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Bárbara hoje vive na Vila Isabel, em Curitiba, mas o “tempo das descobertas” foi passado entre Peabiru e Campo Mourão | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
Bárbara hoje vive na Vila Isabel, em Curitiba, mas o “tempo das descobertas” foi passado entre Peabiru e Campo Mourão| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Tarde de autógrafos

Livraria do Paço (Pça. Generoso Marques, 180). Dia 27 de julho, das 14 às 17 horas.

  • Lançamento -Paraísos de Pedra- Bárbara Lia. Editora Penalux, 107 págs. R$ 30. Contos.

Paraísos de Pedra é um livro de memórias da infância e da juventude. São textos curtos em que a escritora Bárbara Lia registra as lembranças de sua meninice em Peabiru e algumas vivências em Curitiba, onde mora hoje. O tom, na maior parte dos contos, é de conversa, de intimidade. Peabiru – e dentro dela, as casas onde a menina Barbara viveu – é um lugar comum, mas mágico para a criança que descobre o mundo.

A inventividade literária de Bárbara aparece mais forte nos dois primeiros textos ("Paradiso" e "A Noite dos Vivos") em que a voz da mulher se faz ouvir e expressa uma sensualidade e um afeto vigoroso. "Mesmo esta memória que registrei tem toques de ficção. Eu até ouso dizer que é uma memória inventada", diz Bárbara.

Este Paraísos de Pedra é seu nono livro e o primeiro de contos. Foram seis de poesia e dois romances. Eles vêm saindo em sequência desde 2004 por várias editoras. "Sempre ouço as pessoas dizerem: ‘Você está sempre lançando um livro’. Sim, é que eu comecei a escrever nel mezzo del camino de mi vida. E muitos livros são composições antigas que estavam arquivadas em meu coração. Paraísos de Pedra é um destes livros que compus há décadas em minha mente."

Mãe de três filhos, avó de um garotinho, Bárbara está aposentada e hoje afirma com segurança que seu ofício é escrever. Ela conta: "Para escrever é preciso tempo e disponibilidade cem por cento. Publiquei meu primeiro livro com quase 50 anos. Tardiamente iniciei esse caminho da escrita. Sinto essa urgência, de materializar as ideias, pois é preciso muito tempo para escrever um romance. Outro tempo enorme para conseguir publicar. Fico com esta sensação de estar correndo contra o tempo."

Na linguagem dos contos e dos poemas de Bárbara transparece seu envolvimento com a poesia. Não é uma linguagem rebuscada ou com recursos rocambolescos. Ao contrário, mas é a voz de alguém que lê muita poesia (Emily Dickinson, Fernando Pessoa, Hilda Hilst, Sylvia Plath, Roberto Piva, Ana Cristina Cesar...) e a utiliza para se comunicar.

Entrevista

Bárbara Lia, escritora

"Ser poeta é ter uma maneira única de olhar o mundo e as pessoas"

Você se apresenta como "essencialmente poeta". Isso significa mais do que ser alguém que escreve poemas, não é?

Sim. Convivi, até completar 38 anos, com um poeta que nunca escreveu um verso. Eu não recordo de ler um poema do meu pai e ele viveu poeticamente durante toda a sua vida. Ser poeta é ter uma maneira única de olhar o mundo e as pessoas, fazer outra leitura da vida, além do banal. Vai além do momento de sentar e compor versos, é dia e noite e noite e dia, até quando dorme.

Como é a receptividade a livros de poesia?

Uma parcela mínima lê e dentro desta parcela, uma menor ainda lê poesia. Isto não significa que as pessoas não gostem, acredito que elas até sentem falta. Falta divulgar os poetas que escrevem agora, as editoras resistem e não publicam. Utilizam o velho refrão: poesia não vende. Uma pena que os poetas sejam estes caras que os presidentes e algumas celebridades usam em seus grandes discursos e que durante a vida falam com o vácuo quando tentam publicar sua obra.

Você nasceu em Assaí, morou em Peabiru... Ainda mantém uma relação forte com o interior do estado?

Mantenho uma ligação nostálgica. Esta saudade que chega quando se encontra algo que evoca, em um átimo, um tempo da vida. Quando encontro goiaba madura, um quintal inteiro desaba diante dos meus olhos, feito uma tela. Milho verde, fogão à lenha. Lampião e céu de estrelas. Estas coisas que não são rotina em uma cidade grande. Este é o fio. Depois da morte dos meus pais vou menos para o interior. A questão é que as pessoas seguem seus caminhos e você mantém um, dois quiçá três amigos. Vinte ou trinta anos depois a relação com o interior e com as cidades onde você viveu é mais com o passado que com o presente. Eu vivi dos 6 aos 16 anos em Peabiru, o tempo das descobertas. Depois, vivi em Campo Mourão até me casar. Recebi uma homenagem dentro de um Projeto de Poesia no Colégio Estadual Rio Branco de Assaí e foi lindo. Gosto de Assaí, pois nasci lá e meus pais viveram muito tempo lá. E gosto imensamente de Peabiru, por ser esta cidade que guarda este encantamento. As pessoas que lá viveram sentem esta mesma nostalgia.

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