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Fernando e Maria Thereza são freelancers e trabalham no Aldeia Coworking | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Fernando e Maria Thereza são freelancers e trabalham no Aldeia Coworking| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Depois de trabalhar oito anos em uma agência de publicidade, Fernando Kanarski, de 31 anos, resolveu abandonar a carreira tradicional e virar profissional independente. Há um ano, ele presta serviços de marketing digital para pequenas e médias empresas brasileiras enquanto viaja por países como Namíbia, República Checa, Nova Zelândia e Vietnã. Trabalha, em média, seis horas por dia e passa o restante explorando os novos destinos. “Quero manter esse estilo de vida. Não penso em voltar a ter uma empresa com funcionários.”

Já a tradutora Maria Thereza Moss, de 28 anos, não viu vantagens na vida de funcionária com carteira assinada. Desde 2012, ela atende companhias americanas que precisam de tradução para o português de sites, plataformas e anúncios publicitários. O serviço é prestado de um escritório de coworking em Curitiba e todos os contatos com os clientes são feitos pela internet. “Quando eu trabalhava como funcionária, recebia bem menos”, diz a tradutora que também não pretende largar o estilo de vida autônomo.

40%

da força de trabalho dos Estados Unidos atuará na gig economy até 2020.

15%

dos trabalhadores independentes utilizam plataformas digitais para encontrar trabalho.

De 20% a 30%

da população em idade de trabalho nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Espanha e Suécia se envolve com trabalhos independentes, seja como fonte primária de renda ou secundária.

Maria Thereza e Fernando Kanarski são exemplos de profissionais da chamada gig economy, tendência que ganha cada vez mais adeptos no mercado de trabalho. São pessoas qualificadas que, por opção própria, decidem fazer do trabalho independente sua principal fonte de renda.

Segundo pesquisa publicada neste mês pela consultoria McKinsey, há 49 milhões de pessoas nos Estados Unidos e em cinco países da Europa que atuam de maneira independente por escolha própria e fazem do trabalho autônomo a sua principal fonte de renda. Se incluir aqueles que também trabalham sozinhos, mas por necessidade ou apenas para complementar renda, são 162 milhões de pessoas.

No Brasil, não há dados oficiais que permitam verificar o impacto dessa tendência. O que se sabe é que há desde profissionais da economia criativa quanto de áreas tradicionais, como direito, engenharia e saúde. Normalmente, estão em busca de mais qualidade de vida e autonomia sobre suas carreiras.

A internet e as plataformas digitais, como o Uber e o Airbnb, impulsionaram o trabalho independente. As novas tecnologias possibilitam que o profissional encontre e seja encontrado por clientes de qualquer lugar do mundo e preste o serviço remotamente. Maria Thereza, por exemplo, usa sites internacionais específicos para freelancers de tradução para encontrar trabalho. Já Kanarski se reúne com o cliente pela primeira vez pessoalmente e, depois, presta o serviço remotamente enquanto viaja.

Para a consultoria McKinsey, as vantagens do número crescente de profissionais independentes são o aumento da força de trabalho e a maior disponibilidade de opções para consumidores e organizações. Os trabalhadores também ganham com mais flexibilidade e as empresas conseguem contratar funcionários para desenvolvimento de projetos curtos.

Mas o movimento ainda deve encontrar entraves para se consolidar no Brasil. Os principais são a falta de uma legislação específica para a categoria, o que diminui a segurança dos trabalhadores, e a adequação das formas de arrecadação do governo.

Trabalho independente exige preparo e reserva financeira

Quem deseja começar a trabalhar como profissional independente precisa se preparar financeiramente e tecnicamente. Identificar os pontos fortes, se especializar e adquirir conhecimentos de gestão estão entre as habilidades requeridas, segundo Humberto Wahrhaftig, gerente executivo da Michael Page em Curitiba. “Ele é o dono da sua carreira. Tem que ir além da sua formação técnica”, afirma o especialista.

Antes de virar profissional autônomo, Fernando Kanarski buscou ganhar autoridade. Ele trabalhou por oito anos em uma agência de publicidade, chegou à condição de sócio, passou a dar aulas e se tornou reconhecido no mercado.

“Quando anunciei que ia trabalhar por conta, os primeiros clientes já passaram a me procurar.” Ele também guardou uma reserva financeira para ter mais tranquilidade. “É comum o cliente atrasar o pagamento em 30, 60 dias”, diz Kanarski.

Foi o que fez a tradutora Maria Thereza Moss, que guardou o dinheiro da rescisão para começar a atuar como freelancer. Ela também reserva parte da renda para as férias e paga o INSS e o carne-leão mensalmente para não ter problemas com a Previdência e a Receita Federal.

Para países com economia mais moderna, com muitas empresas digitais, a gig economy é uma tendência positiva. Países em transição, como o Brasil que tem uma economia manufatureira, ainda não estamos preparados

Ricardo Murer  professor de Marketing Digital e Social Media da ESPM-SP

Legislação

A legislação, inclusive, é um tópico que deve receber a atenção dos profissionais independentes. Mesmo sem existir normas específicas para a categoria, o contador da Contabilizei Heber Dionizio afirma que o profissional precisa buscar a formalização para garantir benefícios como aposentadoria e diminuir a “mordida do leão” sobre os rendimentos.

O profissional pode continuar atuando como pessoa física, desde que retire alvará na prefeitura, recolha o ISS e o INSS e pague mensalmente o carnê-leão. Outra opção é se inscrever como Microempreendedor Individual (MEI) ou abrir uma Microempresa (ME). Muitos clientes, inclusive, exigem que o profissional tenha CNPJ para fechar o serviço.

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