• Carregando...

A economia brasileira parou definitivamente em 2014 e está a caminho da recessão. Ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de toda a renda gerada no país num período) cresceu apenas 0,1%, informou nesta sexta-feira (27) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda nos investimentos foi a principal vilã da atividade econômica e o consumo das famílias, sem fôlego, não conseguiu compensar.

PIB de Dilma é o pior desde a Era Collor

  • rio de janeiro

O aumento do crescimento médio de 1,6% para 2,1% ao ano no primeiro governo Dilma Rousseff, na esteira das revisões metodológicas feitas pelo IBGE no cálculo do PIB, foi insuficientes para melhorar a colocação da atual presidente. A economia em seu mandato continua registrando o pior desempenho desde a gestão de Fernando Collor de Mello.

Seja por motivos internos seja por causa da crise internacional, o crescimento econômico de Dilma ficou abaixo do visto no segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (4,6% ao ano) e dos dois de Fernando Henrique Cardoso (2,5% e 2,3% ao ano). Collor, que governou entre 1990 a 1992, amargou uma retração média da economia de 1,3% ao ano

Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Reinaldo Gonçalves vai além. Usando dados desde 1890, o governo Dilma teria um desempenho superior apenas aos dos presidentes Collor e Floriano Peixoto (1891 a 1894), empatando com Wenceslau Braz (1914 a 1918).

Herança negativa

Para Gonçalves, erros de política econômica levaram ao baixo crescimento no governo Dilma. Ele cita o crescimento desordenado do crédito para consumo e o câmbio apreciado como heranças negativas que Dilma recebeu do governo Lula. O primeiro fator contribuiu para esgotar a capacidade de consumo da população. O segundo foi usado para reduzir a inflação, mas elevou o desequilíbrio externo e as dificuldades da indústria.

Em 2014, a economia viveu um quadro de “estagflação” – apesar da atividade pífia, o IPCA, índice oficial de inflação, ficou em 6,41%. Para este ano, economistas esperam retração no PIB, alta do desemprego, renda em queda e inflação ainda maior. Levantamento feito pela reportagem com 30 analistas de mercado após a divulgação dos dados do IBGE aponta, na média, para uma contração de 1,0% na economia.

O avanço de 0,1% no ano passado foi menor do que o ritmo de crescimento no número de habitantes. Com isso, o brasileiro ficou mais pobre: o PIB per capita recuou 0,7% em termos reais na passagem do ano, para R$ 27.229. Foi a primeira queda desde 2009, auge da crise internacional.

Questões

“O nosso desafio é criar as condições para retomar o impulso que foi se enfraquecendo em 2014”, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para quem as “questões” por trás da “desacelerada forte” da economia “estão sendo respondidas”. “Há um esforço para que a gente veja mais para a segunda metade do ano uma recuperação do investimento”, completou.

Os investimentos (medido pela formação bruta de capital fixo) recuaram 4,4% ano passado, após uma alta de 6,1% em 2013, e foram os grandes responsáveis pela estagnação.

Como reflexo, a indústria recuou 1,2%, com agravamento da crise na indústria de transformação e o primeiro recuo no PIB da construção desde 2006. Isso mesmo sem os efeitos da crise causada pela Operação Lava Jato, que investiga esquemas de corrupção envolvendo o setor de construção. “No caso da Lava Jato, o efeito vai ser mais em 2015”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, quando questionada se a operação da Polícia Federal já havia impactado o PIB.

Riscos

Paraná tem menor crescimento desde a crise

Efeitos da estiagem no agronegócio e da baixa demanda nos setores industrial e de serviços freiam expansão do PIB paranaense em 2014

Leia a matéria completa

“O governo e o Ministério Público precisam fechar acordos de leniência. Sem eles, podemos passar da recessão à depressão”, afirmou o economista Pedro Paulo Zahluth Bastos, professor da Unicamp.

Isso aconteceria se uma quebradeira de construtoras criasse problemas nos bancos de menor porte, que poderiam então levar a problemas no sistema bancário, travando o crédito na economia. Bastos defende que as empresas do setor sejam preservadas, pois não há opções de outros agentes para investir em infraestrutura.

Embora no campo positivo, o PIB de serviços teve o pior crescimento (0,7%) desde 1996 e o consumo das famílias (0,9%), a menor alta desde 2003, ritmo três vezes menor do que o avanço de 2013 (2,9%).

Economistas concordam que houve um esgotamento no ciclo de consumo, sobretudo de bens duráveis. Crescimento menor da renda, inflação pressionada e a elevação dos juros reduziram a disposição de consumir, segundo o IBGE – o crédito para pessoas físicas teve expansão abaixo da inflação em 2014.

Ranking

O crescimento da economia brasileira em 2014 foi o terceiro pior entre os países do G-20:

China

7,4% (US$ 10,4 trilhões)

Índia

7,2% (US$ 2,1 trilhões)

Estados Unidos

2,4% (US$ 17,4 trilhões)

Reino Unido

2,6% (US$ 2,7 trilhões)

Alemanha

1,6% (US$ 3,7 trilhões)

França

0,4% (US$ 2,8 trilhões)

Rússia

0,3% (US$ 1,8 trilhão)

BRASIL

0,1% (US$ 2,3 trilhões)

Japão

zero (US$ 4,5 trilhões)

Itália

-0,4% (US$ 2 trilhões)

Resultado demonstra que país passa por transição, diz Levy

  • RIO DE JANEIRO

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o resultado do PIB de 2014, com alta de 0,1%, evidenciou um momento de desaceleração da economia, mas que o governo espera que a trajetória de recuperação seja delineada ainda neste ano, principalmente pelas exportações e pelo lado do investimento. No ano passado, as exportações recuaram 1,1%, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) teve queda de 4,4%.

“O resultado do PIB mostrou que a gente está numa transição, num momento de desaceleração, mas principalmente numa transição”, disse Levy em coletiva de imprensa na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no centro do Rio. “No ano passado, a contribuição das importações e exportações foi neutra, uma compensou a outra. Este ano, esperamos que haja recuperação das exportações e que, portanto, o setor externo possa ajudar no crescimento da economia”, afirmou o ministro, que demonstrou otimismo com a retomada do investimentos. “Há um esforço de que a gente veja mais para a segunda metade do ano uma recuperação do investimento. Isso é muito importante para a retomada do país.”

Contribuição do setor externo na economia em 2014 foi nula

  • rio de janeiro

O setor externo teve contribuição nula para o crescimento econômico em 2014, com quedas tanto nas exportações (-1,1%) quanto das importações (-1%) de bens e serviços no ano, segundo o IBGE. O declínio nas cotações das commodities, a crise econômica de parceiros como a Argentina e a desvalorização das moedas de mercados concorrentes afetaram os embarques. Por outro lado, o país importou menos como reflexo da atividade mais fraca e do dólar mais caro.

A queda de 10,7% das exportações no último trimestre do ano, na comparação anual, foi o pior resultado para o setor desde 2009, influenciado pela redução da exportação de plataformas de petróleo. Já o tombo de 12,3% ante o terceiro trimestre foi o pior da série histórica, iniciada em 1996. Nas importações, o recuo também foi significativo nas duas comparações: 4,4% e 5,5%,

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]