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Entre janeiro e novembro do ano passado, o porcentual dos brasileiros que se desligou das empresas e trocou de emprego por decisão própria aumentou. | Jonathan CamposGazeta do Povo
Entre janeiro e novembro do ano passado, o porcentual dos brasileiros que se desligou das empresas e trocou de emprego por decisão própria aumentou.| Foto: Jonathan CamposGazeta do Povo

Sem chances de crescer profissionalmente na empresa em que trabalhava, o administrador Flávio Caires, de 30 anos, decidiu trocar de emprego, apesar de a recuperação econômica do País ainda não ter se consolidado. Mandou currículos e esperou seis meses até que a oportunidade ideal aparecesse. No início de dezembro, deixou uma montadora para trabalhar em uma indústria do setor de bebidas.

"Juntei a fome com a vontade de comer. Senti que o mercado de trabalho voltou a aquecer e comecei a mandar meu currículo para algumas oportunidades que apareciam", diz Caires. "Foram seis meses procurando e agora calhou de encontrar a oportunidade que eu queria."

Os sinais ainda tímidos de melhora do mercado de trabalho mostram que Caires não está sozinho. Entre janeiro e novembro do ano passado, o porcentual dos brasileiros que se desligou das empresas e trocou de emprego por decisão própria aumentou. No período, 21,3% dos desligamentos registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) foram espontâneos. No mesmo período de 2016, foram 19,7%.

O aumento dessa fatia de brasileiros que pede demissão de forma espontânea pode parecer pequeno, mas marca uma importante reversão. Desde 2013, o desligamento voluntário estava em queda.

Na outra ponta, o porcentual dos brasileiros dispensados — com ou sem justa causa — recuou de 64,2% entre janeiro e novembro de 2016 para 62,3% em 2017. Os dados levam em conta apenas os trabalhadores com carteira de trabalho.

"O que se espera é que com o aquecimento da economia ocorra, de fato, o aumento dos desligamentos voluntários. Com a economia crescendo mais, o trabalhador pode correr o risco de mudar de emprego", diz o professor do Insper Sérgio Firpo.

A análise detalhada dos desligamentos por setor mostra que serviços (24,2%) e comércio (22,3%) foram os setores que registraram maior porcentual de demissão espontânea. Na sequência, ficaram indústria (19,9%), agropecuária (18,9%) e construção civil (10,1%).

País deve criar 1 milhão de vagas formais em 2018 

A melhora do mercado de trabalho deve seguir em 2018. A economia deve crescer mais, reaquecendo contratações. E a reforma trabalhista pode trazer profissionais para a formalidade, segundo especialistas. 

Na projeção da Tendências Consultoria Integrada, o saldo positivo do Caged deve ficar em 1 milhão de vagas neste ano. Para a Pnad Contínua, a previsão é que a taxa média de desemprego fique em 12,4%, abaixo dos 12,7% esperados para 2017. 

A explicação para uma queda tímida na Pnad Contínua decorre do movimento esperado de aumento da População Econômica Ativa (PEA). Com a melhora da economia, mais brasileiros devem voltar a buscar emprego, o que limita o recuo da taxa de desemprego. 

O cenário do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) para a taxa de desemprego é igual ao da Tendências: desocupação média de 12,4% e 11,5% no último trimestre. "Há boa chance de o mercado de trabalho surpreender este ano", diz o pesquisador do Ibre/FGV Fernando de Holanda Barbosa Filho. 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem visão mais otimista que a de especialistas consultados. Ele disse ontem que serão criadas cerca de 2,5 milhões de vagas formais em 2018. 

Segundo o ministro, a "continuada divulgação" de bons indicadores da economia mostrará à população que o crescimento econômico seguirá, independentemente do rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Outros sinais de melhora no mercado de trabalho

Ao longo do ano passado, os números do mercado de trabalho foram melhores do que esperado, embora ainda sinalizem que o caminho é longo para que a economia brasileira recupere os empregos destruídos pela crise econômica. 

Até novembro, o Brasil criou quase 300 mil vagas formais de trabalho em 2017, de acordo com o Caged. No mesmo período de 2016, foram fechados 858 mil postos. Pela Pnad Contínua — que engloba trabalhadores formais e informais —, a taxa de desocupação foi de 12% no trimestre encerrado em novembro, um resultado inferior ao verificado no trimestre imediatamente anterior (12,6%).

Outro sinal de que o mercado de trabalho dá sinais de recuperação de fôlego pode ser medido pela taxa de rotatividade, que costuma ser pró-cíclica. Isso quer dizer que, quando o mercado de trabalho fica aquecido, a rotatividade também tende a aumentar, porque ocorre uma abertura maior de vagas de trabalho e, consequentemente, mais admissões. O resultado disso é que o trabalhador consegue trocar de emprego com mais facilidade.

Em 12 meses, até novembro, a taxa de rotatividade medida pela Tendências Consultoria Integrada ficou próxima de 5,1. A taxa está estagnada nesse patamar desde abril, o que sinaliza que o pior momento do mercado de trabalho deve ter ficado para trás.

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