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O ex-agente do FBI e da Interpol Marc Goodman se descreve como um entusiasta da tecnologia, embora seu livro “Future Crimes”, de 2015, um sucesso de vendas, faça o leitor criar uma aversão momentânea a qualquer simples avanço da computação. É que o especialista em segurança descreve um cenário caótico onde as mesmas tecnologias que melhoram as nossas vidas impulsionam novas formas de extorquir, intimidar, roubar e matar. Ele não está só. Cada vez mais especialistas se debruçam neste público que, não estranhamente, é ‘early adopter’ (primeiros a adotarem) das novas tecnologias: os criminosos. E é dessa forma que eles pretendem usar tais avanços:

Ataques

Os criminosos brasileiros foram pioneiros. Em 2014, três pessoas foram presas usando drones para levar celulares e drogas para dentro de uma prisão de Guarulhos. É só um exemplo do que pode vir. Para Elias Aguirre, consultor em cibersegurança e desenvolvedor de sistemas inteligentes, estas aeronaves não tripuladas são perfeitas para ações maléficas: são pequenas e eficientes. “Não surpreenderá ataques no futuro em que um drone, equipado com software de reconhecimento facial e armamento, consiga atingir uma pessoa, como um líder mundial, ou até mesmo um conjunto de pessoas, se pensarmos em ataques terroristas”, exemplifica.

Os hackers têm novos alvos: e podem ser sua tevê ou babá eletrônica

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Invasão de privacidade

“Não existe um computador livre de ser hackeado”, defende Marc Goodman em “Future Crimes”. O problema é que os computadores não são mais simplesmente seu laptop ou celular. Eles são também sua tevê, sua cafeteira, seu termostato – é o conceito de “Internet das Coisas” (IoT na sigla em inglês). Com uma invasão, isso tudo pode simplesmente parar de funcionar. Será o menor dos problemas. “A Samsung lançou recentemente um modelo de tevê que usa reconhecimento de voz para trocar de canal. Só que isso significa que, se você estiver em frente à tevê com sua namorada, esposa, familiares, tudo aquilo que for dito pode ser enviado à nuvem”, descreveu Goodman em entrevista ao jornalista Lewis Howes. Todas estas informações privadas podem, com apenas um descuido, parar em mãos erradas.

Ameaça à vida

Se tudo pode ser hackeado, descreve Goodman em seu livro, alguém pode invadir o seu robô assistente doméstico (algo que começa a se popularizar fora do Brasil), para te sequestrar, ameaçar de morte ou intimidar. É uma opção. Há outras: um carro comum possui, em média, 250 chips que o comandam; os autônomos terão uma infinidade deles. E se alguém manipula seus freios para causar um acidente? “A Internet das Coisas é, na verdade, a Internet das Coisas a serem hackeadas”, critica Goodman.

Espionagem industrial

Não é difícil imaginar como a IoT pode ser usada para criar novos mecanismos para a espionagem industrial. Pense na tevê do exemplo anterior em uma sala de reuniões de uma empresa. Mas não será a única forma. A nanotecnologia tem permitido objetos cada vez mais miniaturizados – inclusive câmeras de espionagem. “Logo, um sistema de microfone ou filmagem será ‘pilotável’ à distância e imperceptível. Poderá estar em sua sala”, descreveu o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets) em estudo recente.

Risco à saúde

O problema fica pior quando os computadores não estão apenas a sua volta, mas dentro de você. As promessas de chips ou outros aparelhos implantados e com conexão de dados acendem um alerta para os riscos. Um hacker pode fazer seu marca-passo conectado simplesmente parar, aponta Goodman. Não é o único caso. Em última instância, os avanços em biologia sintética permitirão a um criminoso criar vírus capazes de infectar apenas uma pessoa em uma multidão (ou a multidão, se quiser).

É difícil proteger tudo. Os mocinhos precisam trancar cada porta, cada janela. Mas os bandidos ó precisam de uma brecha

Marc Goodman especialista em segurança e autor de “Future Crimes”

Cópias

Para um terrorista, se arriscar levando armas para outro país pode ser coisa do passado, já que dá para fabricá-las em uma impressora 3D – algo que já se mostrou possível algumas vezes. Mas estas máquinas permitirão muito mais, como aponta Goodman. Segundo ele, alguém mal-intencionado poderá, por exemplo, usar um scanner 3D [um aparelho que consegue ler o formato tridimensional dos objetos e transformar em arquivos de impressão] para copiar a chave da sua casa, que você esqueceu em cima da mesa. E terá acesso fácil a sua residência.

Pirataria

Para Marc Goodman, a pirataria também ganhará um impulso com as impressoras 3D. E talvez as leis de propriedade intelectual não consigam avançar tão rápido quanto esta tecnologia. “Imagine o Lego. Em vez de comprar estes brinquedos de montar, você poderá simplesmente imprimi-los, pois, na verdade, são apenas pedaços de plástico. As impressoras 3D poderão fazer isso facilmente. Basta usar um scanner 3D”, disse em entrevista.

Narcotráfico

Em abril, o laboratório Aprecia Pharmaceuticals conseguiu a liberação do FDA (órgão regulador norte-americano) para vender o primeiro medicamento fabricado com impressora 3D do mercado. A tecnologia usada no Spitram (para epilepsia), porém, pode “profissionalizar” a produção de drogas em casa, como vêm alertando vários profissionais ao longo dos últimos anos, entre eles o professor Lee Cronin, da Universidade de Glasgow .

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