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Curitibano Diego Oliveira encontrou um gambá no quintal. Nenhum órgão apareceu para buscar o animal | Diego Oliveira/Arquivo pessoal
Curitibano Diego Oliveira encontrou um gambá no quintal. Nenhum órgão apareceu para buscar o animal| Foto: Diego Oliveira/Arquivo pessoal

Depois do fechamento do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba – em junho deste ano – o Paraná ficou sem um local para abrigar animais silvestres apreendidos. Com isso, são cada vez mais comuns situações como a da empresária que encontrou um urubu no prédio onde mora, no bairro Vila Izabel, em Curitiba, procurou uma forma de retirá-lo de lá, mas não conseguiu que nenhum dos órgãos responsáveis pela remoção de animais silvestres atendesse ao pedido.

Assim como ela, o curitibano Diego Oliveira, 28 anos, também não pode contar com ninguém. Morador do bairro Atuba, ele encontrou uma gambá com filhotes em seu terreno no dia 25 de outubro e entrou em contato com todos os órgãos públicos que conhecia pedindo auxílio. “Liguei para o IAP, Força Verde e até para o Ibama”. No entanto, não recebeu atendimento e o animal acabou se escondendo no quintal da família. “Não a vimos mais depois disso”.

De acordo com o Batalhão de Polícia Ambiental, a Força Verde da Polícia Militar do Paraná, a responsabilidade de captura de animais – que, muitas vezes aparecem nas ruas da cidade e em residências - não é dos policiais. O órgão explica que sua função é coibir crimes relacionados ao meio ambiente, ou seja, situações de desmatamentos, tráfico de espécies ou maus-tratos que são denunciados por meio do telefone 181. Por isso, os casos que não envolvam crime devem ser atendidos pelo IAP.

Segundo Edilaine Vieira, diretora de Licenciamentos Especiais da instituição, antes mesmo do fechamento do Cetas, o IAP já prestava esse serviço. No entanto, não possui equipes disponíveis para buscar os animais. Por isso, a orientação é ligar para o IAP – no telefone (41) 3213-3812 – e conversar com um especialista a respeito do que deve ser feito. “Se for necessário mexer com o animal, nós vamos explicar como deve ser realizada a captura e o transporte adequado”.

Esses cuidados são necessários para garantir a segurança da pessoa que está tentando ajudar e também do próprio animal, que sempre se sentirá ameaçado. “Esses dias nós recebemos um filhote de veado com diversas fraturas devido ao transporte inadequado”, lamentou a diretora.

Segundo o zootecnista Carlos Frederico Grubhofer, chefe de nutrição do Zoológico de Curitiba e diretor do Conselho Regional de Medicina Veterinária, alguns animais com o veado descrito por Edilaine exigem cuidados especiais em seu manuseio e podem até morrer durante o transporte. “Por outro lado, animais como serpentes, javalis, gaviões e até papagaios, por exemplo, também podem ser perigosos para o cidadão porque o veem como predador. Então, é necessário sempre entrar em contato com um profissional da área”, salientou.

Se o bicho não estiver machucado e nem apresentar risco às pessoas ao redor, Grubhofer explica que a melhor opção é não mexer com ele. “Existem pessoas que pegam pássaros pequenos e o levam ao IAP, mas essas aves precisam da mãe para aprender a voar. Então, seria melhor deixar esse filhote no lugar onde foi encontrado, pois a mãe estaria por perto e iria ajudá-lo. Da mesma forma, uma tartaruga encontrada em matas ou próximo de rios devem ser deixadas ali, em sua casa”, explicou.

No entanto, se o animal estiver machucado, correr algum risco – como o de ser atropelado, por exemplo - ou ainda ameaçar a segurança de pessoas, especialistas do IAP orientarão a respeito de sua captura e transporte. “Dependendo da situação, nós acionaremos outros órgãos para ajudar”, afirmou Edilaine.

Imagens de arquivo mostram animais em tratamento no Cetas em 2013 e em 2014Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Arquivo

Animais sem destino

O animal, então, será levado para um dos 21 escritórios regionais do IAP distribuídos pelo Paraná. Em Curitiba, a sede fica na Rua Engenheiros Rebouças, 1206, no bairro Rebouças. Lá, os bichos são analisados, encaminhados para atendimento no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, logo depois, reinseridos na natureza ou enviados para zoológicos e instituições privadas que aceitam mantê-los gratuitamente.

