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Oficina Lab, em São Paulo, com mais de 700 metros quadrados, conta atualmente com 40 residentes coworkers. | Oficina Lab/Divulgação
Oficina Lab, em São Paulo, com mais de 700 metros quadrados, conta atualmente com 40 residentes coworkers.| Foto: Oficina Lab/Divulgação

O conceito de coworking surgiu para designar espaços compartilhados de trabalho, em que o profissional paga uma quantia e pode utilizar os recursos disponíveis, como internet, telefone e salas de reunião. Na última década, o Brasil viu aumentar a oferta de espaços como esses e que, mais recentemente, passaram também a se segmentar. 

Entre os mais novos segmentos estão os coworkings estilo “faça você mesmo”, que agregam espaços como oficinas e ateliês e são especialmente atraentes para profissionais de marcenaria, artesanato, arquitetura, design e moda. São espaços que oferecem ferramentas, maquinário e até estoque para profissionais que não poderiam ter um lugar assim sozinhos em função dos custos.

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Modelo é desafiante e requer coragem empreendedora

É o que conta Djalma Ladim, proprietário do Galpão 85, que funciona em um barracão de 300 metros quadrados na Barra Funda, em São Paulo, e é um coworking focado em marcenaria. Formado em Ciências da Computação, Ladim tinha a marcenaria como um hobby.

“Conhecia este modelo de negócio de viagens que fiz para fora do Brasil e percebi que, na verdade, eu queria ser cliente de um espaço assim, então surgiu o Galpão”, conta. Em 2016, dois anos depois de largar o emprego e embarcar na ideia, ele abriu as portas do estabelecimento. “Foram dois anos de estudo e ainda têm coisas que estamos adaptando, que vamos percebendo conforme o negócio cresce”, explica.

Como funciona um coworking “faça você mesmo”

O Galpão 85 fornece bancadas, ferramentas elétricas e manuais de marcenaria e serralheria, além de permitir a construção de protótipos. Os planos de uso do espaço variam do diário, em que a pessoa paga e tem direito a 8 horas na oficina, a planos de 20 horas, 40 horas ou horas ilimitadas. Estes três últimos permitem que o profissional armazene seu material no local; o primeiro, não. 

Os insumos utilizados na produção também são de responsabilidade de cada cliente. Atualmente, o Galpão tem 15 profissionais residentes, com planos mensais. 

Ladim conta que, a princípio, acreditava que o espaço seria utilizado por pessoas como ele, que tinham a marcenaria como um hobby. “Mas logo percebi que esta era uma parcela menor, cerca de 20%. O público-alvo se mostrou sendo arquitetos e designers, e foi então que também implementamos a possibilidade de prototipagem de móveis”, explica.

Arquitetos e designers também estão entre os que procuram a Oficina Lab, coworking também do ramo de marcenaria. “Mas não são só estes profissionais, nosso foco são profissionais criativos de todas as áreas, sem restrições. É uma comunidade criativa com troca de informações e experiências, com base em experimentação e num processo que vai evoluindo junto com as pessoas, com o que elas pensam e querem construir”, afirma Alex Uzueli, um dos sócios. 

A Oficina Lab surgiu como uma ramificação de um outro projeto de um dos sócios, Daniel Sene, chamado LabMob. Originalmente, o LabMob era um espaço utilizado para fazer seus próprios projetos, mas os custos logo começaram a pesar. Então surgiu a ideia de promover um curso para ensinar as pessoas a fazerem móveis. Isso foi há cinco anos, quando Uzueli foi aluno da segunda turma do curso. 

“Ainda era um negócio menor, mas que aos poucos foi crescendo. Há três anos, então, começamos a conversar e surgiu a ideia de, além dos cursos, também ser um espaço de permanência, e foi quando surgiu a Oficina Lab, em 2015”, conta. Uzueli e Sene tinham sido colegas na faculdade de arquitetura da USP. Além deles, há um terceiro sócio, Alexandre Kelemen.

