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Bolsa brasileira subiu pouco mais de 7% desde o início do ano, enquanto, no mundo, a queda média das principais bolsas chega a 23%.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

O mau humor dos investidores em relação às perspectivas para a economia global e, em menor grau, uma certa cautela com a proximidade das eleições acentuaram tensões no mercado financeiro brasileiro nos últimos dias. Ainda assim, analistas continuam apontando que o Brasil é a “bola da vez” do investimento estrangeiro entre os países emergentes.

“Acreditamos que os ativos brasileiros possam seguir em uma tendência de redução de risco e valorização nos próximos meses, mesmo com as eleições estando próximas”, apontaram analistas da XP em relatório divulgado na manhã de terça-feira (27). Do início do ano até terça, a bolsa brasileira acumulou valorização de 7,5% em dólares, ao passo que as principais bolsas do mundo sofreram perdas de 23,1%, em média, segundo o índice MSCI Global.

Nos Estados Unidos, o principal mercado global de ações, os dois principais indicadores (o S&P 500 e o Dow Jones) recuaram 20% no ano. Na Nasdaq, a bolsa que reúne principalmente empresas de tecnologia, a queda foi maior: 30%. A justificativa, segundo Gabriela Joubert, analista do banco Inter, é de que essas empresas são mais sensíveis à alta nos juros que o banco central norte-americano está promovendo para combater a inflação.

Para a estrategista Jennie Li, da XP, o Brasil está bem posicionado em relação a seus pares. “Comparando a rentabilidade da renda variável brasileira com juros reais, a bolsa por aqui está bem atrativa.”

Investimento produtivo também está em alta

Não é só no investimento em carteira, como é conhecido o financeiro, que o Brasil está bem. O mesmo ocorre em relação ao investimento produtivo. Segundo o Banco Central, o saldo do Investimento Direto no País (IDP) – dinheiro aplicado por estrangeiros na economia "real" – foi de US$ 65,6 bilhões, ou 3,73% do PIB, no intervalo de 12 meses até julho. É o melhor desempenho desde março de 2020.

De janeiro a julho de 2022, o IDP teve saldo de US$ 52,6 bilhões, 57% acima do mesmo intervalo do ano passado e o maior valor em uma década para esse período do ano. Nos 12 meses de 2021, os ingressos haviam sido de US$ 46,4 bilhões. Em todos os casos citados, os valores do IDP são líquidos, isto é, já foram descontadas as saídas de capital.

Dados da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) mostram que, em 2021, o Brasil foi o sexto principal destino para investimentos estrangeiros no setor produtivo, atrás de Estados Unidos, China, Hong Kong, Cingapura e Canadá. Pela contabilidade da Unctad, foram aplicados US$ 50,4 bilhões em investimentos estrangeiros no setor produtivo do Brasil.

O que favorece o investimento estrangeiro no Brasil

Os especialistas explicam que uma série de fatores favorece o investimento estrangeiro no Brasil:

  • o país foi um dos primeiros a reagir à expansão da inflação mundial, aumentando a taxa de juros;
  • o Brasil tem ativos com valores atraentes e grande exposição aos setores que os investidores querem;
  • países que disputam o capital estrangeiro com o Brasil não estão atraentes devido a fatores internos. É o caso de Argentina, Rússia e Turquia;
  • diversos riscos geopolíticos lá fora, além da guerra entre a Rússia e a Ucrânia; e
  • risco de recessão em algumas das principais economias mundiais, por causa da alta dos juros.

Uma vez que se antecipou, o Brasil já conseguiu dar uma trégua no aperto monetário. Após 12 altas consecutivas desde março de 2021, o Banco Central decidiu manter a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano na mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A manutenção ocorre após registros de deflação em julho, agosto e na parcial de setembro.

O Banco Central, porém, não descarta novas altas, dizendo estar atento à evolução da atividade econômica, à dinâmica da inflação de serviços, às expectativas para a inflação de 2024 e às perspectivas fiscais. Um dos recados da ata da última reunião foi que os juros tendem a continuar altos por um longo período.

No resto do mundo, o tempo da política monetária é outro. Os Estados Unidos devem continuar elevando suas taxas por causa da inflação, que fechou os 12 meses encerrados em agosto em 8,3%, segundo o US Bureau of Labor Statistics. Lá, a meta de inflação anual é de 2%.