Até o primeiro semestre deste ano, esse trabalho era realizado com o apoio do Cetas - instituição mantida voluntariamente pela Pontifícia Universidade Católica (PUCPR) durante 17 anos. No entanto, a instituição encerrou suas atividades em março e as autoridades ambientais não abriram um novo local para suprir a demanda.

De acordo com o veterinário Rogério Ribas Lange, diretor do Hospital Veterinário da UFPR que atende os animais feridos, a situação é lamentável. “Nós temos deficiência de centros de triagem. Atualmente temos ausência deles, o que é preocupante”, pontuou.

Para ele, essa dificuldade para destinar os animais afeta o número de denúncias envolvendo maus-tratos e tráfico de espécies, a quantidade de entregas voluntárias e até os resgates em situações de acidente. “Se não existe um local específico para envio desses animais, todas essas situações se transformam em um enorme drama. Hoje o sistema está em crise”, lamentou.

Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Arquivo

Adoção de animais

Caso nenhuma instituição esteja disponível, o IAP disponibiliza algumas espécies para a guarda provisória com pessoas físicas que se cadastram no site do IAP. Para isso, o interessado precisa provar que tem condições financeiras de manter o bicho e que o ambiente onde ele vai viver é adequado. O cidadão também deve apresentar comprovante de antecedentes criminais em que não conste nenhum crime contra o meio ambiente, apresentar uma vez por ano laudo de um médico veterinário atestando as boas condições de saúde do animal e avisar o IAP caso mude para outro endereço.

Além disso, a pessoa ganha apenas a guarda provisória do animal, ou seja, se o instituto encontrar um local mais adequado, o bicho pode ser transferido, mesmo sem o consentimento de quem o adotou. “A pessoa tem que ter em mente que ela não tem a posse do animal. É a guarda provisória”, enfatiza Edilaine.

Na maioria dos casos, são disponibilizados passarinhos, papagaios, tartarugas e até cobras, animais que – segundo o diretor do Hospital Veterinário da UFPR – podem trazer doenças à família que os recebem. “Como são animais silvestres, ou seja, com vida livre na natureza, é difícil garantir segurança, pois 70% das doenças infecciosas que acometem as pessoas vêm de animais”. Segundo ele, seria necessário emitir um laudo sanitário assinado por um médico veterinário antes de encaminhar o bicho à residência de quem o adota.

A diretora de Licenciamentos Especiais do IAP admite que o órgão não tem médicos veterinários para fazer esse laudo sanitário. Entretanto, afirma que os animais são avaliados pelos biólogos da instituição e que os veterinários da UFPR emitem o laudo. “Lembrando que o interessado em adotar também precisa ter um veterinário de sua preferência para atender o animal”.

Arquivo

Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo/Arquivo

Novos Centros de Triagem

A diretora do IAP admitiu que o ideal seria a existência de unidades do Cetas em todo o Paraná devido à infraestrutura completa oferecida. Ela adiantou que dois projetos estão em andamento. O primeiro deles envolve uma negociação para que o espaço do antigo Centro de Triagem de Tijucas seja cedido ao Ibama, como pagamento de duas multas aplicadas à PUCPR no passado. No entanto, ainda é necessário transferir o prédio ao Ibama e, depois, ao IAP.

Já o segundo envolve a construção de um novo Cetas em Ponta Grossa, com ambulatório, enfermaria, depósito, e recintos para aves, répteis e mamíferos. Ao todo, o espaço terá 10 mil m², e será gerenciado pelo Instituto Klimionte.

No entanto, enquanto esses Cetas não saem do papel, o atendimento e destinação das espécies é realizado somente pelo IAP. De acordo com Edilaine, a primeira opção é sempre a mesma: o retorno à natureza. Mas, se o bicho não estiver apto para sobreviver sozinho, será encaminhado para institutos conservacionistas, zoológicos, parques ou criadouros licenciados. “A maioria das opções são instituições privadas que aceitam os animais sem cobrar nada por isso. Lembrando que não obrigamos nenhuma entidade a receber animais”, afirmou.

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