Localizada em São Paulo, em um espaço que conta com um galpão de 350 metros quadrados e dois andares com salas de aula, o Oficina Lab disponibiliza ferramentas e maquinário.Fernando Stankuns/Oficina Lab

Para participar do coworking da Oficina Lab é preciso fazer antes o principal curso oferecido, de Marcenaria, Projeto e Construção. “Nós ensinamos como utilizar as ferramentas, como projetar, como desenvolver e depois disso abrimos as portas para quem quiser participar do coworking. O treinamento é importante por questões de segurança, e é o momento em que a gente se conhece e construímos vínculo com quem está entrando”, ressalta. 

Além do curso principal, que dura cerca de três meses, há outros que ensinam técnicas específicas e possuem duração menor. “Temos uma curadoria de cursos que está sempre buscando novas parcerias, mas que se conecte com nosso universo. Marcenaria é nosso ponto de partida, dentro dele são várias ramificações”, diz Uzueli.

Localizado em São Paulo, em um espaço que conta com um galpão de 350 metros quadrados e dois andares com salas de aula, o Oficina oferece ferramentas e maquinário e tem, atualmente, 40 coworkers.

“Os horários são agendados e existe uma grade pré-estabelecida com os residentes, em que cada um tem seu horário marcado. Conseguimos colocar até 16 pessoas trabalhando ao mesmo tempo”, explica o sócio. É possível alugar o espaço por apenas um período de 4 horas, dependendo da disponibilidade. Os planos mensais variam conforme o número de horas que o profissional escolher.

Em um coworking “faça você mesmo” o lema é economizar

Além da possibilidade de criar e expandir o network, os coworkings especializados também trazem a grande vantagem de não obrigar quem quer começar a produzir a investir em equipamentos próprios. “O usuário não precisar de um investimento inicial, ou comprar ferramentas, já inicia em um ambiente profissional que oferece tudo isso”, ressalta Djalma Ladim. 

“Não é todo mundo que tem capital para investir em equipamentos para começar seu negócio, são máquinas caras”, concorda Sarah Santos, responsável pelo Bendita Colab, um espaço que reúne artesãos de Curitiba, em funcionamento desde maio de 2016, no bairro Água Verde. 

O espaço surgiu como uma loja colaborativa onde estes profissionais poderiam alugar uma prateleira para vender seus produtos, saindo do circuito restrito de feiras e bazares. “Muitos artesãos não tinham como abrir a própria loja e receber os clientes em casa nem sempre é uma boa ideia”, conta. Quando abriu, o Bendita contava com 12 artesãos e em menos de um mês o número já pulou para 37. Atualmente, 42 artesãos comercializam seus produtos no ambiente e são considerados residentes do coworking.

A ideia de funcionar também como espaço de coworking veio das necessidades que estes artesãos começaram a indicar para Sarah. “Eles chegavam aqui dizendo que estavam com uma encomenda que pedia alguma máquina específica que eles não tinham, ou o equipamento deles tinha dado algum problema, ou o espaço em casa era muito pequeno”, relata. Sarah, que também é artesã, percebeu que o maquinário que ela possuía em casa estava ficando parado, uma vez que ela passou a se dedicar ao funcionamento do Bendita Colab.

“Então resolvemos trazer tudo que estava sendo subutilizado para cá e colocamos em uma das salas da casa como espaço de coworking. O espaço cresceu e já tivemos que adquirir novas máquinas, principalmente de costura”, explica.

O Bendita oferece mesas grandes, cortadores elétricos de tecido, máquinas de costura industrial, overloque e portáteis, máquina para sublimação, réguas de corte para papel, máquinas de cobrir botão, colocação de ilhós, canetas para colagem de pedrarias, ponto de solda para metais, entre outros. As despesas do local são divididas entre os artesãos residentes igualmente. “Para eles, não cobramos o uso do coworking, apenas se quiserem exclusividade em alguma máquina por determinado período de tempo, aí são R$ 15 a hora”. Quem é de fora paga também R$ 15 a hora e pode usar todos os equipamentos disponibilizados. “Em alguns locais, você paga pela máquina que vai usar e em algumas delas, como a de sublimação, o preço é alto. Pagando por hora fica bem mais viável para o artesão”, explica Santos.

