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Chaveiro Fábio Moreto mantém um par de botas no balcão de seu comércio: a qualquer momento a água pode subir. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Chaveiro Fábio Moreto mantém um par de botas no balcão de seu comércio: a qualquer momento a água pode subir.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Há anos moradores e comerciantes da imediações das ruas Visconde de Nácar, Saldanha Marinho, Cruz Machado e Fernando Moreira, no Centro, sofrem com enchentes. Na última quarta-feira (14), não foi diferente. A região foi uma das mais afetadas pelos alagamentos que atingiram diversos bairros de Curitiba e afetou a vida de 5,6 mil pessoas na capital e região . Biarticulados tiveram problemas por causa da água - um deles quebrou na canaleta enquanto tentava cortar a correnteza - e diversos passageiros tiveram de trocar de ônibus no ápice da tempestade. Enquanto isso, donos e funcionários dos estabelecimentos locais brigavam contra o tempo para evitar prejuízos ainda maiores.

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Nety Segatti, 34 anos, é proprietária de um açougue na região chegou a fazer um vídeo ao vivo no Facebook para mostrar o caos em que se transformou a área. As imagens que até a manhã desta quina (15) já haviam sido vistas mais de 124 mil vezes mostram carros enfrentando a correnteza, passageiros improvisando para entrar nos biarticulados e a água descendo forte pelas ruas ao redor. “Mais dez minutos de chuva e a água iria entrar aqui no meu comércio também. Todo ano é a mesma coisa: choveu, alagou. Mas realmente nunca foi tão forte como quarta-feira”, ressalta Nety.

Foi justamente a chuva quase ininterrupta que chamou a atenção dos que vivem por ali. Embora constantes, os alagamentos consequentes das chuvas não costumam durar muito se a pancada é rápida. O que não foi o caso desta quarta. “Parece que não acabava mais. E temos que pensar no depois. Se a chuva vem depois das 6h da tarde, quando muita gente colocou o lixo para fora de casa, isso aqui também vira depósito de lixo”, aponta a comerciante.

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Netty conta que há dois anos chegou a procurar a prefeitura para saber o que estava sendo estudado para mudar a rotina dos comerciantes e moradores em dia de chuva. O pedido foi levado aos responsáveis depois que um homem teve a moto arrastada pela correnteza durante uma enxurrada - por sorte, ele conseguiu se agarrar nas árvores e não foi junto. “Só que a gente nunca teve resposta nenhuma. Nunca chegou um parecer da prefeitura. E a gente sabe que o problema é a galeria que passa por aqui e vai até o Rio Belém. A gente não suporta mais”, reclama.

Segundo o Simepar, o acumulado de chuva em Curitiba nesta quarta foi de 67,2 mm, praticamente a metade do esperado para todo o mês. Mas o prejuízo acumulado ainda é incalculável. Em um estacionamento na rua Cruz Machado, quase na esquina com a Visconde de Nácar, um carro chegou a ficar danificado pela enchente. Foi necessário chamar três caminhões para retirar a água que se concentrou no primeiro piso do imóvel, o que gerou prejuízo de R$ 1,5 mil, sem contar o valor de reparo do veículo danificado. Além disso, sete carros que estavam na parte de cima não conseguiram descer e tiveram que pernoitar no estacionamento. Os proprietários tiveram de voltar para casa de Uber - viagens que também foram bancadas pelo estacionamento.

“Sempre que chove, chega a alagar, mas nunca como quarta. Foi fora de controle”, conta Wanderlei Arantes Júnior, 23, funcionário do estacionamento. Nesta manhã, a sala de administração da garagem precisou ser esvaziada para limpeza. Além disso, Arantes também já detectou que vai precisar comprar cabos novos para o computador do estabelecimento. “A água estragou tudo. Não deu tempo nem de tirar nada”, relembra.

No estacionamento em que Wanderlei Arantes Júnior trabalha na Rua Saldanha Marinho um carro ficou danificado e sete ficaram ilhados durante a enchente.Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Em um chaveiro na Rua Saldanha Marinho, o entendimento não é outro. Há 15 anos no mesmo ponto, a loja já precisou de algumas adaptações por ter de encarar os alagamentos como inevitáveis. As estantes onde ficam as ferramentas foram projetadas mais altas e os funcionários mantêm até mesmo pares de botas atrás do balcão, já que a qualquer chuva a água pode subir. “Como a gente sabe que quando chove vai alagar, tem que ter as botas já preparadas. E usamos as botas também depois para limpar tudo”, relata Fábio Moreto, 24 anos, um dos donos do chaveiro. Ele relembra que há dois anos foi feita uma reforma na galeria da região, mas que as obras não trouxeram alívio de nenhum lado. “Esses alagamentos acontecem umas quatro vezes por ano. Claro que dependem da intensidade da chuva. E de ontem foi demais”, relata.

Outro lado

“Ontem foi uma chuva muito forte, que acaba causando alagamentos de qualquer jeito, ainda mais na cabeceira do Belém”, justificou o vice-prefeito e secretário de Obras Públicas Eduardo Pimentel, sobre a segunda enchente em menos de um mês na cidade.

Em entrevista, ele não falou sobre a previsão de intervenções na região da Visconde de Nácar, mas defendeu que as obras de mitigação de cheias da bacia do Rio Belém devem refletir em alívio para os moradores da área. Isso porque o Rio Bigorrilho, que dá suporte à galeria criada para ajudar a conter o excesso da chuva na região, também é um dos afluentes do Rio Belém. “A gente sabe que tem galerias precisando de reforma, de trocas. E o que acontece desde janeiro, não só em Curitiba mas em todo o país, tem havido muita chuva e a drenagem da cidade aguentou bem essa chuva”, afirmou Pimentel.

As intervenções relacionadas à mitigação das cheias no canal serão feitas nos rios Juvevê, Pilarzinho e Belém, locais que também estão sempre sujeitos a alagamentos.

Ainda sobre a chuva, o prefeito Rafael Greca voltou a dizer, desta vez para a equipe de reportagem da RPCTV, que a forte chuva desta quarta causou alagamentos que só poderiam ter sido evitados caso houvesse um canal do Panamá em Curitiba — argumento que ele já havia usado durante as enchentes do início do mês.

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