O fenômeno deve ser acentuado no Reino Unido, depois de a primeira-ministra, Liz Truss, e o ministro da Economia, Kwasi Kwarteng, anunciarem os maiores cortes de impostos em meio século, o que deve forçar o Banco Central local a aumentar ainda mais as taxas de juros. A inflação por lá é a maior dos últimos 40 anos.

Quem também está em um processo de aumento de juros causa da forte inflação é a zona do euro. Os preços tiveram uma alta anual de 9,1% em agosto, motivada por questões energéticas e de reajuste nos alimentos. É o triplo da alta verificada no mesmo período do ano passado.

Nesta semana, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou para baixo as projeções de crescimento para o mundo. Agora, a estimativa para as 20 maiores economias é de uma expansão de 2,8%. Em junho, era de 3% e, em dezembro, 4,5%.

Enquanto isso, a instituição fez um forte ajuste – para cima – em sua projeção para o PIB brasileiro de 2022, que foi de 0,6% para 2,5%, mas ao mesmo tempo baixou de 1,2% para 0,8% a expansão esperada para 2023.

“A economia brasileira está relativamente bem em relação ao resto do mundo, sejam os emergentes ou países desenvolvidos”, diz o gestor de renda variável da Warren, Eduardo Grübler.

O ponto médio das projeções coletadas pelo Banco Central e publicadas no relatório Focus sinaliza para um crescimento do PIB de 2,67% e de uma inflação de 5,88% em 2022. Para o ano que vem, as medianas são de 0,5% e 5%, respectivamente.

Li, da XP, avalia que o país está bem posicionado quando se olha para fora. “Comparando a rentabilidade da renda variável brasileira com juros reais, a bolsa por aqui está bem atrativa”, diz. Segundo ela, essa rentabilidade é influenciada por dois segmentos bastante cobiçados no momento: bancos e commodities, que juntos respondem por mais de 60% do Ibovespa.

Victor Beyrutti, economista da Guide Investimentos, destaca que outro fato a se considerar é que os Estados Unidos e a Europa entraram em 2022 com a bolsa nas máximas históricas, enquanto o Brasil estava mais distante de seu melhor momento.

Na renda fixa, o país tem um importante trunfo: oferece uma boa relação entre risco e retorno. Tem os maiores juros reais (já descontada a inflação) do mundo, à frente de México, Colômbia, Chile e Indonésia. Levantamento feito pela gestora de fundos de investimento Infinity mostra que por aqui os juros reais são de 8,22% ao ano, considerando a inflação e os juros futuros dos próximos 12 meses.

O Brasil também se beneficia da má situação de concorrentes que disputam espaço no portfólio do investimento estrangeiro. A Argentina está em meio a uma crise e foi obrigada a renegociar o acordo que tinha com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A Rússia está às voltas com uma campanha militar problemática na Ucrânia, que já lhe rendeu sanções internacionais e pode render novas. E a Turquia tem uma política econômica errática.

Outro fator que favorece o Brasil é a distância dos principais problemas geopolíticos: além da guerra na Ucrânia, há as tensões entre os Estados Unidos e a China e entre esta e Taiwan.

Quais as tendências para o investimento estrangeiro no Brasil em 2023

Para o diretor da Nova Futura Asset, Pedro Paulo Silveira, uma combinação de três percepções pode manter o mercado otimista por mais tempo. São elas:

  • o Brasil agiu rápido para controlar a inflação e teve sucesso;
  • o país está superando as expectativas em relação ao crescimento e à política fiscal; e
  • o resultado eleitoral – qualquer que seja – será bom para o país.

Li, da XP, também acredita que os ativos brasileiros possam seguir em uma tendência de redução de risco e valorização nos próximos meses.

Para ela, os trunfos do país são a grande exposição na bolsa brasileira aos setores que os investidores querem no momento, como commodities e bancos, o valor atraente das ações e as altas taxas de juro na renda fixa.

Beyrutti, da Guide, acredita que é preciso esperar o cenário pós-eleições. Um dos fatores que pesam é o menor otimismo em relação à economia mundial, marcada por alta inflação e crescimento menor, que poderia levar a uma migração dos investidores a papéis mais seguros, como os títulos do Tesouro americano.

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