• Carregando...
O serviço dos terapeutas de lição de casa não é barato. Em Nova York, os pais geralmente pagam entre U$ 200 e U$ 600 por 50 a 75 minutos. | SARAH BLESENER/NYT
O serviço dos terapeutas de lição de casa não é barato. Em Nova York, os pais geralmente pagam entre U$ 200 e U$ 600 por 50 a 75 minutos.| Foto: SARAH BLESENER/NYT

Um certo domingo, Bari Hillman, que trabalha durante a semana como psicóloga em uma clínica de saúde mental de Nova York, sentava-se à uma mesa de plástico, no quarto de uma adolescente de 16 anos em Manhattan, seus pés descalços repousavam sobre um tapete branco macio. Hillman estava ajudando uma aluna de escola particular a gerenciar sua preocupação em relação a um longo projeto de redação. A garota colou o esboço do projeto na parede, acima da mesa, incentivada por Hillman. O esboço foi projetado para servir como um lembrete de que o trabalho tinha uma data limite e para servir de incentivo com a marcação do progresso.

Hillman falou sobre como a preocupação pode se transformar em uma fuga tóxica, sobre o poder catártico da respiração profunda e da natureza calmante que uma lista de tarefas tem. Hillman, 30 anos, integra um novo nicho de US$ 100 bilhões na indústria de aulas particulares. Ela não é nem uma professora tradicional, nem uma terapeuta no sentido estrito da palavra, mas um amálgama dos dois. Os “terapeutas de lição de casa”, como são chamados agora, oferecem ajuda acadêmica e apoio emocional conforme necessário. Por Skype, e-mail, SMS e durante as caras sessões individuais, eles acalmam alunos ansiosos, tentando trazê-los de volta ao caminho da realização.

O serviço não é barato. Em Nova York, os pais geralmente pagam entre U$ 200 e U$ 600 para sessões individuais agendadas, que vão de 50 a 75 minutos. Isso sem contar as pesadas taxas que pais e mães nova-iorquinos já pagam para incentivar o progresso dos filhos, que vai desde coaching para testes no jardim de infância, até aulas em matérias específicas, como a preparação para o teste SAT e o auxílio com as redações de faculdade.

Os professores se disponibilizam para intervenções de última hora antes das provas, ou na produção de projetos que já têm prazo definido. Eles respondem a e-mails e mensagens de texto, muitas vezes enviando seus próprios, incentivando alunos a terminar alguma tarefa ou a manter um espírito positivo, antes e durante grandes exames.

LEIA TAMBÉM: Vocação, mercado ou influência familiar: o que importa na escolha da profissão?

Alguns até fazem os adolescentes criarem playlists no Spotify para expressarem seus sentimentos em relação aos deveres de casa. Outros distribuem massinhas perfumadas, conhecidas como massa terapêutica, feita para acalmar, ou usam meditação e técnicas de atenção plena para reorientar as energias na busca por uma pontuação 4.0 ou superior no SAT.

Terapeutas de lição de casa muitas vezes têm empregos como clínicos em hospitais, centros de aconselhamento, ou suas próprias práticas individuais. À noite, trabalham com alunos estressados, criando orientações de estudos juntos, ajudando-os a resolver problemas de álgebra, organizando fichários, desamassando os cantos dos cadernos e fazendo “análise dos erros” quando vão mal em algum teste de biologia. Mas também ajudam as crianças a lidar com as questões psicológicas que os deixam travados, usando técnicas de terapias comuns como entrevistas motivacionais e terapia da exposição, uma estratégia usada com vítimas de stress pós-traumático.

Ariel Kornblum, psicóloga de crianças e adolescentes, trabalha de seu escritório que fica no oeste da cidade, no Manhattan Psychology Group. Quando não está administrando sessões clássicas de terapia, normalmente dá conselhos a estudantes do ensino fundamental e médio cuja incapacidade de organizar o trabalho escolar está prejudicando suas notas e sua autoestima, disse ela. Kornblum ajuda-os a desenvolver estratégias de classificação, planejamentos viáveis e horários de estudo, enquanto também desafia alguns dos pensamentos negativos existentes em suas jovens cabeças.

“Muitos de meus clientes podem dizer: ‘Fiz meu dever de casa. Mas esqueci de entregar muitas vezes. Minhas notas estão baixando. E agora me sinto mal comigo mesmo’. O que fazemos é chegar ao núcleo desse problema”, contou ela.

LEIA TAMBÉM: Foi demitido e está procurando emprego? Saiba como contar isso numa entrevista

Não se sabe oficialmente quantos profissionais fazem este trabalho híbrido em Nova York. Mas os centros de aulas particulares dizem que a demanda só cresce.

O Brooklyn Learning Center lançou seu programa de terapia de lição de casa em 2001, com um terapeuta-professor em seu consultório no Brooklyn Heights. Desde então, abriu novos centros em Park Slope e TriBeCa e dispõem de 12 terapeutas de lição de casa, 10 em tempo integral.

