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Musk apresenta seus planos para colonizar Marte: entre a admiração e o ceticismo. | HECTOR GUERRERO/AFP
Musk apresenta seus planos para colonizar Marte: entre a admiração e o ceticismo.| Foto: HECTOR GUERRERO/AFP

A comparação é batida, mas inevitável. Se você quiser saber quem é o que representa Elon Musk, o empreendedor bilionário à frente da Tesla e SpaceX, basta imaginá-lo como o “Tony Stark da vida real”. O próprio ator Robert Downey Jr., protagonista da série de filmes do Homem de Ferro, disse em entrevistas ter se encontrado com o empresário antes de encarnar o famoso playboy que veste a armadura vermelha. Musk é assim mesmo, um personagem digno de ficção: um homem um tanto quanto excêntrico, capaz de ter ideias mirabolantes e se dispor a gastar muito dinheiro nelas. E que, como os super-heróis das histórias em quadrinhos e do cinema, quer simplesmente salvar o mundo.

Marqueteiro e “herdeiro de Steve Jobs”: Musk divide opiniões

Apesar de ter conseguido colocar suas duas principais empresas – a Tesla e a SpaceX – em posições privilegiadas dentro de seus respectivos mercados, Elon Musk está longe de ser uma unanimidade. Há quem o veja como um “marqueteiro de carteirinha”, mais preocupado em estar sempre nos holofotes do que em apresentar negócios realmente viáveis – crítica geralmente mais voltada para seu plano “megalomaníaco” de fazer viagens a Marte.

“O Musk recorre a um marketing bastante agressivo, o que pode ser um risco. Outros empreendedores, como Bill Gates e Steve Jobs, eram ambiciosos, mas eles cultuavam essa meritocracia depois da entrega. O Musk ainda fala muito sobre o que vai fazer, o que pode ser mais uma estratégia para gerar impacto e valorizar o próprio negócio”, avalia o coordenador dos cursos de Administração e Gestão em TI da Fiap, Claudio Carvajal Jr.

Por outro lado, há quem reconheça o bilionário como o “herdeiro natural” de Steve Jobs e um case raro no mercado de inovação e empreendedorismo – Larry Page, cofundador do Google, é um “fã” assumido e amigo próximo de Musk. “Quanto mais a Tesla se tornar popular, mais a fama de Musk aumentará. Grandes vendas do Model 3 (o futuro carro elétrico popular da empresa) o confirmariam como um raro ser capaz de repensar uma indústria, entender os consumidores e executar o que quer que seja. A partir daí, suas ideias mais fantasiosas começam a parecer inevitáveis”, escreve o jornalista Ashlee Vance, autor da biografia do empresário.

Leonardo Jianoti, investidor cofundador da Curitiba Angels e da CWB Capital, é outro que está no grupo dos admiradores – o curitibano já chegou a visitar a fábrica da Tesla na Califórnia. “Ele saiu do underground para tocar uma companhia que revolucionou os meios de pagamento (o PayPal). Depois disso ele poderia simplesmente não ter feito mais nada. Mas aí criou a Tesla, a SolarCity. Ele tem uma coragem que é admirável”, reforça Jianoti.

Musk nasceu na África do Sul e se mudou para o Canadá pouco antes de completar 18 anos. Logo foi parar no Vale do Silício, nos Estados Unidos, onde fundou sua primeira startup aos 24. Desde então, fez fortuna ao adotar uma postura agressiva em seus negócios, investindo muito dinheiro do próprio bolso para garantir o controle absoluto das empresas diante de outros investidores – apesar de não ter fundado a Tesla, garantiu o comando da companhia ao investir US$ 6,5 milhões nos primeiros dias da fabricante de carros elétricos.

Quem observa o “portfólio” de Musk parece ter dificuldade de entender aonde o empresário quer chegar, com negócios tão diferentes (e inusitados). Hoje, ele comanda uma montadora de veículos elétricos (Tesla), uma fabricante de foguetes espaciais (SpaceX) e uma desenvolvedora de painéis solares (SolarCity). No entanto, todas parecem fazer parte de um plano maior, que envolve o fato de que todos os seus negócios estão interligados a curto e longo prazo – é o que o jornalista e biógrafo do empresário, Ashlee Vance, chama de “teoria do campo unificado de Elon Musk”. Sem medo de escancarar sua mania de grandeza, o empresário crê que uma adoção em massa da energia solar e dos carros elétricos, junto da viabilidade das explorações especiais, são essenciais para a sobrevivência de todos nós.

“Ele acredita nas tecnologias na medida em que as considera as coisas certas a serem almejadas para a melhoria da espécie humana”, resume Vance no livro que leva o nome do empresário, lançado no Brasil pela editora Intrínseca. Mês passado, Musk mobilizou a imprensa mundial para detalhar o que considera sua missão de vida: permitir que humanos viajem até Marte e colonizem o planeta. Isso, é claro, por meio das futuras naves da SpaceX.

