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| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O IPCA do mês passado, o mais baixo para janeiro em 38 anos de medição do IBGE, confirmou a tendência de forte queda da inflação. Em um ano, o índice acumulado em 12 meses caiu pela metade, de 10,71% para 5,35%, o que aumenta as chances de que termine 2017 perto da meta de 4,5% ou até abaixo, algo que não ocorre desde 2009.

O Brasil continua distante de uma inflação de “primeiro mundo”. Mas a recente desaceleração – efeito da recessão e dos juros altos – animou o Banco Central a preparar o terreno para que, daqui a alguns anos, os índices de preços baixem para níveis mais civilizados.

INFOGRÁFICO: Brasil constantemente supera as metas de inflação

Na semana passada, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, disse que “no longo prazo” o país vai caminhar para uma meta de inflação mais baixa, próxima de 3% ao ano. Se for verdade, os juros também tendem a ser menores – e de forma duradoura – lá na frente.

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Muitos economistas concordam que há tempos não havia momento tão propício para se pensar em revisão da meta. Ela não muda desde 2005 e deve continuar a mesma até 2018, pelo menos. Houve oportunidade semelhante em 2009, mas na época o governo investiu no pacote de estímulo à economia que ajudou o país a sair mais rápido da crise financeira internacional.

Mas há quem considere a discussão prematura. “A gente acaba de sair de um índice de 6,29% no ano passado e de 10,67% no anterior. Devemos primeiro entregar inflação na meta, o que não fazemos há muito tempo, e ver como ela vai se comportar após a recuperação da atividade econômica”, avalia Leonardo França Costa, economista da Rosenberg Associados.

Mais otimista, Salomão Quadros, superintendente adjunto para inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), crê que a evolução do IPCA nos últimos meses e o teto para os gastos públicos já autorizam um “descongelamento” da meta de 2019 em diante. “Estamos criando condições para que a redução da inflação não seja uma coisa acidental, temporária. Não precisa pôr a meta em 3% de uma vez, mas pode começar baixando para 4,25% ou 4%”, sugere.

Quadros considera que o Banco Central conseguiu “ancorar” as expectativas, o que deve evitar uma alta mais forte de preços quando a economia se recuperar. “Até porque não voltaremos ao pleno emprego imediatamente. E nesse meio tempo mudanças institucionais como o teto de gastos e a reforma da Previdência terão tempo para se consolidar.”

Essas reformas são importantes, segundo ele, porque mudam regras que faziam as despesas públicas crescerem mais rápido que a inflação, o que realimentava as altas de preços.

A meta para 2019 será definida em junho pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que preside o CMN, deu a entender em suas últimas declarações que concorda com uma meta mais baixa no futuro, mas sinalizou uma transição suave. Para ele, baixar logo a 3% seria “uma queda um pouco brusca, para dizer o mínimo”.

O economista Rafael Gonçalves Cardoso, da Daycoval Investimentos, vê espaço para uma meta de 4% em 2019 ou mesmo em 2018. “Estamos com a faca e o queijo na mão”, diz. “A inflação está em trajetória de queda e o ritmo fraco da atividade dificulta qualquer repasse de custos aos preços. As projeções do próprio Banco Central já apontam para um IPCA ligeiramente abaixo de 4% no ano que vem.”

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As cinco instituições que mais acertam projeções econômicas – o grupo “top 5” do Boletim Focus, do Banco Central – preveem inflação em 4,45% no fim do ano, ligeiramente abaixo da meta. Um bom motivo para acelerar o corte da taxa básica de juros (Selic), mas não para reduzir a meta de inflação. A avaliação é de economistas como o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, que dias atrás declarou que a prioridade agora é fazer a economia crescer.

O raciocínio é que, para baixar mais a inflação, seria preciso manter os juros altos por mais tempo. O que, por consequência, estenderia a recessão, que já dura quase três anos. “Para levar a inflação a 3%, o Banco Central teria de ser ainda mais duro. O que não parece ser o caso, porque nosso principal problema hoje é a atividade econômica, e não a meta de inflação”, diz Rafael Gonçalves Cardoso, economista da Daycoval Investimentos.

Mas, para a equipe econômica do banco Itaú, é possível diminuir a meta de inflação e, ao mesmo tempo, seguir baixando a taxa Selic – desde outubro, ela recuou de 14,25% para 13% ao ano. Segundo estudo publicado no início do mês, uma redução de 1 ponto porcentual na meta de inflação pode se traduzir numa queda de 0,4 ponto no juro básico.

“A meta mais baixa não limita a queda dos juros. Pelo contrário, se houver credibilidade perfeita [do Banco Central], isso se traduz em inflação e juros nominais mais baixos, ainda que, no curto prazo, os juros reais [já descontada a inflação] possam aumentar”, conclui o trabalho assinado pelos economistas Felipe Salles e Julia Gottlieb.

Coincidência ou não, quem primeiro sugeriu a redução da meta foi Mario Mesquita, que assumiu o cargo de economista-chefe do Itaú no ano passado, substituindo justamente o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn.

Em artigo publicado em meados de dezembro, Mesquita sugeriu que o Brasil copie o exemplo de Israel, que na virada do século aproveitou uma recessão para buscar taxas de inflação cada vez mais baixas – hoje a meta do país é de 1% a 3%.

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