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Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: alta do dólar volta a pressionar alta da Selic nas próximas reuniões do Copom. | Ueslei Marcelino/Reuters
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central: alta do dólar volta a pressionar alta da Selic nas próximas reuniões do Copom.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O Banco Central interrompeu a sequência de sete altas e manteve nesta quarta-feira (2) a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, conforme esperado pelo mercado. Declarações de autoridades do próprio Banco Central já apontavam para a manutenção da taxa. Em agosto, Luiz Awazu Pereira, diretor de Política Econômica do BC, afirmou que a taxa básica deve ficar no patamar atual por período “suficientemente prolongado”.

INFOGRÁFICO: acompanhe a evolução da taxa Selic ao longo dos últimos anos

A inflação, preocupação maior do BC, deve começar a ceder no terceiro trimestre do ano. O IPCA acumulado em 12 meses até julho foi de 9,56%. Até o fim de 2015, economistas ouvidos na pesquisa Focus, do Banco Central, veem o índice oficial em 9,28%. Em 2016, a estimativa é que o IPCA termine em 5,51%.

Já a Selic deve encerrar 2015 em 14,25%, de acordo com o Focus. Para o próximo ano, porém, a expectativa é que a taxa básica recue para 12%.

No entanto, a recente disparada do dólar eleva as possibilidades de que o Banco Central volte a elevar a Selic nas duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) do ano, em outubro e novembro. Desde julho, a moeda americana acumulou valorização de mais de 20%.

Atenção aos gastos

Com a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 14,25% ao ano, os juros médios cobrados das pessoas físicas serão de 126,61% ao ano (ou 7,06% ao mês), segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).

Em junho, o juro médio ao consumidor cobrado nas operações de crédito também foi de 7,06% ao mês (ou 126,74% ao ano).

Com a Selic neste patamar, é preciso ficar mais atento às contas mensais para não se endividar. “Se o consumidor tiver minimamente percepção do cenário econômico, vai diminuir as compras e evitar dívidas”, afirma Eduardo Mekitarian, professor da faculdade de economia da FAAP. Para Mauro Calil, especialista de finanças do banco Ourinvest, a principal dica é não entrar em nenhum empréstimo bancário.

Ao elevar a Selic, o BC tenta conter o aumento dos preços, pois torna os empréstimos mais caros. Com isso, inibe o consumo, o que contribuiria para o controle da inflação. No entanto, com a perspectiva de que os sucessivos aumentos da Selic – foram sete até agora desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff – comecem finalmente a afetar o IPCA, a autoridade monetária optaria por deixar a taxa em seu atual patamar.

Além disso, a desaceleração da economia preocupa. O país atualmente está em recessão, condição caracterizada por dois trimestres seguidos de queda do PIB. O indicador de produção industrial divulgado nesta quarta-feira reforçou o pessimismo em relação ao desempenho econômico ao mostrar forte queda de 1,5% na passagem de junho para julho.

No radar

A expectativa de economistas é que a Selic deve voltar a ceder no próximo ano, mas o ritmo da queda vai ser determinado pelo efeito da desaceleração da economia chinesa e a melhora do cenário fiscal brasileiro sobre a taxa de câmbio. “O cenário negativo das moedas emergentes com a China e a dinâmica recente do real/dólar ‘tiram força’ de recuo da taxa Selic no segundo trimestre de 2016. Nosso cenário base para a flexibilização monetária é de 12,5% até o final de dezembro de 2016”, disse Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global.

A desvalorização do real em relação ao dólar é um dos fatores que pressionam a inflação, que só deve efetivamente convergir para o centro da meta a partir de 2017, afirma o economista do banco americano Goldman Sachs Alberto Ramos.

Em agosto, principais economias mantiveram juros estáveis

Ao manter inalterada a taxa básica de juros, o Brasil teve um comportamento semelhante ao das principais economias do mundo, em um momento de expectativa e turbulência global. Em agosto, 15 de 31 países acompanhados pelo Itaú Unibanco anunciaram decisões de política monetária. Desse grupo, só a China cortou juros (de 4,85% ao ano para 4,6% ao ano) como forma de estimular a atividade doméstica, que dá sinais de desaceleração.

Entre os países que deixaram as taxas inalteradas, estão emergentes como Índia (7,25% ao ano), Indonésia (7,5%) e Turquia (7,5%), que mantiveram juros altos. Na outra ponta do ranking, economias desenvolvidas continuaram com juros próximos de zero. O Reino Unido optou por seguir com juros de 0,5% ao ano, enquanto o Japão manteve taxa de 0,1% ao ano.

O momento de calmaria é influenciado, entre outros fatores, pela expectativa em relação às próximas decisões sobre a política monetária nos EUA. Daqui a duas semanas, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) anunciará se elevará ou não os juros.

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