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Desnível entre trilho e asfalto é um dos agravantes para os acidentes. | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Desnível entre trilho e asfalto é um dos agravantes para os acidentes.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Todos os dias, pelo menos dois motociclistas caem ao passar pela linha do trem que cruza as ruas Simão Mansur e Flávio Dallegrave, no bairro Boa Vista, em Curitiba. A estimativa, que é de comerciantes da região, só piora em dias de chuva: chegam a ser cinco pessoas a deslizarem dos trilhos direto para o asfalto, diariamente. Além dos perigos de atropelamentos, já que a área é um cruzamento entre cinco vias, os motociclistas enfrentam os problemas dos próprios tombos, que já incluem de um homem que quebrou a clavícula e uma grávida que perdeu o bebê.

Os exemplos e estimativas são de Luiz Antonio Lima, de 49 anos, proprietário de uma borracharia em frente ao cruzamento. “Eu virei o socorrista aqui da região. Quando começa a chover, eu pego meu guarda-chuva e fico de olho na rua, pra ajudar os motociclistas que caem”, conta. De acordo com o empresário, os acidentes acontecem quando os motociclistas passam paralelamente com a linha férrea, em vez de cruzarem em um ângulo reto.

O número de quedas, porém, seria bem menor se o asfalto não tivesse uma fenda justamente no encontro com a linha do trem. “A roda engata no buraco e desliza pelo trilho, fazendo o piloto cair”, explica Lima. Justamente por isso, o comerciante, que trabalha ali há 25 anos, viu o número de quedas aumentar nos últimos dois anos.

Além de muitos braços quebrados, o dono da borracharia também presenciou acidentes mais graves: “Há mais ou menos um ano, um piloto caiu com uma moça na garupa. Ela estava grávida e acabou perdendo o bebê”. Outro comerciante da região, Eduardo de Arruda, de 34 anos, já viu uma motociclista quase ser atropelada pelo ônibus ligeirinho que passa por ali: “Foi por pouco, ele freou bruscamente para não acerta a moça”, lembra.

Proprietário de uma loja de sapatos na Rua Simão Mansur, o próprio Arruda comenta que já caiu de moto ali. “Depois que eu caí, entendi que o esquema para que isso não aconteça é cruzar o trilho bem reto. Mas, dependendo de onde o motociclista vem, é difícil pra fazer essa manobra”, avalia o empresário. Arruda também estima que o número médio de motociclistas que caem no trecho durante chuvas seja de cinco por dia - como contou em um dia no fim do ano passado.

O trilho deslizante não é um problema apenas para os motociclistas. Segundo a comerciante Andressa Manika, de 32 anos, eventualmente até quem pedala acaba sendo vítima, já que o trecho também é atravessado por uma ciclovia.

Outro trecho

Outro ponto que enfrenta problemas similares é a região do cruzamento da rua Anita Garibaldi com a rua Flávio Dallegrave, no São Lourenço, onde a mesma linha férrea também passa. Por ali não há desnível entre os trilhos e o asfalto, por isso o número de quedas é bem menor, segundo a cabeleireira Neusa Mendes Pereira, de 71 anos, que trabalha em frente ao local onde o trilho chega à rua. Mas, mesmo assim, ainda há casos de motociclistas que deslizam durante a travessia.

Na opinião de Neusa, grande parte do problema é que os motociclistas não sabem como devem passar pelos trilhos: “Eles até passam devagar, mas tem que cruzar perpendicularmente”, avalia a cabelereira, que conta ter visto cenas como duas motos caindo, uma atrás da outra.

Quem se responsabiliza?

Ao ser informada pela reportagem sobre o problema, a Superintendência Municipal de Trânsito (Setran), afirmou que irá pedir à empresa Rumo Logística, que administra os trilhos, uma verificação sobre o que pode ser melhorado na região. Não houve pronunciamento sobre possíveis correções do asfalto em desnível com o trilhos. A Setran descartou, também, a possibilidade de colocar placas de aviso sobre o perigo de deslizamento, alegando que a instalação desse tipo de aviso não está prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Procurada pela Gazeta do Povo, a Rumo Logística afirmou que o “trilho da ferrovia no referido local não apresenta nenhuma irregularidade”. A empresa disse ainda que melhorias, sinalização, pavimento asfáltico, e acessibilidade são de responsabilidade da prefeitura.

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