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“Equity crowdfunding” é uma mescla de vaquinha virtual com investimento financeiro, em geral utilizado para aplicação em startups | Pixabay
“Equity crowdfunding” é uma mescla de vaquinha virtual com investimento financeiro, em geral utilizado para aplicação em startups| Foto: Pixabay

Numa mistura de vaquinha virtual com aplicação financeira, surgiu no Brasil, há quatro anos, a modalidade conhecida como equity crowdfunding. São investimentos coletivos, feitos pela internet, em geral em uma startup com potencial de crescimento. Levantamento inédito, feito pela Gazeta do Povo, estima que R$ 43,53 milhões já foram captados pela modalidade, em 80 rodadas de negócio. 

Na "vaquinha" tradicional, as pessoas fazem doações em troca de alguma recompensa. O modelo já foi utilizado por muitas startups. A brasileira Vela Bikes, por exemplo, arrecadou pelo Catarse o dinheiro utilizado na fabricação de suas primeiras bicicletas elétricas. Os doadores se converteram em clientes, e receberam as bikes como recompensa. 

O equity crowdfunding é diferente. É um investimento financeiro, que opera pelas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Os aportes têm lances mínimos, muitas vezes de algo em torno de R$ 1 mil. E as empresas que recebem o dinheiro têm um prazo para retornar o valor, de preferência valorizado. 

A CVM criou uma regra específica para o equity crowdfunding em julho de 2017, o que deu novo gás para o setor. Antes, cada financiamento tinha de passar pelo crivo do órgão. Agora é feita uma análise (mais rigorosa) de cada plataforma. Uma vez aprovada, a empresa fica livre para abrir novas rodadas sempre que achar necessário. 

Seis plataformas já tem autorização da CVM para funcionar. Duas são novas, e surgiram na esteira da regulamentação. Outras quatro são pioneiras. Urbe.meStartMeUp, EqseedKria (originalmente Broota) surgiram no mesmo período, por volta de 2014. 

Em quatro anos, entre as regras velha e nova, foram realizadas 80 rodadas de financiamento por este modelo, que captaram R$ 43,53 milhões. O levantamento foi feito pela Gazeta do Povo com base em informações cedidas pelas próprias empresas. 

Para se ter ideia da mudança de ritmo, dos 11 financiamentos já realizados pela plataforma Urbe.me, cinco foram em 2018. A empresa foi uma das primeiras credenciadas pela CVM, em janeiro deste ano. 

Para o CEO da StartMeUp, Rodrigo Carneiro, o período até 2017 foi de "sobrevivência". "Um investidor brincou uma vez: 'não é que vocês empreendem. Vocês criaram as regras para empreender'", diz ele. 

MyFirstIPO é a primeira plataforma focada no investimento em startups a surgir depois da resolução da CVM. A empresa pretende atuar em diferentes tipos de mercado, e agir de forma semelhante à de um fundo de venture capital (capital de risco): colocando não só dinheiro, mas também expertise de negócios para ajudar as empresas investidas a crescer. A primeira rodada deve entrar no ar até o final de junho, estima o CEO, Adriano Miyagi Melito.

Ganho em escala nas rodadas é evidente

Com a regulamentação, o setor de equity crowdfunding começou a crescer em escala. As rodadas entram no ar mais rapidamente, e captando valores mais altos. Só este ano, a Kria já teve três rodadas acima de R$ 1 milhão — foram as primeiras nesta casa. Uma delas, a Cervejaria Leuven, já estuda fazer um novo aporte, na casa dos R$ 4 milhões. 

A EqSeed também fez sua primeira rodada acima de R$ 1 milhão. E pretende arrecadar mais R$ 10 milhões até o final deste ano (o que triplicaria o total investido pela plataforma até hoje). A StartMeUp, que se reestruturou após a regulamentação da CVM, já negocia uma rodada de R$ 2,5 milhões. 

Crowdfunding imobiliário 

A Urbe.me é uma startup gaúcha que utiliza o equity crowdfunding para financiar empreendimentos imobiliários. "Normalmente a gente entra na fase da incorporação, quando o banco ainda não financia a obra", explica Alexandre Oliveira, do marketing empresa. 

