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Há menos de um mês (na última coluna antes do Natal), escrevi que tudo o que o governo Temer vinha falando sobre o saque das contas inativas do FGTS era balão de ensaio. Esta é uma expressão tomada de empréstimo da química, e se refere àqueles tubos de vidro em que são combinadas substâncias, em laboratório. Na comunicação, chamamos de balão de ensaio a divulgação experimental de boatos para testar a aprovação de alguma ideia por parte da opinião pública. Se a população não gostar, desmente-se tudo e pronto.

Ainda no fim de 2016, começou a parecer que o papo era sério, com o próprio presidente dando detalhes sobre o assunto em um discurso e, por fim, editando uma medida provisória. Pois na quarta-feira (18) a novela teve novos capítulos. Um jornal – a Folha de S. Paulo – publicou reportagem em que, sem citar nomes, diz que o governo pretenderia limitar os saques, de forma que valores “altos” não fossem retirados do sistema. Seria uma forma de conduzir o dinheiro para o consumo e o pagamento de dívidas, em vez do mercado financeiro.

Não era uma notícia de verdade, mas o resultado do trabalho dos cientistas malucos do governo com seus balões de ensaio. Como a repercussão foi negativa, horas depois o ministro Eliseu Padilha saiu do laboratório, dizendo que o presidente já havia sido consultado e deixado claro que não haveria limites para os saques. Uma narrativa que, embora nos faça pensar que os auxiliares do presidente andam batendo cabeça em temas importantes, faz Temer aparecer como o bonzinho da história.

Em seu primeiro discurso como presidente interino, em maio, Temer citou seis vezes a palavra “reforma”. No primeiro pronunciamento depois da posse definitiva, em agosto, foram mais cinco vezes. Por “reforma”, entendem-se mudanças extensivas em sistemas legais importantes do país. A da Previdência já está até no Congresso. A julgar pelo caso das mudanças no saque do FGTS, os projetos serão testados e retestados na mídia antes de serem apresentados de verdade.

Por mais que faça parte do processo, isso é um bocado ruim. A população não sabe muito bem em quem confiar, e vai acabar culpando a imprensa – afinal, a culpa é sempre dela (*ironia*) –, quando esta na verdade está sendo semeada por fontes oficiais que não querem se mostrar. Para os mercados, a tática tende a provocar uma volatilidade que poderia ser reduzida. Mas acostume-se: vai ser assim.

Ainda o FGTS

Repito o que escrevi uma vez: o FGTS é a versão financeira do cárcere privado – um recurso particular, ao qual se nega o direito de ir e vir.

Pausa

O colunista vai tirar umas curtas férias. Financês volta no dia 10 de fevereiro. Cuide-se!

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