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Faz tempo que Jô Soares deixou de prestar atenção nos entrevistados. | José Luiz da Conceição (TV Globo)/Divulgação
Faz tempo que Jô Soares deixou de prestar atenção nos entrevistados.| Foto: José Luiz da Conceição (TV Globo)/Divulgação

O nome do “Programa do Jô” é muito apropriado. O programa é dele, feito por ele e para ele. O astro é sempre Jô Soares, não importa quem esteja sentado na poltrona de entrevistado.

Pior: quando o convidado é importante e famoso, parece que Jô Soares se torna estranhamente competitivo, como se tivesse de mostrar para todo mundo que é tão importante quanto o entrevistado.

Eu me lembro de uma entrevista com Chico Buarque, na época em que o compositor e escritor publicou um romance – “Benjamin” (1995), se não me engano. Em vez de tratar sobre o livro de Chico – que estava lá para divulgar a obra –, a conversa foi mais sobre “O Xangô de Baker Street”, o romance que Jô Soares estava publicando na mesma época e pela mesma editora, a Companhia das Letras.

A memória é nebulosa, mas gravei a imagem de Jô Soares falando sobre como o livro dele estava vendendo mais que o de Chico Buarque! Pode ter sido só uma brincadeira, mas fazer piada é um jeito ótimo de dizer coisas que, de outra forma, soariam agressivas ou absurdas. “Era só uma brincadeira!”, seguida de umas risadinhas, é uma frase que na verdade quer dizer: “É isso mesmo que eu penso”.

Jô Soares anunciou na segunda-feira (22) que vai encerrar seu programa de entrevistas depois de 28 anos no ar, dois a menos do que as três décadas de Johnny Carson (1925-2005) na CBS, dos Estados Unidos. Carson é uma influência indesviável no mundo dos talk shows e, assim como todo mundo que veio depois dele, Jô copiou muito do americano.

“Programa do Jô” chega ao fim

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Jô poderia ter encerrado a carreira de entrevistador uns 18 anos antes. Não por causa da idade (ele tem 78), mas sim por uma questão de personalidade. Explico.

Gostava do “Jô Soares Onze e Meia”, que estreou no SBT em 1988. Aprendi muita coisa assistindo às conversas do “Gordo”. Quando estava estudando jornalismo, cheguei a viajar para participar de uma gravação.

Eu tinha ideia de como os bastidores de qualquer produção podem ser cruéis – na medida em que destroem a imagem que você cria de algo que viu na tela da tevê, sentado no sofá de casa. Mas foi difícil ver o cara que eu admirava agir como se a entrevistada não estivesse à altura dele.

Jô reclamou muito para a produção do programa, sobre ter de editar o bate-papo porque não havia rendido como devia. Minha teoria é de que, com o tempo, essa atitude de bastidores começou a vazar para a frente das câmeras, até o ponto em que o “Programa do Jô” não seria de mais ninguém.

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