Anna Levy-Warren, psicoterapeuta nova-iorquina que começou a dar assistência individual em 2005, agora tem mais de 50 professores com diplomas nas áreas de saúde mental que se espalham por toda a cidade nas noites dos dias úteis e nos fins de semana. Eles também oferecem sessões por Skype.

E há 10 anos, a Inspirica, empresa de aulas particulares que cobra caro, baseada na cidade de Nova York e especializada em preparação individual para grandes testes, não tinha qualquer professor que estivesse relacionado à área de trabalho social ou psicologia. A fundadora e executiva-chefe, Lisa Jacobson, diz que agora são oito profissionais em seu escritório de Nova York.

“Hoje, tudo é pensado para tentar fazer as pessoas se acalmarem”, disse Jacobson.

O foco na saúde emocional dos alunos é parte de um movimento maior na educação. Atualmente, a maioria dos educadores é treinada em desenvolvimento social-emocional, e os avanços de tecnologias que mostram imagens cerebrais têm indicado como a cognição e as emoções estão estreitamente ligadas.

Um trabalho desenvolvido pela professora de psicologia da Universidade de Stanford, Carol Dweck, sobre “growth mindset” – a importância de acreditar que você pode aprender e mudar – e por Angela Duckworth, da Universidade da Pensilvânia, sobre coragem, ou a capacidade de superar obstáculos, vem convencendo pais e educadores de que podem aumentar a motivação das crianças por meio de técnicas precisas.

Além disso, administradores de escolas dizem que houve um aumento notável no número de jovens que chegam com avaliações neuropsicológicas, um conjunto de testes extenso e caro, frequentemente usados para determinar por que um estudante está lutando para conseguir manter um bom desempenho. Os resultados incluem informações sobre dificuldades de aprendizagem, como transtorno de déficit de atenção e dislexia, mas também o estado emocional do aluno.

Ellen B. Braaten, diretora adjunta do The Clay Center for Young and Healthy Minds em Boston, diz que a chegada desse novo tipo de médicos/treinadores não é exclusiva de Nova York, mas também está encontrando terreno em áreas ao redor de Boston, Filadélfia, Los Angeles e no norte da Califórnia, onde a pressão sobre os jovens para ter sucesso é elevada e a “terapia não é estigmatizada”.

Os terapeutas de lição de casa podem ter que lidar com muito drama.

Leah Kesselman, psicóloga de 28 anos que trabalha na Beyond BookSmart, empresa com sede em Bosto, e dezenas de coaches na área de Nova York, diz que teve que lidar com diversos alunos que lhe disseram coisas do tipo “Saia daqui” ou “Não precisamos de você”. Para acalmá-los, ela às vezes sugere alguns minutos de jogos de videogame ou as playlists do Spotify.

Levy-Warren, psicoterapeuta de Nova York, diz que trabalhou com uma garota que chorou porque tinha recebido um “B” em seu trabalho. Para ajudá-la, ela usou o processo de “resignificação”, uma técnica popular de terapia cognitivo-comportamental, identificando o que o conceito “B” simbolizava para a aluna e ajudando-a a desenvolver uma visão mais positiva em relação a ele.

LEIA TAMBÉM: Brasileiro vai deixar de empreender por necessidade em 2018, aponta economista-chefe do Santander

Mellora Ansbro, recém-graduada na Universidade Johns Hopkins, começou a trabalhar com Levy-Warren quando era caloura na escola particular do Bronx chamada Riverdale Country School. Durante as reuniões, que às vezes começavam às nove da noite, Levy-Warren lhe ensinava a escrever um ensaio e a tirar melhores notas, além de como lidar com a vida social da escola e com os pais. Seis anos mais tarde, pouco depois de se formar na faculdade e ansiosa com a vida, Ansbro, agora com 24 anos, contratou Levy-Warren novamente.

“Eu estava pirando. Foi uma grande transição e não me sentia preparada”, disse ela.

Mais de um ano e meio depois, Levy-Warren ajudou-a a bolar um plano de estudo para o GRE, a se inscrever em um estudo de pós-graduação e a afastar preocupações sobre o que ela deve e não deve estar fazendo com sua vida. Além disso, tenta também animar Ansbro quando episódios ocasionais de preocupação e depressão aparecem.

Holly Schiffrin, professora de Ciências Psicológicas da Universidade de Mary Washington em Fredericksburg, Virgínia, que pesquisa a depressão e o desenvolvimento de adolescentes, acha que faz sentido um professor que ajude jovens com pouca autoconfiança e que treine habilidades de estudo.

“Mas deve haver um plano posterior para que se tornem adultos totalmente funcionais e independentes”, disse ela.

São bolsas para cursos na área de ciência de dados, também disponíveis em português. Não é necessário ter experiência prévia para participar❗ Veja como participar ➡️//bit.ly/2H2u649

Publicado por Vida Financeira e Emprego em Terça-feira, 17 de abril de 2018
0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]