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Imagine que eu jogue uma moeda e tire cara. Jogo outro vez – cara de novo. Mais uma vez. Cara outra vez. Se eu fosse jogar a moeda outra vez, qual seria a sua previsão? Muita gente diria coroa, definitivamente coroa – ainda que saibamos que o evento é aleatório e que cada resultado é independente do anterior, o que significa que a probabilidade é sempre de 50%. Contudo, a maioria das pessoas tem dificuldade de lidar com esse conceito; estamos convencidos de que eventos aleatórios anteriores afetam o resultado de eventos aleatórios futuros.

Esse fenômeno é conhecido como “falácia do apostador”. O nome se refere a um erro muito comum entre apostadores de primeira viagem: o de que, como uma máquina caça-níqueis não paga há algum tempo, ela está prestes a liberar um prêmio. Experimentos mostram que nossas mentes, ávidas por encontrar padrões no mundo, frequentemente são vítimas da falácia do jogador, que nos leva a tomar decisões ruins – como enfiar um monte de dinheiro em máquinas caça-níqueis.

Uma pesquisa recente realizada pelo economista de Yale, Toby Moskowitz, revela que a suscetibilidade das pessoas à falácia do apostador não se restringe ao cara-ou-coroa; o risco é parecido em processos de decisão por trás de todo o tipo de situações em que há muito em jogo: ainda que de forma inconsciente, as pessoas permitem que decisões passadas afetem as decisões futuras.

Um bom exemplo são os juízes de beisebol. O artigo “Decision-Making Under the Gambler’s Fallacy” (Tomada de decisões e a falácia do apostador), publicado recentemente por Moskowitz, em colaboração com Daniel Chen e Kelly Shue, analisou dados de mais de 12 mil jogos de beisebol, incluindo 1,5 milhão de vezes em que o rebatedor não tentou acertar a bola, deixando a decisão sobre a jogada pra o juiz. A pesquisa envolveu 127 juízes. Concentrando-se em jogadas idênticas e difíceis de decidir em favor do rebatedor ou do arremessador, Moskowitz revelou que uma jogada antecedida por um “strike” tinha 3,5% menos chances de ser considerada “strike” e que esse número se tornava ainda maior caso a jogada em questão fosse precedida por dois “strikes”.

Além disso, como os agentes de crédito – os caras que decidem se os bancos devem nos emprestar dinheiro – tomam decisões? Utilizando dados de um estudo realizado por Shawn Cole envolvendo funcionários de um banco indiano, Moskowitz e seus parceiros de pesquisa demonstraram que, excluindo todos os outros fatores, a ordem pela qual diferentes agentes de crédito revisavam o mesmo grupo de pedidos de empréstimo influenciava sua decisão. Por exemplo, um agente que revisasse três pedidos positivos em seguida teria muito mais chances de negar o quarto da fila.

Mesmo que você nunca tenha visto um jogo de beisebol, ou feito um pedido de empréstimo na Índia, provavelmente se importa com a maneira pela qual os EUA operam seus tribunais de imigração, ou como decide dar asilo a estrangeiros (especialmente quando o presidente Donald Trump assumir o poder). De acordo com Moskowitz, a decisão de um tribunal “pode significar a diferença entre a vida e a morte, entre a liberdade e o aprisionamento de alguém”.

Contudo, nem mesmo os juízes federais estão imunes à falácia do apostador. A equipe de pesquisa de Moskowitz observou 150 mil decisões de pedidos de asilo tomadas por mais de 350 juízes entre 1985 e 2013. Moskowitz foi capaz de demonstrar que juízes que aprovassem um pedido de asilo tinham uma chance quase 1% menor de aprovar o próximo, e esse valor aumentava para quase 3%, caso a segunda decisão fosse tomada no mesmo dia. Mas a coisa fica pior: se um juiz analisasse três pedidos de asilo no mesmo dia e aprovasse os dois primeiros, ele teria quase 5% menos chances de aprovar o terceiro.

Nesse caso, será que não seria melhor colocar robôs para tomar mais decisões simples no dia a dia? Naturalmente, sendo como é, a natureza humana – e o fato de que quase todos nos levamos em altíssima conta quando julgamos nossa própria capacidade de decidir –, é improvável que esse tipo de automação ocorra no futuro próximo. Afinal, a tomada de decisão é uma parte importante daquilo que nos torna humanos.

(Stephen J. Dubner é coautor, com Steven D. Levitt, de ‘Freakonomics: O Lado Oculto e Inesperado de Tudo Que Nos Afeta’ e ‘Super Freakonomics: Resfriamento Global, Prostitutas Patriotas e Por que os Homens-Bomba Deveriam Fazer Seguro de Vida’.)

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