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Sob fogo cerrado por causa de seus últimos esforços para minar a ciência do clima, a Exxon Mobil agora acusa a família Rockefeller de tramar uma conspiração contra ela. Sim, aquela família Rockefeller, que foi a fundadora da empresa que deu origem a Exxon.

A empresa, que foi acusada de conspirar e pagar pessoas para negar a ameaça da mudança climática, está tentando virar a mesa, dizendo que seus adversários são os reais conspiradores. Está enfrentando procuradores-gerais do estado, jornalistas e grupos ambientalistas em uma campanha estilo tudo-ou-nada para defender sua imagem.

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Mas a gigante do petróleo e do gás tem dirigido alguns dos seus ataques mais ferozes a descendentes de John D. Rockefeller, que, em 1870, fundou a Standard Oil, empresa que se tornou a Exxon Mobil. As instituições de caridade da família Rockefeller, que há muito apoiam as causas ambientais, bancaram grande parte das pesquisas e relatórios que fizeram a empresa ter que se explicar por suas políticas climáticas, e a Exxon Mobil está protestando.

A pressão sobre a companhia é intensa. Jornalistas revelaram a pesquisa feita por ela sobre a mudança climática, incluindo as medidas tomadas para incorporar as projeções do clima em seus planos de exploração, ao mesmo tempo em que vê a ameaça como algo pequeno. Esses projetos de reportagem, financiados em parte por fundações da família Rockefeller, incluem o trabalho do ano passado da Inside Climate News e da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia, cujos resultados foram publicados no Los Angeles Times e acabaram gerando a hashtag popular noTwitter, #ExxonKnew.

A Exxon Mobil, em declarações públicas, depoimentos em tribunais e grossos dossiês sobre seus adversários, diz que é alvo de uma conspiração bem financiada e politicamente motivada para prejudicar seu principal negócio.

Porém, onde a companhia e seus aliados veem uma conspiração complexa, membros da família Rockefeller veem uma tentativa de usar a vasta riqueza gerada por combustíveis fósseis para combater os danos causados por eles mesmos.

Agora, a família tomou a atitude incomum de vir a público para expor seu caso, em uma rara entrevista e em um ensaio de duas partes na New York Review of Books que detalha a pesquisa da Exxon Mobil e o financiamento da negação da mudança climática. David Kaiser, da quinta geração do clã e autor do ensaio, disse secamente: “A família geralmente não vai a público dessa forma”.

Ele disse estar ciente de que a “ironia histórica óbvia do fato de que os Rockefellers, fazendo isso, chamariam atenção adicional para a história, mas queremos essa atenção, porque achamos que ficará claro para o público que o chamado debate sobre ciência climática é falso, fabricado artificialmente e basicamente desonesto desde o início”.

Investigação

No ano passado, procuradores-gerais do estado de Nova York, como Eric T. Schneiderman, começaram a conduzir investigações de fraude que se concentram na pesquisa de décadas da companhia sobre mudança climática e na probabilidade de que as empresas de energia não serão capazes de explorar todas as suas reservas de combustível fóssil, o que torna questionável a estimativa do valor recente dessas reservas. A Securities and Exchange Commission iniciou sua própria investigação da contabilidade das reservas da Exxon.

A empresa diz que reconheceu a ameaça da mudança climática e a necessidade de combatê-la há mais de uma década; diz também que parou de financiar as organizações que promovem a negação de clima em meados da década de 2000 e argumenta que sua primeira pesquisa foi descaracterizada.

E acusa a família Rockefeller de incentivar e, em alguns casos, financiar, as investigações e as campanhas contra si. As duas organizações jornalísticas que investigaram a Exxon foram financiadas, pelo menos em parte, por instituições filantrópicas dos Rockefellers, embora ambas digam que seus doadores não têm controle sobre o que é escrito.

Os Rockefellers também bancaram grupos como o Greenpeace e o 350.org, que investigam e criticam a companhia.

Em janeiro, foi realizada uma conferência para discutir medidas ativistas e educativas envolvendo o trabalho sobre o clima da Exxon Mobil nos escritórios compartilhados por dois fundos da família Rockefeller. Um tema em discussão, sugerido por um participante, foi “estabelecer na mente do público que a Exxon é uma instituição corrupta, que levou a humanidade (e toda a Criação) na direção do caos climático e de graves prejuízos”.

Alan Jeffers, porta-voz da Exxon Mobil, disse em uma entrevista: “Por todos os lados, quando víamos a empresa sendo atacada, achávamos uma ligação com o Fundo dos Irmãos Rockefeller ou o Fundo da Família Rockefeller”.

