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No fim do mês passado, o Facebook viveu um episódio inusitado à lá “apertem os cintos, o piloto sumiu”. Três dias depois de tirar de humanos a atribuição de formular a seção “trending topics”, em que destaca posts e notícias consideradas relevantes para os usuários americanos, a rede social ofereceu em seu “cardápio” reportagens de gosto duvidoso e até mesmo falsas – incluindo o link de um vídeo em que um homem praticava “atos libidinosos” com um sanduíche do McDonald’s. Os algoritmos haviam assumido o controle.

A gafe chamou a atenção para os riscos de se colocar inteiramente na mão dos computadores – e seus programadores, diga-se de passagem – a responsabilidade em fornecer informação e conhecimento, em um mundo onde cada vez mais pessoas têm recorrido ao Google e Facebook para criarem sua visão de mundo. Não que as duas gigantes de tecnologia estejam só agora adotando essa estratégia: os algoritmos já estão há anos ditando o que você vê ou não na rede, mas agora querem interferir também no que você faz fora dela.

Em uma definição bem resumida mas espirituosa, o empreendedor e pesquisador do MIT Kevin Slavin pontua que os algoritmos “são basicamente a matemática que os computadores usam para tomar decisões”. Essas fórmulas matemáticas complexas também são aliadas importantes de serviços como o Netflix e Amazon, que sugerem filmes e produtos a você de acordo com suas ações pregressas.

A “era dos algoritmos”, assim, também pode ser vista como a “era da customização”, prevista com clareza há seis anos por Eric Schmidt, hoje CEO da Alphabet, que controla o Google. “Será muito difícil para as pessoas assistirem ou consumirem algo que não tenha, em algum sentido, sido feito sob medida para elas”, profetizou em uma entrevista de 2010.

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Nem todos, obviamente, estão otimistas com essa nova era, até pelos desafios que ela traz a tiracolo. Algoritmos ainda não surgem de geração espontânea – eles são criados por cientistas e programadores, que possuem suas próprias crenças e convicções pessoais.

E estes profissionais, por sua vez, respondem a grandes empresas, capazes de controlar o fluxo de informação na rede. Uma equação perigosa e que escapa a grande parte dos usuários contumazes do Google e afins, alerta o escritor e jornalista sueco Andreas Ekström.

Evolução às cegas

Essa preocupação se torna ainda mais urgente com a evolução do machine learning, em que computadores passam a ser programados para aprender, em vez de receberem centenas de linhas de código para fazerem apenas tarefas específicas. Abastecidas com uma enxurrada de dados e algoritmos, as máquinas fazem a “mágica” acontecer por conta própria – podendo, assim, criar roteiros de filmes, prever ocorrência de crimes e sugerir investimentos. O “porém” é que nem os próprios programadores conseguem compreender, hoje, toda a lógica por trás desse processo.

“Em machine learning, o engenheiro nunca sabe precisamente como o computador efetua suas tarefas. Essas operações são geralmente opacas e incompreensíveis. É, em outras palavras, uma caixa preta. E uma vez que essas caixas pretas assumam responsabilidade por mais e mais de nossas tarefas diárias digitais, elas vão mudar não só nossa relação com a tecnologia, mas também a maneira como pensamos sobre nós mesmos, nosso mundo e nosso lugar nele”, escreveu o jornalista Jason Tanz na edição de junho deste ano da revista Wired, considerada a “bíblia” da tecnologia.

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