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Afetada pela crise na Argentina, a Renault amarga uma queda de 57% nas exportações nos primeiros quatro meses deste ano: país é o principal destino dos veículos produzidos pela montadora. | Rodollfo Buhrer/Reuters
Afetada pela crise na Argentina, a Renault amarga uma queda de 57% nas exportações nos primeiros quatro meses deste ano: país é o principal destino dos veículos produzidos pela montadora.| Foto: Rodollfo Buhrer/Reuters

As exportações do Paraná para a Argentina vêm derretendo desde o ano passado e o cenário de 2015 se projeta ainda pior. De janeiro a abril, as vendas de empresas paranaenses para o país vizinho acumulam uma queda de 43% em comparação ao mesmo período de 2014. A retração é tão forte que a Argentina deve perder neste ano o posto de segundo maior parceiro comercial do estado, posição a ser ocupada pelos Estados Unidos.

INFOGRÁFICO: Veja a evolução das exportações do Paraná

Câmbio

A cotação média do dólar entre janeiro e abril, de R$ 2,91, foi 24,8% mais alta que os quatro primeiros meses do ano passado (R$ 2,33). Embora a alta da moeda americana favoreça os exportadores brasileiros, a taxa também ficou em bons patamares para outros países que concorrem diretamente com os produtos nacionais. No fim, o principal fator de competitividade continua sendo o preço final e a forte alta dos custos de produção limitam o avanço da rentabilidade das empresas brasileiras.

Nos primeiros quatro meses do ano, as companhias com sede no Paraná faturaram US$ 276,3 milhões em vendas para a Argentina, contra US$ 484 milhões em 2013, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Para especialistas, o desempenho ruim do estado reflete o fato de o Brasil concentrar seus esforços de venda em um único parceiro, o Mercosul, que está em crise.

Com a impossibilidade de buscar recursos no mercado financeiro internacional, o governo de Cristina Kirchner tenta buscar o superávit primário fechando as portas para a importação. “Como o país exporta principalmente commodities e passou por uma redução muito grande na safra no ano passado, só consegue gerar superávit segurando o que vem de fora”, aponta o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Outro agravante é a série de acordos comerciais firmada recentemente entre argentinos e chineses para a compra de produtos manufaturados do país asiático. “Esse acordo claramente infringe o Mercosul e o Brasil assiste a isso passivamente. Neste caso estamos sendo prejudicados duplamente. Pela redução das importações e com o desvio de comércio para a China”, diz Castro.

Automóveis e máquinas

Embora ainda seja o principal segmento exportador, a situação é pior para a cadeia que envolve as indústrias automotiva e de máquinas. Juntos, os grupos acumulam uma queda de 82% nas exportações para o país vizinho. “O Mercosul passou a ser um entrave para a economia brasileira”, afirma o economista Francisco José Gouveia de Castro, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Os embarques de veículos da Renault, por exemplo, caíram 57% nos primeiros quatro meses do ano em comparação com 2014. O principal comprador dessa produção é a Argentina. A montadora francesa instalada em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, faturou US$ 109,8 milhões no primeiro quadrimestre, ante US$ 253,3 milhões no ano passado, em vendas para o exterior.

O acordo entre os dois países que regula as exportações automotivas vence em junho, mas deve ser renovado. No começo do mês, um encontro entre o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, e o ministro argentino da Economia, Axel Kicillof, sinalizou a intenção de prorrogação.

Os termos atuais do pacto comercial estabelecem que para cada US$ 1,5 milhão em carros e peças vendidos para a Argentina sem imposto, o Brasil tem de comprar US$ 1 milhão do país vizinho, também sem o tributo. É o chamado regime flex. O que passar disso tem alíquota de 35%. Segundo Monteiro Neto, a renovação deve ocorrer com os mesmos marcos.

Embarques paranaenses para os Estados Unidos crescem 10%

Entre os três principais mercados dos produtos paranaenses – China, Argentina e Estados Unidos –, o único que soma um aumento de 10% nos embarques do estado de janeiro a abril deste ano é o norte-americano.

O país comprou R$ 232 milhões do Paraná no primeiro quadrimestre do ano. A cifra está cada vez mais próxima da Argentina que somou R$ 276,3 milhões em operações com empresas do estado.

Diferentemente da China, os EUA são vistos como uma boa alternativa para a exportação de manufaturados.

“Como o Paraná é um estado que tem peso agrícola muito grande, a China continua sendo o primeiro destino, mas a tendência é que os Estados Unidos ultrapassem a Argentina como mercado destino. Essa é a tendência”, afirma o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

A alternativa para as empresas que vendiam para a Argentina é buscar novos mercados. Nesta semana, o governo brasileiro anunciou uma série de acordos que deve assinar com o México para expandir as exportações brasileiras.

Outros compradores

O economista do Ipardes Francisco José Gouveia de Castro diz não acreditar que haverá uma interferência significativa para os produtos locais. “O México está muito bem inserido no comércio com os Estados Unidos e Canadá. Acredito que a política de comércio internacional do Brasil deveria ter uma abrangência maior para mercados mais desenvolvidos”, diz.

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