• Carregando...
Maurício e Hamilton Sena, da Mobhis: empresa aguarda resultado de edital para concluir o sistema de sensor de estacionamento público | Cesar Machado/Agrostock
Maurício e Hamilton Sena, da Mobhis: empresa aguarda resultado de edital para concluir o sistema de sensor de estacionamento público| Foto: Cesar Machado/Agrostock

Análise

Não é só o dinheiro

A falta de dinheiro é uma primeira explicação para quase todos os problemas brasileiros, inclusive a baixa inovação – evidente no número pequeno de patentes geradas pelo país e pela baixa competitividade de vários setores da economia. Olhado mais de perto, o problema tem explicações muito mais complexas. A difusão da cultura inovadora é baixa, poucas empresas têm processos e estruturas para elaborar continuamente melhorias em seus produtos e linhas de produção, ao mesmo tempo em que há distorções no setor público, como a burocracia que emperra por anos a concessão de uma patente. Há, portanto, antes da falta de dinheiro, um ambiente pouco propício para que ele seja bem empregado.

Na última década, o país aumentou seu esforço financeiro – os gastos em P&D passaram de 0,9% do PIB para pouco mais de 1,2% do PIB, um número equivalente ao de outros países emergentes, embora ainda distante dos 2% do PIB ou mais em países desenvolvidos. Os recursos são mal distribuídos porque a maior parte é empregada pelo setor público, que no país responde por mais 50% da verba, quando o ideal seria em torno de 40%. O setor privado precisa, portanto, aumentar seu gasto na área. Além disso, há uma tendência de alguns setores bem organizados (como o automotivo) ou atendidos por fundos setoriais, como o de petróleo e gás, concentrarem um recurso disputado. A boa notícia é que há sim boas linhas de financiamento públicas e investidores privados correndo o risco de apostar em boas ideias.

Guido Orgis, editor executivo de Economia

Inovação

O conceito foi definido pelo economista austríaco Joseph Schumpeter, nos anos 1930. Inovação é a introdução de pro­duto (bem ou serviço), processo, método de marke­ting ou de gestão novo ou sen­sivelmente melhorado que tra­­ga beneficio econômico ou impacto positivo para a empresa.

Resultados

Micro e pequenas empresas têm o melhor desempenho depois que apostam em inovação. A maior parte registra até 30% do faturamento pro­veniente das ações inovadoras implantadas nos últimos anos.

A falta de recursos e a pouca atenção à pesquisa e desenvolvimento nas indústrias paranaenses deixaram o estado em uma posição mediana na área de inovação. Em uma escala de 0 a 10, o Índice Paranaense de Inovação (IPrI) geral atingiu 5,73, de acordo com dados da Bússola da Inovação. O estudo, realizado com 1.240 indústrias, foi feito em 2012 e é inédito no país. "É como se estivéssemos de recuperação escolar. Precisamos nos esforçar para superar esse desempenho", aponta o pesquisador Sidarta Rathes, coordenador dos Observatórios das Indústrias, organismo ligado à Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep-PR), responsável pelo levantamento, juntamente com o Centro Internacional de Inovação do Senai.

INFOGRÁFICO: Confira os resultados obtidos pelo levantamento de dados da Bússola da Inovação

O objetivo da Bússola é avaliar o cenário do desenvolvimento industrial do estado, a partir dos investimentos em inovação, e apontar caminhos. Entre os 27 setores econômicos avaliados, o de Equipamentos para Informática foi o que atingiu melhores índices, com 6,6 pontos. Entre as atividades inovadoras mais comuns está a compra de máquinas e equipamentos, citada por mais de 80% das empresas. A falta de orçamento próprio, a dificuldade para captação de financiamentos, de pessoal qualificado e a instabilidade do mercado foram as principais barreiras para investir em inovação.

A incerteza de resultados também freia o desenvolvimento inovador. "O empresário não sabe se vai ter retorno. Em um cenário econômico incerto, essa decisão é ainda mais difícil. Ele tende a ser conservador por uma questão de sobrevivência", observa Rodrigo Fonseca, diretor de desenvolvimento científico e tecnológico da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), agência de desenvolvimento do governo federal, que oferece linhas de crédito para a inovação, juntamente com o BNDES e o CNPq.

A Finep busca ampliar, ano a ano, o montante aplicado em projetos inovadores. Em 2011, foi R$ 1,7 bilhão. No ano passado, alcançou R$ 6,3 bilhões e a projeção para 2014 é chegar a R$ 10 bilhões. "Simplificamos o processo de avaliação do mérito dos projetos e damos a resposta em 30 dias. Com isso, dobramos o atendimento", explica. Para chegar às empresas, a Finep estabelece parcerias com os estados. Aqui, os canais são a Fundação Araucária e a Fomento Paraná.