Segmentação traz várias possibilidades para os coworkings

Fabio Uehara, sócio da Lab Fashion, coworking voltado para profissionais da moda, acredita que por trás deste tipo negócio há uma grande vontade de mudar a maneira como se produz e se consome no mundo. “Surgimos como um negócio social, que não visa apenas o lucro, mas principalmente ter impacto social”, considera. “Na moda, temos vários problemas sócio-ambientais, como trabalho escravo, poluição, descarte de resíduo têxtil, uso intensivo de água e demais recursos naturais de forma irresponsável. A Fashion Lab busca repensar estes modelos e quem trabalha conosco também pensa desta maneira”, conta. 

Criado em setembro de 2015 por Uehara e seu sócio, Diogo Hayashi, o primeiro coworking de moda de São Paulo oferece sala de costura com máquinas industriais para prototipagem, mesa de corte, banco de tecido e manequins. Além disso, conta também com espaços para reuniões e um estúdio fotográfico que os coworkers podem alugar a parte para fazerem ensaios fotográficos com seus produtos. “Como diferencial também ajudamos na divulgação dos produtos dos profissionais que atuam no nosso espaço”, acrescenta Uehara. 

A Lab Fashion trabalha com planos mensais, mas também é possível alugar o espaço apenas para uma diária. Também existe um plano fidelidade de seis meses, no qual é possível utilizar o espaço no dia e horário que quiser. 

Modelo é desafiante e requer coragem empreendedora

De acordo com o consultor do Sebrae, Rafael Tortatto, o grande diferencial dos coworkings, em geral, é a possibilidade de se criar uma rede de contatos. “Ali dentro acabam surgindo negócios, parceiros para trabalhos maiores. A rede ajuda a fortalecer profissionais individualmente e também empresas que estão começando”, diz. Neste novo modelo de coworking, segundo Tortatto, isso pode ir mais longe. “Os profissionais passam a não se enxergarem como concorrentes de um mesmo mercado, mas como parceiros que podem desenvolver projetos juntos”, aponta. 

Mas a convivência não é fácil. Sarah Santos, do Bendita Colab, costuma brincar que o investimento inicial que teve foi um só: coragem. “É um modelo inovador e é um desafio diário não só financeiro, mas também cultural. Conviver com outras pessoas, compartilhar, isso tudo também é desafiador em uma sociedade individualista”, afirma. 

Uzueli concorda. “Estamos contruindo uma nova cultura, mudando o jeito como as pessoas vivem em comunidade. Sempre que se trabalha em inovação, com poucas referências de negócios como o seu, corre-se um risco grande”, reforça. A viabilidade financeira também pesa para estes empreendedores. 

“É difícil ter um espaço que trabalhe ideias e conceitos novos, e torna-lo financeiramente viável. Mas olhamos para um norte e seguimos. É um caminho lento mas as coisas vão acontecendo. Estamos há 3 anos e nada foi simples, sempre foi batalhado”, acrescenta.

Uehara conta que a Lab Fashion também passa por dificuldades financeiras, ainda mais por focar em profissionais que tenham a mesma pegada social que a empresa propõe e que, muitas vezes dispõe de recursos bem restritos. “Muitos chegam aqui com um sonho na cabeça e nada no bolso. Mas se vemos que compram nossa ideia, nós apoiamos, mesmo que isso traga dificuldades financeiras. Nos últimos meses, ficamos no vermelho”, revela. 

“Em uma cidade competitiva como São Paulo, temos tido dificuldades. Mas está em nossos planos expandir para outras capitais, já estamos negociando com Belo Horizonte e Salvador uma espécie de franquia social”, conta. Os pólos têxteis, como Cianorte, no Paraná, também estão na mira da Lab Fashion. “Se conseguirmos chegar mais perto dos locais onde estão as fábricas, o nosso impacto social pode ser ainda maior nos próximos anos”, considera. 

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