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Na quarta-feira passada saíram dados atualizados do Banco Central sobre os juros praticados no país – um relatório mensal divulgado à imprensa, denominado “Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro”. Ganhou destaque nos portais de notícias com um aumento nos juros do cheque especial (de 311,5% ao ano, em maio, para 315,7%, em junho) e uma bastante comemorada redução nos juros do cartão de crédito (de 471,5% ao ano para 470,9%, no mesmo período).

Perceba que a redução dos juros do cartão foram de 0,6 ponto porcentual em um universo de quase 500. Calculando porcentagem sobre porcentagem, percebemos que a variação de um mês para o outro foi de 0,12% do valor global dos juros. Ridículo.

Por qualquer ângulo que você olhe, os juros parecem altos demais. Bancos e administradoras falam de custos administrativos altos, de juros básicos altos (os juros de referência, que são aqueles que o governo paga em suas operações), inadimplência alta, que justificariam os números. Mesmo assim, parece muito.

Proponho aos meus pacientes leitores uma explicação alternativa. Ela vai exigir um exercício de imaginação. Digamos que vocês tenham uma loja em um local fechado e de muito movimento. Um café na área de embarque de um aeroporto, por exemplo. Lá dentro, o custo do aluguel é alto, então você tem um custo de operação que parte de uma base elevada. Mas o que faz os cafés de aeroporto cobrarem valores bem mais altos que a média pelos seus cafezinhos e pães de queijo não é exatamente esse custo de operação, mas o fato de que os clientes desejam o seu produto e estão dispostos a pagar o valor pedido.

E a concorrência? Por que não derruba o preço?

O leitor viajante já sabe que o café mais barato dentro de um terminal de passageiros será sempre mais caro que os cafés caros situados fora do aeroporto. A concorrência não influi tanto porque ela se refere apenas aos outros cafés da área de embarque. Se alguém cobra menos lá fora, isso é irrelevante – afinal, o passageiro não pode sair da área de embarque. Quando o concorrente se instala nessa área, sabe que pagará um aluguel elevado, mas espera ser compensado pela margem de lucro maior porque pressupõe que poderá cobrar mais. Assim, perpetua-se o processo. Nenhum dos concorrentes baixará muito o preço, e isso não é por cartelização, mas simplesmente por entenderem que essa é a regra. Os clientes pagam esse preço. Por que então baixar?

O mesmo se processa com bancos e cartões de crédito. Trata-se de um mercado com limitado número de operadores, que estão nessa área justamente por sua lucratividade. Se o consumidor brasileiro continua aceitando os juros nos patamares atuais, por que então eles baixariam?

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