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O elenco de 3%: presos em diálogos e em um roteiro ruins | Pedro Saad/Netflix/Divulgação
O elenco de 3%: presos em diálogos e em um roteiro ruins| Foto: Pedro Saad/Netflix/Divulgação

Eu ainda me lembro da sensação depois de ver aqueles nove minutos do piloto de ‘3%’ no YouTube (Confira o piloto aqui). O ano era 2011 e fiquei sabendo da existência da websérie por meio de algum blog de tecnologia. Foi admiração à primeira vista. Um bando de moleques da escola de comunicação da USP fazendo ficção científica de ponta, do nível de ‘Jogos Vorazes’ — e ainda depois viria na esteira ‘Divergente’.

Aquilo “PRECISAVA” estar na TV. Não fui o único que pensei nisso. Foram feitas petições e o burburinho foi tão intenso que realmente uma hora os chefões da Netflix nos Estados Unidos tomaram conhecimento da série, quando um deles leu uma matéria no site da revista Wired, bíblia dos geeks de todo o mundo.

Não podia haver melhor notícia. Finalmente os fãs poderiam saber o destino de todos os personagens. Quem passaria no famigerado Processo, que escolhe apenas 3% da flagelada população (daí o nome da série) para viver no conforto do Maralto?

Foram recrutados para a empreitada nomes fortes do cinema nacional. Na direção da série, César Charlone, que já havia dirigido para a Globo o seriado ‘Cidade dos Homens’ e trabalhado como diretor de fotografia de Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre A Cegueira, com Fernando Meirelles. Entre os atores, João Miguel, consagrado com o filme ‘Estômago’, Bianca Comparato, Zezé Motta, Celso Frateschi e Sérgio Mamberti. Os prognósticos são bons.

25 de novembro de 2016. Todos os oito episódios estão disponíveis na Netflix. Depois de assistir a todos, a impressão que se tem é a mesma ter presenciado um trem descarrilhando. Nas entrevistas que os criadores da série deram, disseram que haviam promovido mudanças porque estavam mais “maduros” e queriam acrescentar outras questões que não fosse a óbvia, segundo eles, pressão de ser selecionado.

O resultado é o inverso. O piloto, aquele de anos atrás, parece ser coisa de um profissional maduro. A série atual parece algo feito às pressas por alunos imaturos de faculdade.

Atuações

João Miguel consegue ter uma atuação abaixo de Mel Fronckowiak, atual namorada de Rodrigo Santoro e cujo grande feito na TV até hoje tinha sido participar da versão brasileira de Rebelde — além de ter sido eleita Miss Bumbum 2008. Os diálogos são os mais artificiais da história da TV brasileira. Culpa do infeliz roteiro sem pé nem cabeça.

Roteiro

Os criadores da série mudaram o foco da pressão na seleção para a discussão da meritocracia. Mas também quiseram abordar as ideologias totalitárias, tanto de esquerda como de direita. E também a questão das escolhas pessoais. E a filosofia de Rosseau. E mais um porção de coisas. Ao tentar abraçar o mundo, nada deu certo. Sem contar os furos (uma mulher aparentando 40 anos diz que passou no Processo faz cinco anos, sendo que todos são selecionados aos 20) e as inconsistências.

Direção e montagem

César Charlone é a grande decepção do ano. Ou, pela aparência da série, muito pobre, fez o que pôde com um orçamento diminuto. A direção mantém o mesmo tom para a série inteira, o corte das cenas é simplório, e é difícil crer que tenha mesmo havido preparação para os atores. Os executivos da empresa nunca revelam quanto gastam em suas produções. Em 3%, como o nome dá a entender, deve ter sido 3% do valor necessário para fazer qualquer coisa minimamente decente.

O jornalista viajou a São Paulo a convite da Netflix
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