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Será que uma das mais promissoras – e problemáticas – tecnologias para combater o aquecimento global sobreviverá durante o governo de Donald Trump?

A tecnologia da captura de carbono envolve tirar o dióxido de carbono das chaminés e processos industriais antes que o gás alterador do clima consiga chegar à atmosfera. A negação de Trump à avalanche de provas científicas a favor da mudança climática, visão compartilhada por muitos de seus indicados ao novo governo, pode parecer a condenação de quaisquer iniciativas ambientais nesse sentido.

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Mas a nova unidade Petra Nova, prestes a entrar em operação em Thompsons, Texas, aproximadamente 50 quilômetros a sudoeste de Houston, é um ponto alto para os defensores da tecnologia. Ela está sendo completada no prazo e dentro do orçamento, ao contrário de muitos projetos anteriores. Quando começar a funcionar, a instalação, ligada a uma das imensas unidades queimadoras de carvão da empresa de energia NRG, irá tirar 90% do gás carbônico das emissões produzidas pelos 240 megawatts de energia gerada. É uma migalha diante dos quase 3.700 megawatts produzidos nessa usina gigantesca, a maior do Texas. Mesmo assim, é o suficiente para capturar 1,6 milhão de toneladas de dióxido de carbono por ano – o equivalente ao gás de efeito estufa produzido ao se guiar por 5,6 milhões de quilômetros.

A Petra Nova usa a tecnologia para captura de carbono mais comum. O gás de escape, puxado por condutores serpeantes para o equipamento da Petra Nova, é exposto a uma solução de produtos químicos conhecidos como aminas, que se ligam ao dióxido de carbono. Essa solução é bombeada a um regenerador, o extrator, que aquece a amina e libera o CO2. O gás é retirado e comprimido para uso futuro, e a solução de amina é reciclada pelo sistema para absorver mais CO2.

Empreendimento conjunto da NRG e JX Nippon Oil and Gas Exploration, a Petra Nova vai capturar o CO2 e usá-lo, despachando o produto comprimido através de um gasoduto por 130 quilômetros até um campo petrolífero. O gás será injetado em poços, técnica conhecida como recuperação de petróleo, que deve aumentar a produção de 300 barris por dia para 15 mil. E como a NRG detém um quarto do projeto de recuperação de petróleo, o que sair do solo vai ajudar a pagar pela operação de captura de carbono.

A fábrica, que recebeu US$ 190 milhões do governo federal, pode ser economicamente viável se o preço do petróleo ficar na casa dos US$ 50 o barril, diz David Knox, porta-voz da NRG. Se o preço do petróleo estabilizar ou aumentar, e se os incentivos fiscais para desenvolver a tecnologia continuarem e os mercados para armazenamento de carbono se desenvolverem, as empresas de energia, em seu entender, vão se perguntar: “Por que não colocar um sistema de captura de carbono na minha usina?”.

“A tecnologia somente faz sentido em um mundo em que se busca evitar o lançamento de CO2 na atmosfera”

Mark Brownstein,vice-presidente para clima e programa de energia da ONG Environmental Defense Fund

Só que o desenvolvimento da captura de carbono em larga escala não é simples nem fácil. Até agora, os problemas atormentaram os grandes projetos, muitas vezes custando mais do que o previsto e demorando a terminar. O governo federal cancelou projetos como o Future Gen, que recebeu mais de US$ 1 bilhão do governo Obama.

Se a Petra Nova tiver sucesso, será um estímulo para a captura de carbono. Apesar dos problemas com a técnica, seus defensores, incluindo o Painel Intergovernamental para a Mudança Climática e a Agência Internacional de Energia, chamam a tecnologia, conhecida como sequestro e captura de carbono, crucial para cumprir o padrão de emissão que pode impedir os piores efeitos da mudança climática.

O que o governo Trump fará com a captura de carbono é um enigma. “A tecnologia somente faz sentido em um mundo em que se busca evitar o lançamento de CO2 na atmosfera”, declara Mark Brownstein, vice-presidente para clima e programa de energia da ONG Environmental Defense Fund.

Mas alguns defensores da tecnologia veem motivos para ter esperança.

“Na verdade, acho que é um momento de otimismo”, afirma a senadora Heidi Heitkamp, da Carolina do Norte, que se reuniu com Trump no mês passado como possível secretária da agricultura. Ela apresentou uma lei com outro democrata, o senador Sheldon Whitehouse, de Rhode Island, para ampliar e estender as isenções fiscais para projetos de captura de carbono. “O que vi com o presidente eleito foi um foco total em empregos. Acho que ele se interessou” pela oportunidade econômica que a captura de carbono poderia oferecer para manter a geração de eletricidade com carvão dentro da composição da matriz geradora nacional, acrescentou a senadora.

Um dos pilares da campanha de Trump foi sua intenção de reverter a sorte da indústria carvoeira por meio do apoio ao carvão limpo. E, embora o significado exato desse termo bastante usado esteja aberto a interpretações, ele geralmente inclui não apenas tecnologias que removem poluentes provocadores de fuligem e “smog”, além de dióxido de carbono.

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No Texas, empresas testam carbono superaquecido para gerar energia

Uma das abordagens mais inovadoras para a captura de carbono está sendo testada a 80 quilômetros a leste da Petra Nova, em La Porte, Texas, onde um consórcio de empresas faz experiências com uma abordagem toda nova para a geração de eletricidade com pouco carbono.

Num projeto de demonstração de 50 megawatts, de US$ 140 milhões, a empresa, Net Power, usará dióxido de carbono superaquecido da mesma forma que usinas elétricas convencionais utilizam para mover as turbinas. O sistema, inventado pelo engenheiro britânico Rodney Allam, elimina a ineficácia inerente à transformação de água em vapor e em seu resfriamento. A usina elétrica produz um fluxo de dióxido de carbono pressurizado muito puro que está pronto para gasodutos sem boa parte do processamento adicional que um sistema tradicional de captura requer.

Os criadores dizem que sua tecnologia vai gerar energia elétrica a um preço comparável ao de usinas de ciclo combinado, as usinas de queima eficiente de gás que queimam gás para acionar uma turbina e, a seguir, empregam o excesso de calor do processo para gerar energia adicional sem uma turbina a vapor. Isso significa, de fato, que “o custo de ser ecológico é zero”, diz Bill Brown, diretor executivo da Net Power.

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