Você já deve ter ouvido falar que investir em imóveis é sempre garantia de um bom negócio, ou mesmo que uma carteira na Bolsa só estaria “completa” até alguns anos atrás se tivesse ações da Vale ou da Petrobras.
Pois esses pensamentos são muitas vezes manifestações do viés de confirmação, um fenômeno estudado pela Economia Comportamental segundo o qual os investidores criam atalhos mentais para justificar algumas teses, ignorando indicadores e apelando mais para a emoção do que para a razão nos processos decisórios.
“É muito comum que as pessoas tomem decisões de investimento antes mesmo de procurar por informações, as quais são usadas unicamente para confirmar as suas escolhas”, explica a coordenadora do MBA em Economia Comportamental da ESPM, Flávia Ávila. Mas os atalhos mentais não são a única forma pela qual os vieses se manifestam.
O professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coautor do livro Finanças Comportamentais Jurandir Sell Macedo conta que os aspectos culturais também têm forte impacto sobre as escolhas financeiras. “As pessoas muitas vezes esperam que o futuro repita o passado, mas isso não dá certo. Antes, possuir terras era sinônimo de riqueza, por exemplo, mas com o tempo as indústrias passaram a ocupar esse lugar, que hoje está nas mãos do conhecimento”, afirma.
Essa lógica de predição do futuro se aplica tanto às atividades consideradas rentáveis até a escolha dos ativos disponíveis no mercado, como os fundos de investimentos e os papeis do Tesouro Direto e da Bolsa de valores. E seguir esse caminho implica em criar expectativas em torno dos investimentos para que eles sempre evoluam na mesma proporção.
A professora de Economia Comportamental do Mackenzie Roberta Muramatsu conta que o contexto e o otimismo em relação a determinados investimentos, como ocorre hoje com a Bovespa ou com aconteceu com os imóveis há alguns anos, impactam nas decisões dos consumidores, o que pode resultar em insatisfações futuras. “As pessoas tendem a manter o status quo quanto às suas decisões. Logo, tudo aquilo que foge dele é interpretado como um maior risco de perda.”
Esse menor esforço em confrontar ideias consolidadas leva os investidores a procurarem informações e opiniões que estejam em consonância com as suas suposições, o que pode levar à entrada na Bolsa num momento em que as ações estejam mais caras ou em adquirir um imóvel por um preço acima do seu valor de mercado.
Para consultores e professores da área, a saída para evitar essas armadilhas mentais é se policiar, avaliar os indicadores financeiros de perto e desconfiar de previsões e verdades absolutas.