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“Tudo se transforma o tempo todo no mundo. A única certeza é a mudança”, diz Carlos Daitschman, com  um objeto reciclado nas mãos, na frente de um armário feito a partir de reaproveitamento de imbuias | Marcio Renato dos Santos/Gazeta do Povo
“Tudo se transforma o tempo todo no mundo. A única certeza é a mudança”, diz Carlos Daitschman, com um objeto reciclado nas mãos, na frente de um armário feito a partir de reaproveitamento de imbuias| Foto: Marcio Renato dos Santos/Gazeta do Povo

A história do contador - Saiba mais sobre Carlos Daitschman

Simbologia

Carlos Daitschman nasceu em um dia 21 de setembro, data que se comemora o Dia da Árvore, um dia antes do início da primavera. Aos 54 anos, ele analisa que a data não é mero acaso. "Gosto da natureza e o que faço dialoga com a ideia de florescimento", afirma.

Cachê

Daitschman cobra R$ 1,2 mil por uma sessão de contação, de 10 a 50 minutos, no máximo. Dia desses, foi solicitado para fazer uma apresentação em um hotel fazenda nas imediações de Campinas. Onze horas depois, incluindo o translado aéreo, estava novamente na cozinha de sua casa, comendo tâmaras e sorvendo café.

Hábito que o faz ser quem é

O que ele mais gosta de fazer, para se reinventar, é dançar, em todo local, em qualquer ocasião. "Faz bem para a alma", diz.

Carroll

No fim da década de 1980, Daitschman participou da montagem Do Outro Lado da Paixão, dirigida por Marcelo Marchioro. No palco, o atual contador de histórias interpretou Lewis Carroll (a peça tratava da trajetória do autor de Alice).

Carlos Daitschman pede, em um café do Batel, uma salada de frutas, e sorri. Defini-lo como uma metamorfose ambulante seria redundância. Afinal, tudo e todos se modificam, ininterruptamente. Ele sabe disso e, antes de pedir um café, comenta que tsunâmis, erupções em vulcões e tremores de terra recentes fazem parte de um mesmo movimento que, entre outras conjunções, coincide com a publicação da série Diários Secretos, da Gazeta do Povo e da RPCTV.

2010 é tempo de expurgo. Assim pensa, a respeito do presente, Daitschman. Aos 54 anos, ele é conhecido por ser um contador de histórias que viaja pelo Brasil, e pelo mundo, incendiando o imaginário de crianças a octogenários.

Toda semana, tem o compromisso de invadir as unidades curitibanas da editora Aymará com a finalidade de desestabilizar a rotina dos funcionários. Nessas incursões, realiza o que vem fazendo desde 1995: conta histórias. Principalmente, enredos da cultura oral, de Cusco a Xangai, abrindo espaço para o que possa incluir arco-íris, lendas de além-mar, curupira e boitatá.

Até mais verde

Trinta passos separam a porta de sua casa do portão, em uma rua do Batel. É, sem exagero, um corredor da diversidade. Araçá, violeta, morangos selvagens, hortelã, arruda e mais. Ele conhece e gosta da flora. Já foi vegetariano. Hoje, permite-se ingerir maminhas, chuletas e até costela bovina. Fala a respeito enquanto abre um dos bolsos da blusa, onde guarda duas carteiras de cigarro: uma de filtros brancos, a outra, de filtros amarelos.

Acende um, de filtro branco, e diz que o incidente da Pracinha do Batel ainda provoca turbulência. Na madrugada do dia 19 de junho de 2007, foi agredido por três homens. Daitschman protestava contra as obras que iriam modificar, como de fato modificaram, a Pracinha e chegou a ser preso. O fato ganhou espaço nos jornais. As lesões, mais do que físicas, provocaram sequelas psicológicas. Até hoje ele tem pesadelos.

O cigarro acaba, ele vira o rosto, e parece que virou a página do incidente que ainda não cicatrizou. Abre um sorriso e mostra por que é virginiano. Lava detalhada e meticulosamente a louça, como se todo o futuro dependesse daquele ato – é um perfeccionista, característica do seu signo.

Enquanto a água ferve, anuncia que, antes do ano acabar, ele estará em cartaz em uma peça que provocará até mais tremor de terra do que a tentativa de intimidação que sofreu de um trio de trogloditas. Não revela ainda o nome do projeto, fala apenas que será uma montagem que tratará de como é construída a percepção da realidade.

A reinvenção do menino

Nos dias de outono, ele grava os áudios que estarão presentes, por meio de CDs, em dois livros que prepara para lançar nos próximos meses. Mas, confessa, o seu interesse está pulverizado.

Daitschman quer, antes de qualquer outra urgência, recuperar o menino que existe dentro dele. O artista quando menino gostava mesmo era de aproveitar o que a rua e o acaso colocavam em seu caminho.

Noite dessas, em meio a um vento gelado, encontrou duas molas, cada uma de 30 centímetros, em meio a escombros. O que iria para o ferro velho se tornará base para uma mesa. Um guarda-roupa do qual uma amiga mineira iria fazer lenha, pelas mãos de Daitschman encontrará outro destino.

Ele acende outro cigarro e diz, com alívio, que não se sente obrigado a ler tudo o que está nas prateleiras das livrarias. Graças ao francês Daniel Pennac, autor de Como um Romance, que escreveu a respeito dos direitos dos leitores, ele conquistou o direito a abandonar todo e qualquer livro quando sentir que o batuque do outro lado do muro é mais sedutor.

Há mais de quatro décadas, tentou superar o que chamam de timidez, mergulhando em páginas e mais páginas de livros. Subiu em diversos palcos, sob a direção de Marcelo Marchioro, Antônio Carlos Kraide e outros, mas o sangue falou mais alto. Ele continua a ser o que sempre foi e o define: um tímido.

Daitschman não sabe o que o amanhã dirá, mas seja o que for, ele pretende seguir, um dia após o outro. Já fez de muitos limões, limonadas. Tudo, afinal, pode virar experiência de vida. Ou mais uma história para ser contada, com a pronúncia exata e o tom de voz grave e hipnotizadores, marcas registradas desse curioso, diferente e interessante curitibano.

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