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“Men at Lunch”, a fotografia, mostra um grupo de operários sentados numa viga a 60 andares de altura. Mais tarde se descobriu que a imagem foi posada. | Reprodução
“Men at Lunch”, a fotografia, mostra um grupo de operários sentados numa viga a 60 andares de altura. Mais tarde se descobriu que a imagem foi posada.| Foto: Reprodução

“Men at Lunch” (2012), disponível na Netflix, é um daqueles documentários que tem uma ideia incrível, mas sofre para colocá-la em prática.

O diretor Seán Ó Cualáin pegou uma das fotografias mais famosas da história de Nova York – a que ilustra este texto e dá nome ao filme – e tentou responder a uma pergunta que muita gente já fez ao olhar para a imagem: quem são os homens que aparecem nela?

A foto mostra um grupo de 11 trabalhadores confraternizando no horário de almoço (daí “men at lunch”), mas existem várias peculiaridades que chamam a atenção.

Eles trabalhavam na construção do arranha-céu do Rockfeller Center – chamado de 30 Rockefeller Plaza, ou apenas “30 Rock” –, na década de 1930, em plena Depressão nos EUA.

Os 11 estão sentados numa viga a 60 andares de altura, sem nenhum tipo de proteção e com uma displicência impressionante. Eles batem um papo, acendem cigarro, relaxam... um deles olha reto para o fotógrafo.

Não se sabe quem fez a imagem – o profissional não foi creditado. O documentário faz algumas especulações, mas não conclui nada.

No grupo de trabalhadores, parece haver representantes de três povos que marcaram a história nova-iorquina: os irlandeses, os italianos e os judeus. Nova York é uma cidade feita com gente do mundo todo, mas o documentário destaca esses três povos.

E faz sentido o diretor Cualáin ser de família irlandesa porque, na parte mais curiosa da história, o documentário persegue o passado de dois dos homens que aparecem na fotografia. Dois imigrantes irlandeses que saíram da vila de Shanaglish, no condado de Galway, na Irlanda.

Cualáin, produzindo outro documentário que nada tinha a ver com “Men at Lunch”, se viu um dia no Whelan Pub, em Shanaglish, para o almoço. Ao ouvir a história do dono do lugar sobre o quadro que ele tinha na parede, decidiu contá-la em filme.

Michael Whelan, o proprietário do pub, falou para o cineasta de um cliente que, vivendo nos EUA, viu um dia a famosa foto nova-iorquina e reconheceu nela o próprio pai (nascido em Shanaglish que emigrou para os Estados Unidos).

O filho ficou tão comovido com a descoberta que levou uma cópia da foto como presente para Whelan. O comerciante ficou encantado com a história e com a imagem, mandou enquadrar e decidiu decorar o pub com os operários do 30 Rock.

O problema do filme

O maior problema de “Men at Lunch” está nos personagens entrevistados. Assim como, em algumas reportagens, as fontes representam a parte mais importante da história, o mesmo vale para certos tipos de documentários.

E as fontes de Cualáin não emprestam autoridade para as teorias que ele explora. Ele ouve um cineasta, um fotógrafo, um arquivista (nenhum deles tem algo a ver com a imagem do Rockfeller Center e nem com a história do quadro no pub), para ficar em três exemplos, e eles dizem que a fotografia é bonita por esse ou aquele motivo. Mas é um pouco como ouvir um cidadão comum sobre a previsão do tempo. A

Alguns personagens, porém, são bons, como o próprio Michael Whelan, o dono do pub.

Outra questão delicada tem a ver com a identificação dos dois imigrantes irlandeses. As fotos de família que os filhos usam para comparar com a imagem famosa não resolvem a questão. É significativo que o filme não insista muito na comparação, passando relativamente rápido pelas imagens.

É claro que você pode pausar a imagem e analisar as duas fotos o tempo que quiser. Eu mesmo fiz isso (e não fiquei convencido de que os operários sejam os dois imigrantes que os filhos dizem que são).

Mistérios à parte, a vantagem do filme está nos cenários. Nova York e Shanaglish são dois lugares incríveis.

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