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Os sinais analógico e digital convivem no Brasil desde 2007 | Roberto Custódio/Jornal de Londrina
Os sinais analógico e digital convivem no Brasil desde 2007| Foto: Roberto Custódio/Jornal de Londrina

Ainda vai demorar pouco mais de dois anos para que os paranaenses deem adeus às transmissões de TV pelo sinal analógico, mas o cronograma de desligamento deste formato já é alvo de preocupação e descrença de parte das emissoras e de especialistas do setor. O calendário estabelecido pelo governo federal prevê que o sinal analógico passe a ser desligado já em novembro deste ano, em Rio Verde, interior de Goiás, escolhida como cidade-piloto do processo. Ano que vem, em maio e novembro, será a vez das capitais de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente – locais que deverão representar os maiores desafios para a efetiva substituição do sinal.

Veja quando o sinal analógico será desligado em todos os estados

Passo a passo

Entenda como ocorrerá, daqui para frente, a operação de desligamento da TV analógica no país:

1 As emissoras de TV devem indicar em alguns momentos, durante o dia, que o espectador está assistindo a uma transmissão analógica. Na parte inferior da tela, é preciso haver um texto informando que aquela programação estará disponível somente em formato digital a partir da data de desligamento.

2 Dois meses antes da data prevista do desligamento, haverá uma indicação fixa no alto da tela com a contagem regressiva para o fim da transmissão analógica.

3 No entanto, para que o desligamento ocorra de fato, é preciso que 93% dos domicílios do município estejam aptos a receber o sinal digital. As pesquisas para aferir esse porcentual serão feitas pouco antes da data de desligamento. Caso a taxa não seja atingida, o cronograma pode ser estendido.

4 Em caso de dúvidas, o telespectador pode acessar o site www.vocenatvdigital.com.br ou ligar para o número 147.

Sinal analógico será desligado em Curitiba em junho de 2017

Hoje, a transmissão das emissoras ocorre simultaneamente em dois canais, via sinais analógico e digital – com o desligamento, o analógico deixará de ser transmitido e só será possível acessar a programação no canal digital. Em Curitiba e mais 12 cidades da região metropolitana, isso ocorrerá a partir do dia 25 de junho de 2017.

Nas demais cidades do Paraná, o sinal analógico será desligado a partir do dia 25 de novembro de 2018, data final do processo de transição. Para facilitar o acesso dos telespectadores à programação, as emissoras de TV já adotaram uma espécie de “canal virtual”, aproveitando o mesmo número usado no sistema analógico. Em Curitiba, a RPC TV, por exemplo, é transmitida no canal 12 pelo sistema analógico – para ter acesso à transmissão digital, basta o espectador digitar 12.1 no controle remoto.

O coordenador de P&D de telecom da RPC TV e professor da Universidade Positivo José Frederico Rehme lembra que, hoje, as marcas já produzem e vendem apenas televisores compatíveis com o sistema digital, o que também facilita o acesso dos consumidores à tecnologia. “Quem comprar uma TV nova não precisa se preocupar com nada, basta ligar a TV, ligar a antena e acionar a programação de canais. O aparelho vai fazer a varredura e priorizar a memorização dos canais digitais”, explica Rehme.

O uso do conversor digital (também chamado de set-top box) é uma opção para continuar usando aparelhos antigos, embora a qualidade da imagem não apresente a mesma resolução vista nas TVs de tela plana. (RW)

Os possíveis entraves não são técnicos ou financeiros, mas dizem respeito à mobilização da própria população. Uma portaria publicada ano passado pelo Ministério das Comunicações especifica que o sinal analógico só poderá ser desligado se pelo menos 93% dos domicílios da cidade tiverem acesso comprovado ao sinal digital – seja usando aparelhos de TV que já veem com a tecnologia (em geral, os aparelhos de tela plana) ou um conversor para as antigas TVs de tubo. A confirmação do porcentual se dará por meio de pesquisa, próximo à data de desligamento, a ser conduzida pela EAD, entidade criada pelas operadoras de telefonia vencedoras do último leilão do 4G, que usarão a faixa de 700 MHz hoje ocupada pelo sinal analógico.

Apesar da proximidade dos primeiros desligamentos, ainda não há definições sobre os parâmetros que serão usados nesta pesquisa ou a data de aplicação em cada cidade. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o tema vai ser a principal pauta do próximo encontro do Grupo de Implantação do Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV (Gired), na próxima quarta-feira (29). O grupo inclui representantes da Anatel, do Ministério das Comunicações e das operadoras.

No escuro

Hoje, não há estudos que especifiquem exatamente qual a penetração do sinal digital nos lares brasileiros. O presidente da Anatel, João Rezende, já chegou a falar na cifra de 30 milhões de pessoas que ainda precisam ter acesso à TV digital, mas a própria agência reconhece que a estimativa não é confiável. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) estipula que 55% dos domicílios já tenham condições de receber o sinal.

“Alcançar toda a população restante, convencendo-a de que é preciso colocar a mão no bolso para comprar um conversor digital ou trocar a TV, será uma tarefa muito difícil. Até hoje, não tivemos um único país que fizesse a transição sem adiamentos. O nosso cronograma é bem desafiador, super apertado”, resume o diretor-geral da Abert, Luis Roberto Antonik.

O custo para adaptar uma TV ao sinal analógico gira em torno de R$ 150, incluindo o conversor e a antena. Para o engenheiro eletrônico e professor da Fiap Almir Meira, a principal barreira não é o custo, mas a falta de conhecimento. “Muitas pessoas nem sabem ainda para que serve o conversor digital. Quando se iniciou a transmissão, em 2007, falou-se muito a respeito, mas, depois, esse trabalho de conscientização se esvaziou”, afirma.

Operadoras vão gastar R$ 3,6 bilhões para liberar faixa para o 4G

A universalização da TV digital vai ao encontro dos interesses não só do governo federal, mas também das empresas de telefonia que venceram o último leilão da internet móvel de quarta geração (4G) na faixa de 700 MHz –justamente a frequência hoje usada na transmissão de emissoras de TV com o sinal analógico. Na época do leilão, as operadoras chegaram a reivindicar o adiantamento do cronograma de “limpeza” da faixa para o 4G, mas não foram atendidas.

No total, Claro, Vivo, TIM e Algar Telecom terão de investir R$ 3,6 bilhões no processo de transição dos canais analógicos para digitais – a primeira parcela, de R$ 1,44 bilhão, foi depositada no início do mês na conta da entidade criada pelas próprias empresas, a EAD. Após o desligamento da TV digital em cada região, as operadoras terão um ano para colocar em funcionamento a rede 4G na faixa de 700 MHz.

Além de investir em campanhas de divulgação e custear um kit digital (com conversor, antena e controle remoto) para famílias beneficiárias do programa Bolsa Família, a EAD poderá trabalhar para tentar agilizar a ampliação da rede 4G –e fazer valer, assim, o investimento das teles no leilão, que arrecadaram as licenças por
R$ 5,8 bilhões.

Investimento único

“O investimento total das operadoras em antenas vai cair com o uso da faixa de 700 MHz, porque quanto menor essa frequência, mais abrangente é a transmissão [hoje a faixa utilizada no 4G é a de 2,5 GHz, leiloada em 2012]”, explica o engenheiro eletrônico e professor da Fiap Almir Meira. “A questão é que as empresas querem fazer o investimento de uma vez só e é por isso que hoje o 4G não tem uma área de cobertura tão expressiva. Se a empresa fizer o investimento agora [usando a faixa de 2,5 GHz], sabe que terá que investir de novo mais à frente”, completa. (RW)

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