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Precisamos admitir que o Brasil é um caso de país que deu errado. Somente em momentos quando vemos as aparências ruindo isso fica tão claro. Foi assim quando escutamos a conversa entre Dilma Rousseff e Lula a respeito de sua nomeação como ministro. Foi assim quando vimos o jeito jocoso de Emilio Odebrecht contar sua relação com o poder. E também com a conversa descontraída entre o presidente Michel Temer e Joesley Batista.

Faz 40 anos que o Brasil vive altos e baixos na economia. Acumulamos títulos de primeira linha: um dos países mais desiguais, um dos mais violentos, um dos menos educados, um dos menos propícios ao empreendedorismo. Podemos ter lá nossas vantagens naturais, mas isso não transforma nossa sociedade em algo melhor. Preferimos, no geral, os atalhos do pessoalismo na gestão pública e a distribuição da riqueza baseada na influência.

Temer mostra na conversa como funciona. Uma pessoa com dinheiro em pouco tempo compra influência. Pode negociar seus problemas nos órgãos públicos e até passar uma ordem para superar a resistência de um ministro que resolveu não ceder. No balcão da política são vendidas facilidades, leis e a Justiça. Nenhum país se desenvolve com um modelo desses de relação entre o que é público e o que é privado.

O presidente se gaba de conhecer a Constituição. Deveria saber qual é o seu dever. Mas deveres no Brasil são para quem não tem opção, ao que parece. Quem pode, supera os deveres.

O país deu errado porque não entendemos para que serve o Estado. Ele deve garantir uma organização mínima para que a sociedade se desenvolva. Não pode ser apropriado por grupos de interesse, nem ter suas decisões comercializadas. O acesso dos cidadãos precisa ser o mais equânime possível.

Os 40 anos de semiestagnação e a maior recessão da história não foram suficientes para uma mudança profunda. Pelo menos não por enquanto. Pelo menos não a ponto de o presidente entender que é inaceitável ter a conversa que teve sem ferir a Constituição que diz defender. A resistência de Temer em pedir sua renúncia e a apatia da reação da sociedade são sintomas graves.

Também é preocupante o presidente usar o momento da economia como argumento para não renunciar. A economia não é um ente que depende dele para existir. É a representação da atividade que todos os brasileiros empreendem diariamente. É direito de todos que seu trabalho sirva para a construção de um país melhor – algo aparentemente longe do alcance de alguém disposto a mandar um ministro atender ao desejo de uma empresa contra seu discernimento.

Esse modelo político gerou um país distorcido, inclusive nas coisas que o atual governo quer reformar. O sucesso de alguns está significando a perda de outros, algo inaceitável em uma democracia. A necessidade de mudanças no Brasil vai muito além das duas reformas pretendidas por Temer. Elas terão de continuar, independente de quem esteja no governo.

Em alta

Turbulência

Os mercados mostraram na quinta-feira que a instabilidade política custa caro. A disparada do dólar e a queda da bolsa lembraram a eleição de 2002 e a crise de 1999.

Em baixa

Juros

Um dia antes da detonação da crise política, o Itaú soltou um relatório dizendo que a taxa de juros pode cair para 7,5% no atual ciclo de cortes. A tendência continua, apesar dos políticos.

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