Os investidores "emprestam" dinheiro para a incorporadora realizar a obra, que devolve o valor corrigido depois de vender os empreendimento. Existe uma rentabilidade prevista, que pode chegar a 250% do CDI (título bancário que serve como valor de referência para aplicações). Se tudo der errado, a incorporadora é obrigada a devolver um valor mínimo (algo como 130% do CDI), definido em contrato. 

Além da Urbe.me, a recém-criada Glebba também opera no mercado imobiliário. Os sócios são oriundos dos mercados financeiro e de desenvolvimento urbano e queriam criar um produto financeiro para viabilizar loteamentos urbanos. 

O equity crowdfunding caiu como uma luva, "porque dificilmente um loteamento tem uma exposição de caixa maior do que R$ 5 milhões", que é o valor máximo liberado pela CVM, explica Mauricio Carrer, sócio da Glebba. A empresa deve colocar o primeiro loteamento no ar até o final de maio. 

Porta de entrada para investir em inovação 

O equity crowdfunding funciona como uma porta de entrada para investimentos em inovação. Isto porque permite aportes menores do que aqueles feitos por um investidor-anjo individualmente. Além disso, as plataformas fazem uma triagem de bons projetos. 

A EqSeed, que levantou quase R$ 6 milhões em 14 rodadas de investimento, já analisou mais de 1,3 mil startups interessadas em captar dinheiro pela plataforma. Com o aumento do volume, a fintech resolveu criar um processo seletivo. 

No primeiro, finalizado em dezembro, cerca de 500 empresas se candidataram, e oito foram selecionadas. Destas, quatro já finalizaram o crowdfunding, e receberam um total de R$ 2 milhões. O processo seletivo para o segundo semestre de 2018 está com inscrições abertas até o dia 20 de maio. 

Isto acaba por atrair um investidor com o "perfil empreendedor". Em geral jovem, que gosta de inovação e da ideia de investir por uma plataforma digital. E não se importa tanto em aplicar seu dinheiro em um investimento de risco. 

Mas, além disso, todas as plataformas acabam por atrair um "perfil Faria Lima", explica Rodolfo Carneiro, em referência à rua paulistana que concentra muita gente do mercado financeiro tradicional. "Que enxerga o crowdfunding como uma diversificação de investimento". É um público que coloca mais dinheiro e com recorrência. "Ele vai investir em praticamente tudo que a gente colocar no ar". 

Impacto social 

Criada originalmente como Broota, a Kria é a fintech com maior número de rodadas de crowdfunding já realizadas: foram 50, de 2014 para cá. A empresa levantou um total de R$ 18 milhões. Boa parte disso para empresas que geram impacto social. 

Um caso é a +60Saúde, clínica voltada à terceira idade que foi uma das três empresas a captar valor superior a R$ 1 milhão, na plataforma. 

"Fizemos uma pesquisa e descobrimos que 54% dos investidores acreditam que o retorno financeiro é tão importante quanto o impacto social", na hora de comprar cotas de uma empresa, explica Camila Nasser, da área de marketing da Kria. A própria startup conseguiu, em 2016, a certificação B, que valida negócios sustentáveis ambiental e socialmente. 

Próximos passos do setor envolvem mercado secundário

Crescendo em ritmo acelerado, o setor de equity crowdfunding já estuda novas fronteiras. Um deles é o mercado secundário. Algo similar ao que ocorre na compra e venda de ações na bolsa de valores, em que o investidor consegue formar uma carteira e adquirir ações (mesmo que não tenha participado do lançamento da empresa na bolsa). 

Além disso, as fintechs já começam a operar no chamado "white label", que permite a um terceiro sublocar a tecnologia da plataforma. A StartMeUp já teve uma experiência com a aceleradora ACE, e estuda retomar este modelo, no futuro. 

A Kria também trabalha neste modelo. "A gente [permite que a pessoa utiliza] a nossa plataforma, nossa tecnologia e a nossa permissão regulatória", explica Camila Nasser.

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