“A história vai se dividir em duas direções. Um caminho é ficarmos na Terra para sempre e então haver algum evento de extinção. Eu não tenho uma profecia apocalíptica imediata, mas a história sugere que haverá algum evento do tipo. A alternativa é nos tornarmos uma civilização espacial, uma espécie multi-planetária. E esse é o caminho que eu espero que todos concordem que é o certo a seguir”, discursou Musk.

Na ocasião, ele detalhou sua meta de baratear uma possível viagem até Marte ao ponto de ela custar cerca de US$ 100 mil por pessoa – hoje, se possível, esse custo bateria na cada dos US$ 10 bilhões. Muitos especialistas seguem céticos quanto à viabilidade da empreitada – apesar de tantos outros terem rido, pouco mais de uma década atrás, da possibilidade de duas startups cogitarem competir com os gigantes do setor automotivo e da indústria aeroespacial. Se Musk é mesmo um visionário ou um garoto que leu quadrinhos e livros sci-fi demais na infância, só o tempo dirá. Por enquanto, os dólares em sua conta bancária (US$ 12 bilhões, segundo projeção da Forbes) falam por ele.

Trajetória

Confira o caminho percorrido por Musk nas últimas décadas, que pavimentaram sua imagem de um empreendedor agressivo e ousado:

Zip2

Primeira startup fundada por Musk nos Estados Unidos, em 1995, ao lado do irmão, era uma espécie de “Páginas Amarelas” da internet. Por meio da plataforma, empresas podiam anunciar seus negócios e serem localizadas em mapas. O negócio chamou a atenção de investidores e, um ano depois da fundação, conquistou um aporte de US$ 3 milhões. A Zip2 foi comprada em 1999 pela fabricante de computadores Compaq por US$ 307 milhões – Musk ganhou US$ 22 milhões com o acordo.

x.com

Após a venda da Zip2, Musk decidiu investir US$ 12 milhões em seu novo negócio, uma startup financeira que acabou se tornando um dos primeiros bancos online do mundo. A empresa tinha uma grande concorrente, a Confinity, que havia desenvolvido um sistema de pagamentos chamado PayPal.

Paypal

A Confinity se fundiu com a X.Com em 2000, com Musk à frente do negócio. No mesmo ano ele foi destituído do cargo de CEO, que foi assumido por Peter Thiel, cofundador da Confinity. Em 2001, Thiel mudou o nome da empresa para PayPal e, no ano seguinte, ela foi vendida para o eBay por US$ 1,5 bilhão. Musk era um dos principais acionistas e ganhou US$ 250 milhões na venda.

Spacex

Com o dinheiro da venda do PayPal, Musk decidiu começar um novo negócio do zero, fabricando foguetes espaciais. A escolha do negócio surpreendeu a muitos, assim como o valor que ele investiu do bolso para tornar a SpaceX realidade: US$ 100 milhões. O início da empresa foi conturbado. Musk prometeu que o primeiro lançamento seria já em 2003, o que acabou ocorrendo só mais de quatro anos depois, quando a empresa estava à beira da falência. Em 2012, a SpaceX se tornou a primeira companhia privada da história a atracar uma cápsula na Estação Espacial Internacional.

Tesla motors

A Tesla foi fundada em 2003 por Martin Eberhard e Marc Tarpenning. Em 2004, os dois conseguiram que Musk investisse US$ 6,5 milhões na empresa de carros elétricos – com isso, ele se tornou o maior acionista e presidente. Nos dois anos seguintes, Musk investiu mais US$ 21 milhões na empresa. Em 2007, Eberhard acabou afastado da Tesla, o que só contribuiu para que Musk aumentasse sua influência e acabasse assumindo de vez o negócio. O Model S, segundo carro da empresa, lançado em 2012, ganhou vários prêmios e foi aclamado pela mídia especializada.

Solarcity

A empresa de painéis solares foi fundada em 2006 pelos primos de Musk, Lyndon e Peter Rive. Logo no início, Musk investiu US$ 10 milhões no negócio e até hoje é o maior acionista e presidente da empresa, que também trabalha em conjunto com a Tesla, suprindo os postos de recarga dos carros elétricos com energia solar. O “sonho” de Musk é que a energia solar, no longo prazo, se torne a principal matriz energética dos Estados Unidos.

Hyperloop

Em 2013, Musk mostrou esboços do que seria um novo meio de transporte por meio de um tubo de ar pressurizado, onde as pessoas seriam capazes de percorrer mais de 600 km em apenas meia hora – o invento foi batizado de Hyperloop. Musk afirmou que não tinha intenção de desenvolvê-lo, mas pessoas próximas a ele, como o amigo e investidor Shervin Pishevar, levaram a ideia adiante e criaram uma empresa para tornar o Hyperloop real.

Openia

Uma das últimas empreitadas de Musk, é uma espécie de startup sem fins lucrativos que foi criada para desenvolver pesquisas avançadas em inteligência artificial (IA) – e compartilhar tudo de graça. A intenção da iniciativa, além de fomentar a evolução da tecnologia, é evitar que apenas um pequeno grupo de grandes empresas controle o futuro da IA. Além disso, Musk já falou vários vezes que acredita que máquinas e programas super avançados podem se tornar um risco para a humanidade.

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