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O fim do programa de inclusão digital, criado em 2005, foi criticado pela Abinee, que prevê diminuição no número de empregos formais. | Fernando Dias/Positivo Informática
O fim do programa de inclusão digital, criado em 2005, foi criticado pela Abinee, que prevê diminuição no número de empregos formais.| Foto: Fernando Dias/Positivo Informática

Para aumentar a arrecadação, o governo Dilma Rousseff decidiu extinguir o programa de inclusão digital, criado há dez anos, aumentar impostos sobre o setor de bebidas quentes, como vinhos e destilados, e sobre empréstimos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nem mesmo os jogadores de futebol e artistas escaparam: o governo vai aumentar a tributação sobre os chamados “direitos de imagem”. O pacote, que vai render R$ 11,3 bilhões aos cofres federais ao longo de 2016, segundo a Receita, têm potencial de aumentar as receitas em até R$ 20 bilhões.

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Segundo os técnicos do Fisco, as diversas alterações nos impostos foi motivada pela “necessidade” de corrigir distorções tributárias e atualizar programas. No entanto, quando perguntado sobre a razão para que todas as medidas, que afetam diferentes setores, terem saído ao mesmo tempo, o coordenador-geral de tributação da Receita, Fernando Mombelli, afirmou: “Foi uma decisão do governo, por conta do momento político. Esses estudos estavam prontos há muito tempo”.

Ele reforçou que o pacote está “claramente” direcionado para a “recuperação do equilíbrio fiscal”. A divulgação das medidas ocorreu um dia depois do governo apresentar ao Congresso a proposta de Orçamento de 2016 com a previsão de um déficit nas contas públicas de R$ 30,5 bilhões.

Eletrônicos

Criado em 2005, o Programa de Inclusão Digital mantinha zerada a alíquota do PIS/Cofins que incide sobre as receitas obtidas com a venda, no varejo, de produtos de informática como computadores, notebooks, tablets e smartphones. Eles continuarão desonerados até dezembro, quando as empresas passarão a recolher a alíquota normal, de 9,25%.

A extinção desse benefício será a principal fonte de recursos para o governo neste pacote – R$ 6,7 bilhões devem entrar nos cofres no ano que vem. O fim do programa foi determinado por medida provisória, que entra em vigor imediatamente, mas será analisada pelo Congresso Nacional.

Vestuário

A presidente Dilma vetou o trecho da lei da política de desoneração da folha que previa alíquota diferenciada, de 1,5%, para o recolhimento feito pelo setor de vestuário. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil reagiu e promete trabalhar para derrubar o veto no Congresso. Segundo a entidade, a decisão deve afetar 28 mil confecções e fazer as demissões no segmento ultrapassarem as 100 mil.

Reoneração

Em outra frente para aumentar a arrecadação, a presidente Dilma Rousseff sancionou nesta terça-feira a lei que revê a política de desoneração da folha de pagamentos e aumenta as alíquotas incidentes sobre a receita bruta das empresas de 56 setores produtivos.

As empresas que optaram pela desoneração deixam de pagar 20% sobre a folha de salários para contribuírem com um porcentual sobre a receita bruta. A lei sancionada aumenta as alíquotas de 1% para 2,5%, principalmente para setores da indústria, e de 2% para 4,5%, para setores de serviços.

Com as mudanças feitas pelos congressistas, o Ministério da Fazenda deverá reduzir a renúncia fiscal com as desonerações em R$ 10 bilhões anuais, a partir de 2016.

Meta fiscal

Mesmo após apresentar uma proposta orçamentária com déficit de R$ 30,5 bilhões para o ano que vem, o ministro Joaquim Levy afirmou que há disposição do governo para alcançar a meta traçada anteriormente. “Vivemos um desequilíbrio do orçamento, mas há disposição do governo para alcançarmos a meta de superávit primário em 2016, que já é uma meta reduzida, de 0,7% do PIB.”.