Briga nos bastidores

As duas organizações filantrópicas anunciaram que estão se afastando dos combustíveis fósseis. Quando o fundo familiar fez seu anúncio em março, denunciou a “conduta moralmente repreensível” da Exxon Mobil em relação à mudança climática.

Jeffers respondeu: “Não é de surpreender que eles tenham parado de investir na empresa, já que estão financiando uma conspiração contra nós”.

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A companhia e seus aliados contra-atacaram sua família fundadora e outros opositores.

Grupos políticos apoiados pelo setor, como o Energy in Depth, divulgaram histórias que atacam a família e sua filantropia. Suas acusações também são vistas em agências noticiosas conservadoras como a página de opinião do Wall Street Journal e o Daily Caller. O Breitbart News chamou a colaboração entre grupos ambientalistas para incitar a investigação na Exxon uma “conspiração RICO,” usando o acrônimo para a lei federal de extorsão, e o site orientado ao setor, o Natural Gas Now, publicou um artigo declarando, “é hora de usar a RICO contra os Rockefellers”.

Aliados da empresa oferecem aos jornalistas o que agentes políticos chamam de pesquisa de oposição, incluindo registros de tribunais e artigos favoráveis (assim como fazem grupos de ativistas contra a Exxon Mobil).

A companhia também trouxe as organizações filantrópicas dos Rockefellers para suas batalhas legais contra os procuradores-gerais que a investigam, enviando uma intimação aos grupos exigindo documentos e comunicados relacionados a seu ativismo.

Um juiz federal em Dallas, Ed Kinkeade, garantiu à empresa o direito de encontrar fatos contra os procuradores-gerais em seus casos. Ele determinou que os comentários feitos em março pela procuradora-geral Maura Healey, de Massachusetts, em uma coletiva de imprensa sobre as investigações, que também contou com o antigo vice-presidente Al Gore, podem evidenciar que ela pressupunha os resultados de uma investigação, o que pode demonstrar que agiu de má-fé ao dar seguimento ao caso. A Exxon Mobil deu um passo excepcional ao exigir as deposições de Healey e Schneiderman.

Na Justiça

Os fundos Rockefeller também receberam intimações de outro aliado da Exxon Mobil, o presidente da Comissão Científica do Congresso, Lamar S. Smith, do Texas. Smith criticou duramente os procuradores-gerais por suas investigações e acusou os fundos Rockefeller de participação na “tentativa coordenada para privar empresas, organizações sem fins lucrativos e cientistas de seus direitos garantidos pela Primeira Emenda e a capacidade de financiar e realizar pesquisas científicas livres de intimidação e ameaças de processo”.

A família Rockefeller responde dizendo que está tentando corrigir um erro histórico social e ambiental usando a Primeira Emenda.

“O Fundo da Família Rockefeller exerceu sua liberdade de expressão ao externar nossa repugnância ao comportamento da Exxon Mobil. Exercemos nossa liberdade de associação quando falamos com os defensores do interesse público sobre a melhor forma de educar a população sobre a realidade das alterações climáticas. E exercemos nosso direito de peticionar o governo sobre a reparação de queixas ao informar autoridades eleitas sobre nossas preocupações de que, no decorrer de sua campanha de ciência do clima, a Exxon pode ter violado a lei. Todos esses direitos nos são explicitamente garantidos pela Primeira Emenda”, disse Kaiser, o presidente do fundo.

Ele disse que, dentro do clã – os descendentes diretos dos Rockefellers e suas famílias, com quase 270 integrantes –, havia recebido “apoio apaixonado” para os esforços do fundo, embora reconhecesse que qualquer grupo com esse tamanho dificilmente seja unânime, acrescentando que “Não houve retorno de toda a família”.

A família Rockefeller abraça com entusiasmo o movimento ambiental desde a década de 1960 e se concentrou nas alterações climáticas desde a década de 80. O envolvimento com a Exxon foi mais gradual; membros da família tentaram por mais de dez anos, através de conversas com os executivos da empresa e através de outras medidas, fazê-la assumir uma posição mais forte em favor de energia limpa e, quando a companhia expressava dúvidas em relação à ciência climática em anúncios pagos no New York Times, fazê-la parar.

Peter Frumhoff, diretor de ciência e política da Union of Concerned Scientists, grupo de defesa que publicou sua própria investigação das tentativas da Exxon Mobil de promover a incerteza sobre a ciência do clima, disse que, há alguns anos, seu grupo recebia “modesto apoio financeiro” dos fundos Rockefeller. E que o ativismo dos Rockefellers, por causa de sua conexão com a Standard Oil, fez dessa atitude “uma voz essencial”, e que ele e seu grupo tinham recebido intimações da Exxon.

“Nós claramente acertamos um ponto fraco, não é?”, disse ele.

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