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Talvez o leitor tenha se assustado com a notícia de que a taxa de juros cobrada do cheque especial tenha alcançado o nível mais alto desde o início da série histórica, em julho de 1994 (ou seja, desde a adoção do real). A taxa foi de 300,76% ao ano no mês passado, contra 293,95% em julho de 1994 – primeiro mês da pesquisa e o mais alto até agora.

Mais surpreendente do que isso é o histórico desse número. No pós-Real, a taxa do cheque especial caiu com alguma rapidez, respondendo a um processo de normalização da economia – inflação menor precisa resultar em juros menores para operações como essa; a elevação da renda das famílias nos primeiros anos da nova moeda também baixou a inadimplência, abrindo caminho para juros mais baixos. Dois anos e meio depois, em janeiro de 1997, a taxa havia caído pela metade: era de 142,11% ao ano, em média.

Foi uma queda substancial, embora os juros ainda fossem tremendamente altos. Todos desejavam que eles caíssem ainda mais, mas não foi o que aconteceu. As taxas flutuaram entre os 140% e os 180% ao ano (exceto por alguns picos acima disso, em 1998/99). Atingiram o mínimo histórico em maio de 2013 – 136,47% ao ano.

Foi a calma antes da tempestade. De lá para cá, os juros médios subiram a cada mês, a ponto de quebrar o recorde agora.

Se já é ruim contrair dívidas com juros de 136% ao ano, fica muito pior com 308%. E extremamente arriscado quando a taxa é de 449% ao ano – essa é a taxa do rotativo do cartão de crédito, outro recorde registrado pelo Banco Central no último levantamento sobre crédito. A inadimplência também bate recorde: 5,6% do saldo dos empréstimos com recursos livres (uma conta que exclui o crédito imobiliário). E o desemprego está em alta. Pouca gente hoje pode dizer de boca cheia que tem seu cargo garantido.

Dia desses, a tevê mostrou o drama de aposentados do Rio de Janeiro, cujos benefícios estão em atraso. Histórias terríveis e dramáticas de quem trabalhou a vida inteira e, agora, não tem dinheiro sequer para comprar comida. Além da situação assustadora do governo de lá, o caso revela uma tragédia nacional: a falta de uma reserva financeira familiar. É preciso ter dinheiro guardado para emergências.

Estamos em meio a uma crise econômica, cuja solução depende de o país resolver sua crise política. E esta vai longe. Engana-se quem acha que a saída de Dilma Rousseff do governo trará o fim da crise. Virá o julgamento das contas da campanha passada, que podem levar à perda do mandato de Temer, a pressão pela cassação de Eduardo Cunha, as investigações sobre Renan Calheiros... Nosso pior cenário pode levar a uma instabilidade mais prolongada. Quem sabe o que pode acontecer com a economia se o caminho for esse?

Conduzir as finanças da casa sob esses juros quatrocentões exige muito cuidado. Mais do que nunca, a regra é não gastar mais do que você ganha e, se possível, manter uma reserva financeira.

Escreva!

Mande seus sinais de fumaça para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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