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Alessandra Zonari, Carolina Reis e Andrés Ochoa, da Oneskin | OneskinDivulgação
Alessandra Zonari, Carolina Reis e Andrés Ochoa, da Oneskin| Foto: OneskinDivulgação

Carolina Reis tinha recém-completado 30 anos quando embarcou para os Estados Unidos criar a startup de biotecnologia Oneskin. Ela tinha desenvolvido uma pele humana em laboratório e buscava uma aplicação prática. A empresa agora quer criar o creme rejuvenescedor "perfeito". E aposta que tem tecnologia para isso. 

"Desde a minha graduação eu participava de atividades empreendedoras, como empresas júnior; e o doutorado eu comecei a estruturar um projeto que fosse desenvolver", conta Carolina, que conversou com a Gazeta do Povo de seu escritório na MBC-Biolabs, coworking que reúne mais de 40 startups de biotecnologia, no Vale do Silício. 

A Oneskin trabalha atualmente para comparar os efeitos do retinol (um dos principais ingredientes usados em cosméticos antienvelhecimento) com o de um produto desenvolvido pela startup — ao mesmo tempo em que pesquisa novos compostos relacionados ao envelhecimento. 

Mas a Oneskin não nasceu para vender cremes. A ideia inicial da startup, forjada no processo de aceleração da IndieBio (maior aceleradora de biotecnologia do mundo), era desenvolver uma pele que fosse uma plataforma para testar a eficácia dos produtos cosméticos relacionados ao envelhecimento. 

"A gente foi para a IndieBio com a proposta de reconstruir a pele humana em laboratório para substituir testes em animais. Mas quando chegamos nos Estados Unidos vimos que isso não era uma demanda do mercado. O que faltava em cosméticos era uma validação da eficácia dos produtos antienvelhecimento", explica Carolina. 

A empresa consegue medir a idade da pele com um teste de sequenciamento de DNA. Desta forma é possível medir se um creme é eficaz (consegue tornar o tecido "mais jovem") ou apenas faz marketing. 

Toda a tecnologia empregada na produção da pele tem sido aproveitada no desenvolvimento dos cremes. "A gente consegue entender mais sobre envelhecimento, genes, e isso nos dá muitos insights de como interromper o envelhecimento", explica a empreendedora. 

A Oneskin também desenvolveu uma pele envelhecida, que permite testes com várias faixas de idade. Seus concorrentes, como a L'oreal, só produzem peles jovens. Com peles de diferentes idades, é possível encontrar compostos que funcionem melhor para cada faixa etária. E pensar em produtos segmentados. 

Empreender em biotecnologia no Brasil

Nascida em Senhora de Oliveira, uma cidade de seis mil habitantes na Zona da Mata mineira, Carolina Reis se formou em Bioquímica na Universidade Federal de Viçosa, e fez mestrado e doutorado na mesma área, na Universidade Federal de Minas Gerais. 

Sua ideia nunca foi sair do Brasil. Mas no último ano do doutorado, em 2014, quando começou a peregrinar por eventos de inovação, notou que faltava um pouco de tudo: a economia estava em crise, não havia mentoria nem mercado para absorver produtos de biotecnologia, e o investimento era baixo. 

A aceleração na IndieLab, no primeiro semestre de 2016, foi como correr uma maratona dando tiros de 100 metros. Foram quatro meses com reuniões de segunda a sexta-feira, conversas com potenciais investidores, clientes, e muita pressão dos mentores. 

No início de 2017, a Oneskin recebeu um financiamento seed (semente) de um fundo de venture capital. A empresa não revela o valor, apenas que foi dentro dos padrões do Vale do Silício para esta fase (algo entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões). 

A equipe em São Francisco conta com seis pessoas. São três pesquisadores norte-americanos, além de Carolina e seus co-fundadores, o colombiano Andrés Ochoa e a cientista-chefe Alessandra Zonari, que fez seu doutorado em pele, na UFMG. Outras duas sócias (Mariana Boroni e Juliana Carvalho) ficam no Brasil. 

Em busca do modelo de negócios perfeito

A Oneskin não tem pressa para colocar os produtos no mercado. É a mentalidade do Vale do Silício. Os investidores, principalmente na área de biotecnologia, sabem que vale mais a pena ter um produto bem desenvolvido, que vá direto nos "peixes grandes", do que pressionar pela geração de caixa logo no começo. 

"Aqui você vê empresas como o Facebook, que primeiro tiveram presença no mundo inteiro, para só depois começarem a gerar receita", comenta Carolina. Ela reconhece que fica ansiosa para ver o produto no mercado, receber feedback das pessoas. Mas precisa ter paciência e saber o timing de cada coisa. 

A Oneskin deve fazer uma nova rodada de captação de recursos na fase pré-comercialização. O recurso deve ser utilizado para escalar a produção, expandir as vendas e construir o segmento de varejo da startup. 

Desafio Oneskin 

Para fomentar a pesquisa no Brasil com a lógica de colaboração do Vale do Silício, a OneSkin criou um desafio. A startup vai dar US$ 10 mil para o pesquisador ou empresa que apresente algum resultado científico na área de produtos antienvelhecimento ou rejuvenescimento. 

Algum composto, pesquisa com extrato de planta, qualquer coisa. Além do incentivo à pesquisa e promover o empreendedorismo, Carolina quer prospectar novas parcerias. As informações sobre inscrição vão ser divulgadas no site da Oneskin.

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