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Comércio está entre os setores que mais tiveram novos registros de Microempreendedores Individuais (MEIs) abertos no estado, seguido pela área de serviços | Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Comércio está entre os setores que mais tiveram novos registros de Microempreendedores Individuais (MEIs) abertos no estado, seguido pela área de serviços| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Pessimismo prolongado

Além da fraca geração de emprego, há outros fatores que não contribuem para uma recuperação nos próximos meses. "Temos constante déficit no comércio exterior e o saldo positivo esperado com a Copa não foi concretizado. A tendência é retomarmos o cenário econômico de 2009, no pós-crise", afirma o presidente do Conselho Superior do IBPT, Gilberto Amaral.

Balanço da Junta Comercial do Paraná (Jucepar) mostra que o número de novas empresas no estado caiu 8,7% entre os primeiros trimestres de 2013 e 2014, quando descontados os registros de Microempreendedores Individuais (MEIs). Entre janeiro e março de 2014, o Paraná teve 11.594 novas empresas, contra 12.709 no mesmo período do ano passado.

INFOGRÁFICO: Maior parte das empresas criadas no primeiro trimestre é de MEIs

Quando os MEIs entram na conta, o saldo é positivo, com crescimento de 10% no total de novos negócios, índice quase equivalente à redução registrada nas outras formas societárias. "É uma variação pífia, condizente com o cenário econômico do país. O clima de instabilidade na política e na economia afeta a ímpeto empreendedor", avalia o presidente da Jucepar, Ardisson Naim Akel.

Para o economista Paulo Sérgio Sarmento, da consultoria MS Business, de São Paulo, o ritmo reduzido de criação de novos negócios é coerente com o comportamento de outras áreas da economia, como a queda nas vendas, a produção industrial em desaceleração e o aumento da inadimplência. "O recuo do empresário é natural diante do crédito difícil, do crescimento baixo do país e dos altos custos. São muitos riscos que precisam ser assumidos", explica.

A situação deve ficar ainda mais complicada no segundo semestre, por causa dos índices de inflação e da elevação de preços controlados, como gasolina e energia elétrica, que, na opinião de Sarmento, não serão sustentados nem mesmo até as eleições de outubro.

Os dados do primeiro semestre de 2014 da Jucepar confirmam a tendência que o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) havia identificado no primeiro levantamento do ano no Perfil Empresarial Brasileiro no primeiro quadrimestre. Entre janeiro e abril de 2014, o país registrou uma queda de 12,5% no número de novos negócios, comparado ao mesmo período do ano passado.

No levantamento do IBPT, indústria e comércio foram as áreas mais afetadas, segundo dados do Empresômetro da entidade, que faz o acompanhamento em tempo real da abertura de empresas em todo o país.

Ciclo vicioso

No ranking do IBPT, o Paraná não tem desempenho pior do que outros estados e ainda está entre os que mais registram criação de empresas, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Para o presidente do Conselho Superior do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, coordenador de estudos da entidade, a redução de novos negócios é, ao mesmo tempo, um sinal de desaceleração econômica e um fator que contribui ainda mais para um cenário estagnado.

"A menor disposição para investir vai ter impacto em outras áreas, como na geração de emprego, pois os novos empreendimentos são responsáveis pelas novas contratações. Como o empresário não identifica oportunidades em que a economia vai renumerar o capital investido, não faz novas apostas, e barra o crescimento da economia. É um ciclo vicioso", afirma Amaral.

MEIs distorcem saldo final

Os números dos registros de Microempreendedores Individuais (MEIs) sugerem um cenário mais otimista na geração de novos negócios. Por causa do volume de MEIs apontado, o saldo de criação de novas empresas parece positivo. Na verdade, porém, grande parte é de formalização de negócios que já existiam e que assumem personalidade jurídica por meio da Lei Complementar 128/2008, que criou condições específicas para legalização da atividade do microempreendedor, caracterizada pelo faturamento anual de até R$ 60 mil e sem participação de outra empresa ou sócio no contrato social.

"A formalização do MEI tem uma questão tributária embutida, em que o empresário garante custos menores", observa Ardisson Naim Akel, presidente da Jucepar. Desde 2009, com a criação do Portal do Empreendedor, o país acumula 4 milhões de MEIs e o Paraná é o sexto estado no ranking nacional desse porte de empresa.

A relevância das MEIs na economia não pode ser descartada. "São menores, mas são empresas. Juntas, têm um impacto importante nas regiões onde atuam. E são os futuros microempresários", defende o consultor Rodrigo Feyerabend, do Sebrae-PR. Em média, um MEI bem trabalhado pode mudar de porte empresarial em quatro ou cinco anos. E é nessa área que o Sebrae concentra esforços, para desenvolver o empresário na gestão do negócio. "Em muitos casos, o empreendedor está focado na produção e abandona a gestão ou nem sabe como lidar com ela. E ele precisa desenvolver habilidades para promover a empresa, como atendimento, exposição do produto e organização financeira, por exemplo", diz Feyerabend.

"Sobrevivente"

Para o economista Paulo Sérgio Sarmento, da MS Business, de São Paulo, o microempreendedor é um sobrevivente na economia brasileira. O mercado restrito, excesso de burocracia e os altos custos tributários dificultam a superação da fase inicial da empresa. "Os micros são fundamentais para alimentar a cadeira econômica, pois geram riquezas, novos clientes e nova rede de fornecedores", diz.

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