em Londrina, no final dos anos 1980. O dramaturgo Mário Bortolotto, fundador do grupo, lembra como o conheceu e não se impressionou à primeira vista.

“Eu estava bebendo e jogando bilhar e alguém me apresentou ele. Ele estava com um colete preto, bem janota, limpinho, cabelo penteado. Nesse dia, a gente não falou muito. Mas logo vi que ele era um cara engraçado, muito talentoso e muito cara de pau. Eu o convidei pra trabalhar na peça “Inimigos de Classe” e ele arrebentou, e daí pra frente foram várias histórias.”

Bortolotto lembra de “tempos divertidos”, de aventuras e muitos perrengues. Jota Eme lembra da mesma coisa. “Morava numa república com os caras da banda Farenheit 451. Sobrevivia fazendo mímica na rua. A água e a luz viviam cortadas. Um dia só deu para comprar um litro de leite e umas bananas. Tive que emprestar uma tomada do vizinho para bater uma vitamina num liquidificador velho”.

Cinema

Na volta a Curitiba, o caminho que se abriu foi o do cinema. Ganhou prêmios como ator de filmes importantes como “O Traste”, de Nivaldo Lopes, no qual interpreta o poeta Marcos Prado, e “Cachorro, Não Chichorro”, dos irmãos Arnoldo e Paulo Friebe, no qual fez o papel do jornalista e cartunista Alceu Chichorro Jr.

“Como ator o Jota Eme não é um “fingidor”... Por bem ou por mal, as interpretações dele em meus filmes têm um completa identificação com os interpretados”, diz Lopes.

Jota Eme passou para trás das câmeras em 2004. Em seis anos, dirigiu sozinho ou em parceria uma série de seis curtas, como “O dia em que morreu Roberto Carlos” ou “O Argentino Que Derreteu a Jules Rimet” sempre usando “a moeda corrente da amizade”. “Se fosse possível, eu acordaria todo dia e faria um filme novo. E quem disse que não pode ser?”

No cinema, também usou seu talento para se virar para se tornar um requisitado diretor de arte.

“Ele é inventivo, consegue criar muito, com pouco. Desenha bem e tem grande intuição para criar cenografias”, afirma Geraldo Pioli, que trabalhou com Jota Eme no premiado curta “Aldeia”. Para Jota Eme, fazer cenografia é “um barato”.

“O ator que só decora o texto, entra em cena, faz sua parte e vai embora é uma coisa. O ator que se envolve na produção e com o espaço tem muito mais prazer em trabalhar”.

Homem- Aranha

Fazendo arte na rua, como Homem Aranha , sua cenografia é a cidade inteira. O personagem surgiu da necessidade. A roupa tinha ficado de herança de um espetáculo infantil.

“Ninguém estava me chamando pra trabalhar. Tinha a roupa e decidi fazer um teste. Fui para a XV e fiquei interagindo com as pessoas. Em um dia ganhei 36 reais e pensei: ‘opa, tem algo aí’”

Pai de quatro filhos adultos “e encaminhados”, Jota Eme sobrevive do seu trabalho na rua há sete anos; chova ou faça frio.

“Tenho orgulho do meu trabalho. Se já fui mais feliz, é por que a gente vai perdendo amigos e o coração vira uma casca grossa. Mas sou otimista. Ainda não fiz tudo que queria fazer. O segredo é não perder tempo com bobagens e tentar ser feliz, nem que seja de vez em quando”.

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