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Mar bastante recuado chamou a atenção da população em Paranaguá. | Iroze Picanço/Divulgação Agora Litoral
Mar bastante recuado chamou a atenção da população em Paranaguá.| Foto: Iroze Picanço/Divulgação Agora Litoral

O recuo do mar registrado no litoral do Paraná e Santa Catarina nesta semana gerou uma série de hipóteses fantasiosas, principalmente nas redes sociais. Pelo WhatsApp, circula a teoria de que o fenômeno raro seria o prenúncio de um tsunami. O fato é desmentido pelo professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em engenharia oceânica Eduardo Gobbi. Nesta quinta-feira (17), o nível do mar já esta normal.

Antes de mais nada, Gobbi enfatiza que a costa brasileira está fora do raio de tsunamis - ondas gigantescas, com velocidade aproximada de 700 km/h, formadas a partir de terremotos em alto mar. “A possibilidade de tsunami no Brasil é muito remota. Qualquer tsunami no mundo se propaga em todos os oceanos. Os tsunamis da Ásia chegaram ao Brasil, mas com diferença de centímetros no mar. O Brasil não tem nenhum vulcão, não está em falha geológica, portanto a possibilidade é quase zero”, enfatiza.

Gobbi explica a diferença do recuo do mar no litoral do Paraná para um tsunami.“Vamos imaginar um bacia de plástico cheia de água. Damos um soco embaixo da bacia. O que acontece? O impacto chega à superfície e as ondas se propagam em direção às laterais. É uma perturbação muito grande, a água percorre movimento em 360° e em determinada altura atinge a costa, a lateral da bacia. Quando as ondas chegam ao litoral, a água começa a se empilhar, o que gera uma cavidade na parte frontal. É um recuo natural, mas de tremendo impacto, que causaria muitos danos. Isso é um tsunami”, explica.

Já o recuo do mar no litoral paranaense é explicado pela combinação de fatores que envolvem correntes de vento, pressão atmosférica e lua cheia. “Um centro de alta pressão atmosférica de circulação anti-horária se formou na região polar. Outro se formou próximo na costa brasileira, no sentido horário. Essa combinação gerou ventos muito poderosos, que acabaram mudando à direita, para dentro do oceano, afastando as águas próximas da costa”, afirma o especialista. “Vieram ventos muito fortes para a costa, por isso da previsão anterior de ressaca, e isso se confirmou. Mas um centro de baixa pressão se formou e acabou criando uma enorme pista para os ventos que desceram do Nordeste. A Bacia do Prata, no Uruguai, foi muito atingida. E o recuo foi subindo até São Paulo”.

Além dos ventos, a influência da lua cheia ajudou a amplificar o recuo. Todo o sistema Lua-Terra-Sol influencia as marés 24h por dia nos oceanos, segundo o professor da UFPR. “No litoral paranaense, esse recuo entra pelo sul, por Matinhos. O mar não sobe e desce de uma vez só. Como estávamos em lua cheia, estávamos em baixo mar, e tivemos além disso a soma do outro fenômeno de baixo mar”.

Para o professor, a confusão com acontecimentos marítimos acontece pela presença dos tsunamis no imaginário coletivo. “Está na mídia, nas redes sociais, desde os grandes eventos do Japão e da Ásia no fim de 2004. Mas também é um pouco do ‘Sobrenatural de Almeida’ e as redes sociais têm um potencial tremendo de gerar essa confusão”, diz o especialista em engenharia oceânica.

O professor afirma nunca ter visto um recuo tão grande do mar nos últimos 25 anos. Nos próximos dias, o Centro de Estudos do Mar da UFPR (CEM-UFPR) vai modelar o evento em sistemas de informática para calcular o impacto sobre as regiões litorâneas. Na cidade de Balneário Rincão, em Santa Catarina, o recuo chegou a 50 metros. Os paranaenses registraram cerca de dois metros de vácuo. Diversas outras praias registraram barcos encalhados na areia por causa do fenômeno.

Vazamentos?

Outro fenômeno que alertou banhistas e moradores do litoral na semana foi a proliferação de algas atóxicas no litoral paranaense. As manchas apareceram no mar na segunda-feira (14) e em poucos dias boatos davam conta de um vazamento de óleo. No entanto, trata-se de uma proliferação de algas atóxicas, comuns durante o inverno.

Um laudo chegou a ser emitido pelos biólogos do CEM-UFPR para confirmar que elas não afetam a saúde humana. “É a floração de algas da espécie Anaulus australis, que não são tóxicas. Então, os banhistas podem entrar no mar”, informou, na terça-feira (15), o capitão Durval Tavares, da Polícia Militar Ambiental do Paraná.

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