Na opinião do professor Dálcio dos Reis, titular do programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo, os recursos atuais são insuficientes, não têm o alcance desejado, mas são muito mais do que havia há dez anos. De maneira geral, o país agora está correndo para recuperar o tempo perdido.

Como ferramenta estratégica de competitividade das empresas, a inovação precisa ser trabalhada entre o poder público, a comunidade acadêmica e o empresariado. "Falta cultura inovadora ao empresariado, que tende ao comodismo, não busca conhecimento nem formação para fazer diferente. Também é necessário estabelecer uma política nacional na área mais agressiva e acessível a todos, além de ampliar o financiamento, inclusive nas áreas de pesquisa. A academia e o tecido empresarial deveriam se aproximar mais, trocando suas experiências e estabelecendo parcerias ganha-ganha", diz.

Pesquisa

Metodologia da Bússola identifica processos

A construção da ferramenta usada na coleta de dados da Bússola da Inovação envolveu 24 profissionais em mais de 50 meses de trabalho. Baseado em estudos semelhantes, que identificam esforços e resultados das empresas para buscar inovação, o IPrI também criou métricas para aferir os processos. "Isso ajuda a empresa a diagnosticar quais as deficiências em cada uma das fases da implantação das suas ações inovadoras. O resultado é personalizado", explica o pesquisador Augusto Machado. A segunda da coleta de dados será feita este ano. Até o fim do primeiro semestre, as indústrias do estado serão convidadas a preencher o novo questionário.

Mais do que o índice, o radar da inovação indica caminhos. A partir das notas alcançadas em cada uma das dimensões que compõem o processo, é possível traçar estratégias para alcançar melhores resultados.

Foi o que aconteceu com a Seta Digital, empresa de tecnologia de informação, sediada em Cascavel, especializada em desenvolvimento de sistema para gerenciamento de estoque de loja de calçados. A partir do diagnóstico apontado pela Bússola, a empresa investiu na criação de uma área dedicada à inovação. "Conseguimos estabelecer um fluxo contínuo para identificação e aplicação das sugestões de clientes e funcionários. Alteramos processos internos e focamos na identificação de oportunidades de fomento, como a participação em editais de agências de desenvolvimento", explica Carlos Schoulze, gestor de inovação da Seta Digital, contratado depois do diagnóstico da pesquisa. A Seta foi fundada em 2005 e tem 40 funcionários. Em 2013, faturou R$ 3 milhões e a previsão é chegar aos R$ 5 milhões neste ano.

Expectativa

Recurso de edital vai acelerar desenvolvimento

Os sócios Hamilton e Maurício Sena estão na expectativa pelo resultado do edital do Tecnova, previsto para o mês que vem. Donos da Mobhis Automação Urbana, empresa especializada em mobilidade, de Cascavel, eles tiveram o projeto de inovação aprovado na primeira chamada. Os rapazes pediram R$ 430 mil para concluir o sistema de sensorização de vagas de estacionamento público que estão desenvolvendo há um ano e meio. "Precisamos trabalhar por mais um ano para concluir o projeto. O financiamento vai acelerar o desenvolvimento", diz Maurício, diretor comercial da empresa.

O Tecnova é um programa do governo federal, por meio da Finep, que pretende atender 800 empresas em todo o país. O Paraná terá R$ 22,5 milhões para financiar até 80 projetos. "O estado teve demanda acima da média nacional. Dos 212 projetos apresentados, 135 ficaram na pré-seleção", explica José Carlos Gher, diretor de administração e finanças da Fundação Araucária, parceira da Finep no estado. No ano passado, a Fundação liberou R$ 95 milhões em chamadas públicas.

Esta é a primeira vez que a Mobhis busca linhas de financiamento especiais para inovação. A empresa investe cerca de 20% do faturamento na área, mas o projeto não está evoluindo na velocidade desejada. Depois de pronto, a tecnologia dos sensores de vagas públicas – uma espécie de estar eletrônico – deve fazer o faturamento anual da empresa pular de R$ 200 mil para R$ 2 milhões. "Poderíamos ter trazido a tecnologia de fora para revender aqui, estaríamos muito melhor financeiramente. Mas preferimos investir no desenvolvimento da própria solução. Futuramente, poderemos vendê-la para o cliente final e também para representantes", diz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]