IDC vê impacto negativo nas vendas de smartphones

O fim da isenção de PIS/Cofins pode dificultar ainda mais o cenário para vendas de smartphones no país, principalmente a partir de 2016, disse a consultoria IDC Brasil, que já previa queda de 8% das vendas desses aparelhos em 2015, para 50 milhões de unidades.

Segundo Reinaldo Sakis, gerente de pesquisas da IDC Brasil, o fim da isenção traz mais um complicador ao cenário já difícil de venda de smartphones no Brasil. “O aumento de impostos traz um problema a mais para um mercado que está ruim”, disse Sakis, citando desaquecimento da demanda devido à menor confiança do consumidor e a depreciação do real frente ao dólar, que elevou custos para os fabricantes de eletroeletrônicos.

Uma forte reversão no mercado de smartphones em abril e maio já havia feito a consultoria prever queda nas vendas desses produtos no país em 2015. As vendas dos smartphones caíram 16% em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado, para 3,89 milhões de unidades.

De acordo com Sakis, a indústria de smartphones já teve alta média de 20% nos preços dos aparelhos este ano, devido à valorização média de 30% do dólar, uma vez que os insumos dos aparelhos são importados.

Com o fim da isenção a partir de 1º de dezembro, os preços deverão sofrer novos aumentos, especialmente a partir do primeiro trimestre de 2016. O analista acredita, porém, que algumas redes varejistas poderão preferir manter os preços no fim de 2015, época de maior demanda.

Prejuízo

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) disse que foi surpreendida pela MP. “O grande prejudicado será o consumidor, para quem a isenção do PIS/Cofins é totalmente repassada”, disse a associação, completando que a isenção foi essencial para reduzir o mercado ilegal de produtos de informática.

Incerteza sobre finanças públicas dificulta recuperação

Ao anunciar que vai fechar 2016 com as contas no vermelho com um déficit primário de R$ 30,5 bilhões, o governo deixa em aberto o destino das finanças do país. Em meio à incerteza, a perspectiva de mais um ano de déficit já tem reflexos na economia, aprofundando a desconfiança de investidores, o que alimenta a recessão.

Se o resultado negativo previsto na proposta do governo se confirmar em 2016, o Brasil pode completar sequência inédita de três anos de déficit nas contas públicas. Em 2014, o rombo foi de R$ 32,53 bilhões, ou 0,63% do Produto Interno Bruto (PIB), o primeiro desde 1997, quando começou a série histórica do Tesouro Nacional.

Para este ano, a expectativa de economistas ouvidos pelo Banco Central vem caindo e já está em 0% do PIB, indicando que eles não esperam que o governo consiga poupar para pagar os juros da dívida pública. Com o novo anúncio, a previsão do mercado para 2016, que estava em 0,5% de superávit na semana passada, também deve passar para o terreno negativo. O governo havia se comprometido no ano passado a economizar 1,2% do PIB este ano e 2% em 2016. Em julho, a equipe econômica reduziu a meta para 0,15% em 2015 e 0,7% em 2016. Agora, espera-se déficit.

Margarida Gutierrez, economista do Coppead/UFRJ e especialista em contas públicas, afirma que será difícil mudar esse cenário. Para ela, o ajuste fiscal proposto pela equipe econômica sofreu forte influência das disputas políticas e, agora, está nas mãos do Congresso amenizar a situação do quadro fiscal.

“Se o governo conseguir forçar o Congresso, pode propor uma reforma previdenciária. Outras possibilidades são a alteração do PIS/Cofins e a reforma do ICMS. Há ainda a possibilidade de retomar leilões de concessões para ter receita extraordinária”, enumera Margarida.

Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, lembra que a CPMF, deixada de lado no projeto apresentado ontem, pode ser uma saída, mas precisaria ser remodelada. “ Talvez a CPMF, em um outro formato, com uma duração diferente, possa ser uma solução”, afirma.

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