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Maria Silvia Bastos Marques, nova presidente do BNDES, atuou no setor de desestatização do banco nos anos 1990. | Rudy Trindade/Folhapress
Maria Silvia Bastos Marques, nova presidente do BNDES, atuou no setor de desestatização do banco nos anos 1990.| Foto: Rudy Trindade/Folhapress

Depois de quase uma década sob o comando de Luciano Coutinho, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) agora será presidido pela economista Maria Silvia Bastos Marques, indicada segunda-feira (16) pelo presidente em exercício Michel Temer.

Ela assume o cargo com a confiança do setor produtivo e com a expectativa de que enfrente as principais polêmicas da instituição que vicejaram durante as gestões petistas.

Entre os desafios, estão a melhoria da governança e da transparência na instituição, o redirecionamento da atuação do banco, revendo a priorização das “campeãs nacionais”, além da cobrança para a investigação sobre vantagens concedidas a empresas próximas ao governo.

Para enfrentar estes desafios, Temer optou por uma executiva de mercado que já presidiu a Companhia Siderúrgica Nacional e integrou o conselho de administração de empresas como a Petrobras, Vale e Souza Cruz. Entretanto, a credencial que mais se destaca em seu currículo é o cargo de assessora especial para Assuntos de Desestatização do BNDES, que ocupou nos anos 1990.

Para Fabiano Dalto, professor de departamento de economia da UFPR, esse é um sinal claro de que haverá uma retomada da função do banco de gestor das privatizações. “O mais provável é que o BNDES monte logo uma estratégia de venda de participações que tem em diversas empresas e aí, na sequência, passe a vender ativos”, diz. A BNDES Participações tem em carteira R$ 44,5 bilhões em 116 empresas de diversos setores.

De acordo com o ministro do Planejamento, Romero Jucá, o BNDES deve intensificar sua atuação no processo de concessões na ampliação das parcerias público privadas.

Problemas de caixa

Outro aspecto a ser considerado para a nova gestão é a situação do caixa do governo federal. Entre 2010 e 2014, o Tesouro Nacional repassou R$ 227 bilhões para que o BNDES financiasse a atividade de empresas no país. Fabiano Dalto diz que na atual situação o governo deve cessar os aportes ao banco, o que pode prejudicar a expansão do financiamento de pequenas e médias empresas.

Para Claudio Shikida, professor de economia na Universidade Federal de Pelotas, esta pode ser uma chance de o banco gerar infraestrutura para baratear os custos de logística e transporte. “Sendo bem desenhada, um parceria público-privada tende a ser um bom arranjo”, afirma.

Outro modelo de atuação da instituição que deve ser questionado é o foco nas “campeãs nacionais”, grandes empresas brasileiras de atuação global, principalmente as ligadas aos setores de petroquímica, celulose, frigoríficos, siderurgia, suco de laranja e cimento.

Para o presidente da Fiep, Edson Campagnolo, o BNDES deveria rever sua opção pelas “megaempresas”. “A expectativa que temos é de que olhem também para os grandes e médios empresários, não só com políticas de investimento, mas também no aspecto de capital de giro”, diz. Para Campagnolo, as pequenas empresas já estão contempladas pelas políticas do banco dentro do Cartão BNDES.

Banco é cobrado para ampliar transparência

Um dos principais questionamentos sobre a atuação do BNDES é a falta de transparência de seus atos. Um exemplo dessa opacidade é o financiamento de obras no exterior, que até junho de 2015 vinha sendo mantido em sigilo pelo banco.

Entre 2002 e o ano passado, o BNDES destinou US$ 14 bilhões para empresas brasileiras atuarem no exterior. Deste total, 93% foram destinados a empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato. A Odebrecht recebeu US$ 8,9 bilhões; a Andrade Gutierrez US$ 2,8 bilhões; a Camargo Corrêa US$ 627 milhões; a Queiroz Galvão US$ 388 milhões; e a OAS US$ 354 milhões.

Este modo de atuação ensejou diversas suspeitas em relação ao banco, que tem sido criticado por priorizar empresas ligadas ao governo – como nos casos emblemáticos dos grupos Odebrecht e Schahin.

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