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Aéreas brasileiras amargaram prejuízo líquido de R$ 3 bilhões nos primeiro nove meses de 2015. | Antônio More/
Gazeta do Povo
Aéreas brasileiras amargaram prejuízo líquido de R$ 3 bilhões nos primeiro nove meses de 2015.| Foto: Antônio More/ Gazeta do Povo

O cenário de crise vivido pelas empresas aéreas brasileiras em 2015, e que deve prosseguir neste ano, intensificou a mobilização do governo federal e entidades do setor para a implantação de medidas que possam aliviar o caixa das companhias. Segundo balanços financeiros compilados pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as quatro maiores empresas do setor – Gol, TAM, Azul e Avianca – amargaram um prejuízo líquido de R$ 3 bilhões nos primeiro nove meses do ano passado. Com a demanda doméstica de passageiros despencando no último trimestre, a expectativa é que o rombo aumente ainda mais após a divulgação dos números anuais.

INFOGRÁFICO: Veja gráfico que mostra a queda na oferta e na demanda por passagens aéreas

Os últimos meses de 2015 marcaram o fim de um ciclo de crescimento do setor no mercado doméstico – em dezembro, a demanda de passageiros registrou o quinto mês seguido de queda, após um período de 22 meses de alta. A diminuição brusca no número de viajantes já seria motivo suficiente de preocupação para as companhias, mas foi acompanhada, ao longo do ano, pela valorização do dólar, que chegou perto de 50%.

“Uma companhia aérea tem boa parte dos passivos em moeda estrangeiras, enquanto a maior parte da receita vem da moeda nacional, o que gera por aqui um impacto na despesa financeira devido à desvalorização do real. Nem mesmo a redução no preço do barril de petróleo, que influencia no valor do combustível de aviação, foi percebida no custo final das empresas”, explica Marcio Peppe, sócio da KPMG no Brasil.

Entre as medidas em estudo para tentar reverter, ou ao menos amenizar, o prejuízo das aéreas, está a possibilidade de companhias estrangeiras poderem deter até 100% do capital de uma empresa brasileira – hoje, essa fatia está restrita a 20%. A notícia de que o governo federal pretende apresentar um projeto de lei sobre o tema ao Congresso, divulgada no início do mês pelo jornal Valor Econômico, fez com que as ações da Gol disparassem 50%, corroborando a avaliação de que a empresa, que tem como sócios a Delta Air Lines e a Air France, seria a mais beneficiada pela mudança.

“O fato de se discutir a ideia já é um avanço, uma mostra de boa vontade por parte do governo. Mas, como isso passa necessariamente por uma alteração na legislação e aprovação do Congresso, é difícil dizer se será colocada em prática em breve”, afirma Peppe.

Abertura

A proposta de se abrir o capital das companhias aéreas locais para estrangeiros não é nova. Atualmente já há um projeto de lei em trâmite na Câmara dos Deputados, que propõe elevar para no máximo 49% a participação das empresas estrangeiras. No entanto, o projeto, que ainda aguarda parecer de três comissões, dá margem para que esse teto seja ultrapassado, o que exigiria autorização da Anac, Cade e Ministério da Defesa. Segundo o deputado Carlos Eduardo Cadoca (PCdoB- PE), autor da proposta, a intenção é atrair mais investimentos para o setor aéreo do país. “Grandes empresas (estrangeiras) estão prontas para alavancar o mercado aéreo. Falta a permissão”, defende.

Impasse salarial

O setor aéreo ainda tem um abacaxi extra para descascar. Os aeronautas (que inclui pilotos, copilotos e comissários de voo) ameaçam novas paralisações a partir do dia 17 deste mês, quando ocorrerá uma audiência de conciliação no Tribunal Superior do Trabalho entre o sindicato e as empresas aéreas. A categoria reivindica um reajuste salarial de 11%, enquanto as empresas oferecem reajustes parcelados (3% em fevereiro de 2016, 2% em junho e 6% em novembro) – o argumento das aéreas é de que o reajuste em uma única parcela é inviável este ano, por conta da retração econômica.

Receitas auxiliares ganham mais espaço no caixa das empresas

A queda na demanda e a alta dos custos de operação fazem com que as aéreas redobrem os esforços para diversificar suas receitas. Uma das saídas tem sido investir no transporte de cargas, utilizando, na maioria das vezes, as mesmas aeronaves que levam os viajantes.

A Gol inaugurou no fim do mês passado seu primeiro terminal de cargas próprio no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, em um espaço de 3.300 metros quadrados – o serviço de logística da companhia já funcionava no aeroporto, mas em um terminal operado pela Infraero. A Gollog, braço de cargas da Gol, também abriu unidades próprias nos últimos meses nos aeroportos de Congonhas, Salvador e Confins. “Estamos mostrando ao mercado as vantagens do transporte via modal aéreo. O valor do frete é um pouco mais caro do que o rodoviário, mas somos muito competitivos quando se trata de cargas perecíveis e alto valor agregado”, diz diretor de cargas da Gol, Eduardo Calderon.

A companhia atende prioritariamente clientes corporativos, com as empresas de e-commerce ganhando cada vez mais espaço. Só nos primeiros nove meses de 2015, as chamadas receitas auxiliares da Gol – que incluem o transporte de cargas e outras fontes como taxas para remarcação e cancelamento de passagens –cresceram 19% em comparação a 2014, chegando a R$ 868,8 milhões, enquanto a receita com passageiros diminuiu 5% no mesmo período. No acumulado do ano até setembro, o transporte de cargas foi responsável por 12% da receita líquida da empresa – fatia que era de 10% em 2014.

“São novos serviços que acabam sendo importantes para complementar a receita da companhia como um todo. Isso já seria importante em condições normais, mas num momento de crise e redução da demanda, essas receitas têm caráter ainda mais relevante”, afirma Calderon.

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