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Série de Dan Harmon, também cocriador de Adult Swim, acompanha um grupo multiétnico de amigos em uma faculdade mequetrefe: da recusa da NBC para o streaming do Yahoo! | Trae Patton/Divulgação
Série de Dan Harmon, também cocriador de Adult Swim, acompanha um grupo multiétnico de amigos em uma faculdade mequetrefe: da recusa da NBC para o streaming do Yahoo!| Foto: Trae Patton/Divulgação

Por anos, a comédia Community respirou por aparelhos. Sua baixa audiência, somada ao gênio forte do criador Dan Harmon, anunciavam cancelamento muito antes do canal aberto NBC (dos EUA) finalizá-la de fato, em maio do ano passado. Em cinco temporadas, a série acompanhou um grupo multiétnico de amigos lidando com uma faculdade pouco qualificada. Ousados, os episódios abusavam cuidadosamente de paródias, sátiras, pastiches e piadas autorreferenciais. (Falando em autorreferencial, não desista do texto se o seriado não interessa a você — a premissa principal, do quarto parágrafo em diante, vale a pena.)

Harmon até chegou a ser demitido da emissora – o Pigmaleão trancado para fora de sua Galatea. A série prosseguiu por uma temporada sem ele, até que uma reconsideração humilde da NBC o recontratou para o quinto e último ano do programa. Quando o cancelamento se confirmou, a contraditória sensação de surpresa previsível tomou conta dos fãs, notoriamente reconhecidos como uma meia dúzia bastante devota. O funeral digital chegou a durar quase dois meses, mas Community esteve de fato enterrada.

Community

Nos Estados Unidos, a série está disponível no serviço Yahoo Screen. Similar ao Netflix, o streaming existe no Brasill, embora não para conteúdos inéditos.

E então veio o milagre. Como em A Vida de Brian, do Monty Python, em que o protagonista, caindo de uma torre, é salvo por extraterrestres absolutamente desconexos do enredo, Community também acabou resgatada por um alienígena. Nas mãos do Yahoo! – esse mesmo –, a série foi renovada por mais uma temporada, passando a ser transmitida na internet por meio do serviço de streaming Yahoo Screen. Em maio, os personagens da faculdade Greendale retornaram.

Acervo

Duas séries que ganharam sobrevida (ou vida) graças a um serviço de streaming :

Unbreakable Kimmy Schmidt

Tina Fey mostrou seu humor inteligente em 30 Rock. Mas ouviu um “não” da NBC quando apresentou ao canal sua nova cria, adotada pelo Netflix. Assim surgiu Unbreakable Kimmy Schmidt. A primeira temporada está disponível no Brasil e uma segunda já foi confirmada.

Arrested Development

Série consegue fazer um humor pastelão ao mesmo tempo em que critica de maneira contundente a sociedade americana. A quarta temporada, a primeira no Netflix (disponível no Brasil), veio depois de sete anos da terceira e enfrentou vários problemas de produção – como não poder contar com todo o elenco. Mas expectativa em torno da quinta temporada é grande.

A ressurreição não é inédita. Arrested Development, outra comédia cultuada, foi cancelado pela Fox e restaurado anos depois pelo Netflix. O mesmo aconteceu com Unbreakable Kimmy Schmidt. A série de Tina Fey protagonizada por Ellie Kemper foi recusada pela NBC e bancada, em março deste ano, pelo mesmo serviço de streaming, que já anunciou sua segunda temporada. Mas a onda de seriados mortos-vivos chama atenção, agora, pelo envolvimento do Yahoo, que até então só havia investido em uma série própria, a comédia Burning Love, em 2012. Além de Community, mais dois seriados foram produzidos e disponibilizados nas últimas semanas, as também comédias Sin City Saints e Other Space.

Filão

A transição do televisor para o streaming representa uma interessante possibilidade de mudança para a indústria audiovisual. AOL, Amazon, Hulu e até a Playstation já estão de olho no filão e devem seguir o que fez a Yahoo! com Community. Ok, a esse ponto você sabe que milhões de pessoas ganham dinheiro com vídeos caseiros, mas uma coisa é seu primo engraçado conseguir visualizações lucrativas no YouTube, outra é um investimento milionário consolidado em uma emissora profissionalizada se transferir para um serviço ainda não especializado na internet.

Ao deixar a tevê aberta, Community pode alargar seus episódios de 23 para 30 minutos – não há intervalos, afinal. Disponibilizada online, deixou de depender das mudanças de programação. Também abandonou eventuais preocupações com censura. Mais importante, talvez, seja a dilatação de limites entre possíveis produtoras: se o Yahoo entrou nessa, por que não qualquer empresa com visibilidade na grande rede? Não significa que toda e qualquer série migrará para a internet. Só é ótimo ter essa opção.

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