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Don Draper (em primeiro plano), vivido por Jon Hamm, é o protagonista de “Mad Men”. | Divulgação
Don Draper (em primeiro plano), vivido por Jon Hamm, é o protagonista de “Mad Men”.| Foto: Divulgação

Falta menos de um mês para o último episódio de Mad Men . Criado pela americana AMC, a produção de sete temporadas se tornou ícone de seriado histórico, isto é, aquele que reproduz alguma época – fenômeno tantas vezes realizado na literatura e no cinema.

Em Mad Men, como na aclamada Downton Abbey, contextos inspirados na realidade são desenvolvidos para abrigar personagens e organizações fictícias, como a empresa do protagonista Don Draper, na primeira; ou a próprio propriedade rural Downton Abbey. Histórias reais também têm sido romantizadas: Masters of Sex, por exemplo, acompanha a trajetória de William Masters e Virginia Johnson, que na década de 1960 se tornaram pioneiros no estudo do comportamento humano durante o ato sexual, enquanto Boardwalk Empire lida com diversos perrengues envolvidos na Lei Seca americana.

Jean Baudrillard, sociólogo francês conhecido por desenvolver o conceito de hiper-realidade (grossíssimo modo, ideia segundo a qual já não é possível distinguir a realidade de suas representações), afirma em Simulacros e Simulações que o cinema histórico desperta na audiência um prazer frio, funcional; “nem sequer estético”. Para ele, as frequentes simulações de universos recriados e cheios de virtuosismo técnico resultam da própria dificuldade em separar o cinema do real. Levando-se em conta a pressa assustadora de romantizar histórias contemporâneas – há filmes biográficos sobre Steve Jobs, Mark Zuckerberg e Julian Assange, para ficar só com três exemplos –, Baudrillard dificilmente estava equivocado por completo.

Porém, o produto – filme, seriado, romance que seja –, precisa demonstrar qualidades que extrapolem os aspectos históricos. Nenhuma obra sobrevive apenas por ser “de época”. Claro que um ótimo cenário, roupas críveis e representação honesta da sociedade retratada podem facilitar a degustação do trabalho, porém nada disso funciona quando desprovido de coerência interna na obra. Da mesma forma, ótimos efeitos especiais podem colaborar, mas não carregar um filme de ficção científica. Se Mad Men, entre tantas, foi ou é aclamado, isso se deve a fatores alheios ao contexto temporal do enredo: a série está sujeita a qualidades e problemas presentes em narrativas de qualquer mídia, como o potencial de seus personagens, enredo e diálogos.

Ainda que façamos inúmeras concessões no que tange à fidelidade histórica, gostamos da sensação de realismo histórico (se você não gosta, ok, mas o grande mercado não me deixa mentir). O costume de simular épocas antigas, que vai d’O Nome da Rosa ao game L.A. Noire, tem sido muito bem recebido em diversas séries recentes. Isso se deve à possível imersão no universo recriado que uma grande quantidade de episódios proporciona, em contraste com os limites temporais de um filme. Pelo lado de quem investe, também parece mais econômico, ou menos estrondosamente caro, gastar em cenários e efeitos que serão reutilizados diversas vezes, e não em uma só gravação.

Confusos ou não com o que separa realidade da história, não veremos a produção de séries históricas esfriar, mesmo com o fim de Mad Men. Na verdade, nunca foi tão fácil testemunhar simulacros bem feitos.

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