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Uma das contas em aberto no setor elétrico é a compensação a investimentos feitos por transmissoras de energia que tiveram contratos antecipados. | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Uma das contas em aberto no setor elétrico é a compensação a investimentos feitos por transmissoras de energia que tiveram contratos antecipados.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

A chuva dentro da média histórica em maio deve dar uma folga na pressão climática sobre o setor de energia. Mas o cenário ainda está longe da normalidade. Além de o sistema depender da geração térmica para compensar o nível baixo dos reservatórios, há uma conta bilionária a ser paga que pode engrossar ainda mais a tarifa de energia, inflada por um aumento médio de 40% só no primeiro trimestre deste ano.

Embora São Pedro tenha sua parcela de culpa na crise do setor elétrico, boa parte do passivo estimado em R$ 66 bilhões pela consultoria PSR e pelo Instituto Ilumina tem origem na mudança regulatória promovida no setor pela MP 579, que, entre outras medidas, antecipou a renovação das concessões em troca de um desconto de 20% na tarifa de energia. A maior fatia dessa conta – equivalente a R$ 27,6 bilhões – está relacionada justamente às indenizações ofertadas como contrapartida às empresas de geração e transmissão que aceitaram antecipar seus contratos.

Se essa conta bilionária fosse incorporada de uma só vez à tarifa de energia, teríamos um aumento médio de 33% na conta de luz, mas a PSR não acredita em um repasse único ao consumidor. O mais provável é que esse valor seja diluído em encargos na conta de luz nos próximos anos. Segundo Priscila Lino, sócia da consultoria, alguns desses custos já estão equacionados, como a dívida da Eletrobras coma a Petrobras, parcelada em 10 anos a partir de 2015. Outros, porém, não têm recurso disponível, como é o caso das indenizações. “O recurso previsto deveria vir da conta Reserva Global de Reversão (RGR), que está zerada. Ou o Tesouro banca ou isso terá de ser pago por meio de encargos na tarifa”, afirma Priscila.

Zero a Zero

Segundo o levantamento da consultoria PSR, a Medida Provisória 579, implantada no fim de 2012, acabou com a fase de entusiasmo do setor iniciada em 2004, quando os leilões ganharam credibilidade e o custo da energia foi reduzido. Sem condições de manter os aportes prometidos para subsidiar a redução na conta de luz, e pego no contrapé pela maior estiagem dos últimos anos, o governo foi obrigado a repassar parte dos custos para a tarifa. O resultado é que no fim de 2014 elas haviam voltado ao patamar de antes do desconto.

O levantamento da PSR dá uma ordem de grandeza ao passivo existente no setor elétrico. Como ainda há valores indefinidos na questão das indenizações, o custo pode, inclusive, ser maior. Por outro lado, Priscila lembra também que há fatores que podem contribuir para a redução das tarifas, entre eles, a melhora do cenário hídrico, que reduziria a dependência térmica e o custo das bandeiras tarifárias. Na prática, porém, continuamos dependendo de chuvas abundantes para que o setor possa respirar mais aliviado. Pelo menos em 2015, a pressão sobre as tarifas vai continuar, avalia a consultora.

O cálculo R$ 64 bilhões feito pela PSR agrega ainda outros custos, a maioria deles sem provisionamento definido pelo governo, como a insuficiência dos recursos das bandeiras tarifárias, medidas emergenciais para reforçar a oferta de energia, ajuda às hidrelétricas devido ao risco hidrológico e dívida da Eletrobras com a Petrobras.

O Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina) lista outro item que engrossa em R$ 2 bilhões o passivo do setor. Trata-se da defasagem das tarifas de operação e manutenção das usinas nos contratos firmados pela MP, que estão abaixo do custo real de operação, avalia Roberto Pereira D’Araújo, diretor do Ilumina. Segundo ele, a maioria dessas empresas mantém investimentos à espera da contrapartida tarifária.

“Quando esses custos forem anunciados vai ser uma bomba. Os consumidores não conhecem o tamanho desse rombo. O sistema elétrico brasileiro está caminhando para ter a energia mais cara do mundo, uma situação completamente esdrúxula se comparada à de países com uma matriz semelhante à nossa”, afirma D’Araújo.

Sem luz no fim do túnel

Além dos custos que serão repassados à tarifa de energia dos consumidores nos próximos cinco anos, o setor acumula uma conta bilionária que ainda não tem provisionamento definido. A experiência acumulada nos últimos dois anos indica que ela deve recair sobre o bolso do consumidor

Indenizações de ativos de transmissão existentes até 2000

Pela proposta original da MP 579, os ativos de transmissão anteriores ao ano 2000 ainda não amortizados não seriam indenizados, mas o governo voltou atrás e decidiu indenizar as transmissoras. O acordo prevê que as empresas enviem ao governo laudos técnicos com estimativas do valor a ser indenizado. Até o momento, o saldo das reivindicações dessas empresas, que exclui Furnas, por exemplo, soma R$ 17,9 bilhões.
R$ 17,9 bi
R$ 11,5 bi
R$ 10,5 bi
R$ 9,7 bi
R$ 8,1 bi
R$ 6,1 bi
R$ 2,0 bi

TOTAL ACUMULADO DA CONTA DO SETOR ELéTRICO

é a soma do passivo do setor elétrico com custos que, em sua grande maioria, não tem recursos previstos para pagamento. Se essa conta bilionária fosse repassada de uma só vez às tarifas de energia, os consumidores teriam um aumento médio de 33% na conta de luz. O mais provável é que esse valor seja repassado como encargo parcela do na tarifa de energia.

Fonte: Redação. Infografia: Gazeta do Povo.

Em ano atípico, conta de luz vai subir duas vezes

Em pouco mais de um mês, a conta de luz dos consumidores paranaenses vai subir pela segunda vez em 2015. Até o fim de maio ou início de junho, a Copel deve entregar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o pleito do reajuste tarifário anual, cuja data de aplicação é dia 24 de junho. Este será o segundo reajuste na conta de luz neste ano. O primeiro, de 36,8%, em média, o consumidor já sente no bolso desde 2 de março, quanto entrou em vigor o reajuste tarifário extraordinário autorizado pelo governo para tentar sanar os problemas de caixa das distribuidoras, causados pela compra de energia mais cara no mercado livre para atender a demanda, pelo aumento no repasse da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), e pelo reajuste da energia de Itaipu em 46%, em dólar.

O valor total do segundo reajuste na tarifa da Copel em 2015 ainda é uma incógnita. De certo, existem pelo menos 15% que foram diferidos dos reajustes de 2013 e 2014. No ano passado, a Aneel autorizou um aumento médio de 35% na tarifa da companhia – com impacto de 33,4% para consumidores residenciais, e 37,3% para consumidores industriais –, mas o governo estadual decidiu aplicar apenas 24,6% do aumento, adiando cerca de 10,1% para o reajuste deste ano. Somam-se a esse valor, mais 5% que haviam sido diferidos no reajuste de 2013, e que ainda não foram repassados. Além dos custos operacionais do último ano, vão compor a tarifa da Copel as despesas da chamada “parcela A”, referente aos custos não gerenciáveis, ou seja, aqueles sobre os quais a empresa não tem controle. (CJ)

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