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Escrevo sobre Economia há uns 20 anos, mais ou menos. Dei umas escorregadas em outras áreas do jornalismo, mas a maior parte da minha carreira foi nesse segmento. Nesse intervalo, alguns temas entraram e saíram da pauta. Uns poucos, no entanto, se mantiveram firmes no noticiário. Desses, talvez o mais persistente tenha sido o da Previdência.

Recuando mais, posso me lembrar de quando era criança e ouvia meus avós falando sobre o achatamento do valor dos benefícios, que o valor que recebiam não correspondia ao teto pelo qual recolhiam e à sua expectativa de remuneração. Concluo, com base nesses dados coletados do dia a dia de entrevistas formais e conversas na mesa do café, que a gestão dos recursos da Previdência Social é um problema que já percorreu gerações, sem que ninguém se dispusesse a resolvê-lo.

Em anos recentes, esse achatamento encontrou inclusive sua fórmula matemática. O valor do salário mínimo, de acordo com modelo implantado no governo Lula (e cuja sobrevivência foi prometida pela equipe de Temer), sobe segundo um modelo em que o porcentual de reajuste equivale à soma da inflação do ano anterior medida pelo INPC mais o crescimento do PIB de dois anos antes. O benefício dos aposentados, entretanto, não é vinculado ao mínimo. Seu reajuste é definido, apenas, pelo INPC.

Isso quer dizer que o salário mínimo sobe mais que o benefício. Como consequência, um número cada vez maior de aposentados que, no passado, ganhava mais que o mínimo, passa a receber essa remuneração básica. E o governo tem dito que, mesmo assim, a conta não fecha, que a Previdência opera com déficit e que será preciso tomar medidas para impedir um colapso.

Estamos em um impasse. O trabalhador, principalmente aquele que se aproxima da época de aposentar-se, não tem culpa alguma pela gestão perdulária que reduziu o sistema de previdência a um cofre arrombado. Porém, como o estrago está feito, é preciso arranjar um jeito de pagar as contas. E o jeito que o Brasil vem dando, há muitos anos, é pagar um pouco menos a cada um, de modo a conseguir dinheiro para pagar a todos. Uma segunda forma entrou em vigor mais recentemente: adiar a aposentadoria, diminuindo assim o número de entrantes no sistema e prolongando o tempo de contribuição.

Há gerações o Brasil vem adiando uma discussão séria sobre o problema, e o resultado disso foi um aprofundamento do problema. Não é só o déficit atual, mas o futuro, provocado, entre outras razões, pelo aumento (bem-vindo) do tempo de vida do brasileiro. Agora, o atual governo (interino, é bom lembrar) fala em mudar a fórmula, preservando os direitos adquiridos. Ou seja, eventuais mudanças vão valer para quem ainda não contribui para a Previdência.

Ou seja, empurra-se o problema (ou a solução, a essa hora tanto faz) para a próxima geração.

E aí?

Aí que quem quer ter um dinheirinho a mais na velhice precisa ter uma reserva. Não precisa ser nos fundos de previdência privada (que, muitas vezes, têm taxas bastante altas), embora eles tenham vantagens principalmente para quem não tem disciplina para poupar. Pode ser em imóveis, ações que rendam dividendos, renda fixa... Importante é não depender só da Previdência. Sabe-se lá o que vai restar dela daqui a 30 ou 40 anos.

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